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Fabrício, que ainda não estava suficientemente castigado e que, além disto, começava a gostar seu tantum da Moreninha, se dirigiu com D. Joaninha para o lado em que ela se achava.

- É decididamente o que eu pensava, disse Fabrício, quando se viu ao pé de D. Carolina; e dirigindo-se a D. Joaninha: sim... sua bela prima ama as rosas, exclusivamente.

- Conforme as ocasiões e circunstâncias, respondeu a menina.

- Poderia eu merecer a honra de uma explicação? perguntou Fabrício.

- Com toda a justiça e, continuou D. Carolina rindo-se, tanto mais que foi a V. S.ª que me dirigi.

Eu queria dizer que, entre um beijo-de-frade ou um cravo-de-defunto e uma rosa, não hesito em preferir a última.

Fabrício fingiu não entender a alusão e continuou;

- Todavia não é sempre bem pensada semelhante preferência; a rosa é como a beleza: encanta mais espinha; V. S.ª o sabe, não é assim?

- Perfeitamente, mas também não ignoro que a rosa só espinha quando se defende de alguma mão impertinente que vem perturbar a paz de que goza; V. S.ª o sabe, não é assim?

- Oh! então a Sra. D. Carolina foi bem imprudente em quebrar o pé dessa rosa com que brinca, expondo assim seus delicados dedos; e bem cruel também em fazê-la murchar de inveja, tendo-a defronte de seu formoso semblante.

- Pela minha vida, meu caro senhor! nunca vi pedir uma rosa com tanta graça: quer servir-se dela?

- Seria a mais apetecível glória...

- Pois aqui a tem... Querida prima, nada de ciúmes.

E Fabrício, recebendo o belo presente, em vez de olhar para a mão que o dava, atentava em êxtase o rosto moreno e o sorrir malicioso de D. Carolina. Ao momento de se encontrar a mão que dava e a que recebia, Fabrício sentiu que lhe apertavam os dedos; seu primeiro pensamento foi crer que era amado; mas logo se lhe apagou esse raio de vaidade, pois que ele retirou vivamente a mão, exclamando involuntariamente:

- Ai! feri-me!...

Era que a travessa lhe havia apertado os dedos contra os espinhos da rosa. Mas a flor tinha caído na relva: Fabrício, já menos desconcertado, a levantou com presteza, e, encarando a irmã de Filipe, disse-lhe, em tom meio vingativo:

- Foi um combate sanguinolento, ma ganhei o prêmio da vitória.

- Pois feriu-se?... perguntou D. Carolina, chegando-se com fingido cuidado para ele.

- Nada foi, minha senhora: comprei uma rosa por algumas gotas de sangue... valeu a pena.

- Maldita rosa! exclamou a Moreninha, teatralmente... maldita rosa! eu te amaldiçôo!...

E dando um piparote na inocente flor, a desfolhou completamente; não ficou na mão de Fabrício mais que o verde cálice. D. Carolina correu para junto de sua digna avó; o pobre estudante ficou desconcertado.

- E esta! murmurou ele, enfim.

- Foi muito bem feito! disse D. Joaninha, cheia de zelos e dando-lhe um beliscão, que o fez ir às nuvens.

- Perdão, minha senhora... seja pelo amor de Deus! exclamou Fabrício, que se via batido por

todos os lados.

No entanto começava a declinar a tarde; uma voz reuniu todas as senhoras e senhores em um só ponto: serviu-se o café num belo caramanchão; mas, como fosse ele pouco espaçoso para conter tão numerosa sociedade, aí só se abrigaram as senhoras, enquanto os homens se conservavam na parte de fora.

Escravas decentemente vestidas ofereciam chávenas de café fora do caramanchão, e, apesar disse, D. Carolina se dirigiu com uma para Fabrício, que praticava com Augusto.

- Eu quero fazer as pazes, Sr. Fabrício; vejo que deve estar muito agastado comigo e venho trazer-lhe uma chávena de café temperado pela minha mão.

Fabrício recuou um passo e colocou-se à ilharga de Augusto: ele desconfiava das tenções da menina; sua primeira idéia foi esta: o café não tem açúcar.

Então, começou entre os dois um duelo de cerimônias, que durou alguns instantes; finalmente, o homem teve de ceder à mulher. Fabrício ia receber a chávena, quando esta estremeceu no pires... D.

Carolina, temendo que sobre ela se entornasse o café, recuou um pouco. Fabrício fez outro tanto: a chávena, inda mal tomada, tombou: o café derramou-se inopinadamente. Fabrício recuou ainda mais com vivacidade, mas, encontrando a raiz de um chorão que sombreava o caramanchão, perdeu o equilíbrio e caiu redondamente na relva.

Uma gargalhada geral aplaudiu o sucesso.

- Fabrício espichou-se completamente! exclamou Filipe.

O pobre estudante ergueu-se com ligeireza, mas, na verdade, corrido do que acabava de sobrevir-lhe: as risadas continuavam, as terríveis consolações o atormentavam; todas as senhoras tinham saído do caramanchão e riam-se, por sua vez, desapiedadamente. Fabrício muito daria para ser livrar dos apuros em que se achava, quando de repente soltou também a sua risada e exclamou:

- Viva as calças de Augusto!

Todos olharam. Com efeito, Fabrício tinha encontrado um companheiro na desgraça: Augusto estava de calças brancas, e a maior porção de café entornado havia caído nelas.

Continuaram as risadas, redobraram os motejos. Duas eram as vítimas.

12

Meia Hora Embaixo da Cama

Não tardou que Filipe, como bom amigo e hóspede, viesse em auxílio de Augusto. Em verdade que era impossível passar o resto da tarde e a noite inteira com aquela calça, manchada pelo café; e, portanto, os dois estudantes voaram à casa. Augusto, entrando no gabinete destinado aos homens, ia tratar de despir-se, quando foi por Filipe interrompido.

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