O Padre e o Sacristão começam a rezar. O Bispo ergue a cabeça e quer sair com dignidade, mas as pernas lhe tremem de tal modo que ele vai tropeçando.
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SEVERINO
Sustente as pernas, Senhor Bispo! Que vergonha, chega dá desgosto se matar um homem desse! Vá, vá logo!!
O Bispo sai pela esquerda. Severino faz um aceno para o Cangaceiro. Este sai, atrás do Bispo.
Um tiro. Severino baixa a cabeça afirmativamente, sorrindo com a eficiência da execução.O
Cangaceiro reaparece, fazendo um gesto horizontal e cortante com a mão.
SEVERINO
Senhor Padre, pela ordem, é a sua vez.
PADRE, descobrindo o rosto.
Pode cuidar logo do sacristão.
SACRISTÃO
Nada disso, a vez é do Senhor.
SEVERINO
Para não haver discussão, vão os dois de uma vez.
PADRE, a João Grilo.
Tudo isso por sua culpa, com suas histórias de cachorro bento e cachorro enterrado!
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JOÃO GRILO
Cachorro bento é você. Eu não digo que sou sem sorte mesmo?
Aqui desgraçado, aperreado, me preparando para morrer, ainda aparece Padre João para me chamar de cachorro! Cachorro é
você!
Com a raiva, Padre João se esquece do medo e sai rapidamente, mas o Sacristão fica.
SEVERINO
Que é isso, quer deixar o padre sem poder rezar o ofício?
SACRISTÃO
O ofício? Que ofício, o dos mortos?
SEVERINO
Nada, o do casamento. Vou casar vocês dois com a morte. Ra, ra, essa foi boa!
SACRISTÃO, sem gosto.
Foi ótima!
SEVERINO
Vá atrás de seu patrão e nunca mais se esqueça aqui do padre que os casou.
CANGACEIRO
E nem do sacristão.
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O Sacristão sai. Dois tiros, mesma cena entre Severino e o Cangaceiro.
FRADE
Agora, eu?
SEVERINO