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- Eu rogo que daqui a meia hora se vá receber a minha resposta na gruta do jardim.

- Quererás consultar a fonte? Pois bem, iremos.

D. Carolina saiu com ar meio acanhado e meio maligno. Passados alguns instantes a Sra. D.

Ana, como quem estava certa do resultado da meia hora de reflexão, e já por tal podia gracejar com os noivos, disse a Augusto:

- O Sr. não quer refletir também no jardim?

O estudante não esperou segundo conselho e para logo dirigiu-se à gruta. D. Carolina estava sentada no banco de relva, e seu rosto, sem poder ocultar a comoção e o pejo que lhe produziu o objeto de que se tratava, tinha, contudo, retomado o antigo verniz do prazer e malícia. Vendo entrar o moço disse:

- Eu creio que ainda se não passou meia hora.

- Ah! podia eu esperar tanto tempo?...

- Acaso veio perguntar-me alguma coisa?...

- Não, minha senhora, eu só venho ouvir a minha sentença.

- Então... pede-me para sua esposa?...

- A senhora o ouviu há pouco.

- Pois bem, Sr. Augusto, veja como verificou-se o prognóstico que fiz do seu futuro! Não se lembra que aqui mesmo lhe disse “que não longe estava o dia em que o Sr. havia de esquecer sua mulher”?

- Mas eu nunca fui casado... murmurou o estudante!...

- Oh! isso é uma recomendação contra a sua constância!...

- E quem tem culpa de tudo, senhora?

- Muito a tempo ainda me lança em rosto a parte que tenho na sua infidelidade, pois, eu emendarei a mão agora. O senhor há de cumprir a palavra que deu há sete anos!

Augusto recuou dois passos.

- O senhor é um moço honrado, continuou a cruel Moreninha, e, portanto, cumprirá a palavra que deu, e só casará com sua desposada antiga.

- Oh!... agora já é impossível!

- Ela deve ser uma bonita moça!... teria razão de queixar-se contra mim, se eu roubasse um coração que lhe pertence... até por direito de antiguidade; ora eu, apesar de ser travessa, não sou má, e, portanto, o senhor só será esposo dessa menina.

- Jamais!

- Juro-lhe que há de sê-lo.

- E quem me poderá obrigar?

- Eu, pedindo.

- A senhora?

- E a honra, mandando.

- Para que, pois, animou o amor que pela senhora sinto?...

- Para satisfazer as minhas vaidades de moça, somente para isso. Eu o ouvi gabar-se de que nenhuma mulher seria capaz de conservá-lo em amoroso enleio por mais de três dias, e desejei vingar a injúria feita ao meu sexo. Trabalhei, confesso que trabalhei por prendê-lo; fiz talvez mais do que devia, só para ter a glória de perguntar-lhe uma vez, como agora o faço: “Então, senhor, quem venceu: o homem ou a mulher?...”

- Foi a beleza.

- Porém já passou o tempo do galanteio, e eu devo lembrar-lhe o dever que com a paixão esquece. Escute: na idade de treze anos o senhor amou uma linda e travessa menina, que contava apenas sete.

- Já a senhora em outra ocasião me disse isso mesmo.

- Junto ao leito de um moribundo jurou que havia de amá-la para sempre.

- Foi um juramento de criança.

- Embora, foi um juramento; trocou com ela aí mesmo prendas de amor, e quando a menina lhe apresentar a que recebeu e lhe pedir a que lhe ofereceu e o senhor aceitou?...

- Ah! senhora!...

- Quando o velho moribundo, dando-lhe o breve de cor branca disse: tomai este breve, cuja cor exprime a candura da alma daquela menina; ele contém o vosso camafeu; se tendes bastante força para ser constante e amar para sempre aquele belo anjo, dai-lho, para que ela o guarde com desvelo. Por que deu o senhor o breve à menina?...

- Porque eu era um louco, uma criança?

- E nem ao menos se lembra de que o velho disse com voz inspirada: “Deus paga sempre a esmola que se dá ao pobre!... lá no futuro vós o sentireis”? Não tem o senhor esperança de ver realizar-se essa bela profecia? não se lembra de ouvi-la? Pois ela soou bem docemente no meu coração quando às escondidas, a escutei repetida nesta gruta por seus lábios.

- Oh! mas por que Deus não me prendeu a essa menina nos laços indissolúveis, antes que eu visse o lindo anjo desta ilha?

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