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Apresentação
O clássico é inevitável, algo que não podemos conhecer apenas de ouvir falar. Mesmo quando não nos identificamos com ele, a experiência de conhecê-lo é válida e serve como referencial até mesmo para o posiciona-mento contrário.
Quando se trata de livros, nada pode esgotar ou substituir os clássicos. Eles são indispensáveis para a construção da identidade nacional: por meio deles é possível conhecer a herança cultural e a alma coletiva de uma sociedade.
Segundo Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.
Podemos extrapolar e dizer que os sonhos de uma nação se tecem em sua literatura. A cada nova leitura dessas obras, os sentidos ali registrados se renovam, iluminando o passado, contrastando-se com o presente e enrique-cendo as aspirações para o futuro. Assim, mais que a história, a literatura é o testemunho palpitante de um povo.
É por esta razão que a Série Prazer de Ler traz os grandes clássicos disponíveis em domínio público. Nela, são contemplados os principais títulos dos maiores autores brasileiros. A Edições Câmara busca, dessa forma, con-tribuir com o desenvolvimento da cultura nacional, compartilhando o nosso patrimônio literário com uma roupagem moderna para leitores de todas as faixas etárias.
Os títulos da série estão disponíveis na Livraria da Câmara (livraria.
camara.leg.br), onde é possível comprar a obra impressa ou fazer download gratuito do seu formato digital. Além disso, essas publicações podem ser baixadas nas lojas Amazon, Google, Apple e Kobo.
Boa leitura!
Edições Câmara
MACHADO DE ASSIS
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Machado de Assis: pelos subterrâneosda condição humana
O século XIX talvez tenha sido um dos momentos mais decisivos da história da humanidade. Século de grandes transformações. Queda de impérios corroídos pelos gritos de identidade e liberdade. Avanços imponderáveis nas ciências, assim como mudanças radicais em todas as esferas artísticas.
Particularmente no Brasil, visto que sua independência ocorreu, oficialmen-te, em 1822, as mudanças e os anseios, em todos os sentidos, deram forma a uma luta incansável por novos valores e uma literatura que, realmente, desse conta de uma identidade mais brasileira. Foi em tal clima que nasceu Joaquim Maria Machado de Assis em 1839 na cidade do Rio de Janeiro. Fale-ceu na mesma cidade em 1908.
Machado de Assis foi um homem plural. Atuou em diversas esferas públicas na cidade do Rio de Janeiro. Grande jornalista e um dos principais responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras em 1897, assim como eleito, por unanimidade, seu primeiro presidente. Suas posições, em inúmeros segmentos, eram firmes e, em geral, influenciavam a atmosfera política, cultural e social da época.
O seu conjunto de obras, se optarmos por uma tipologia textual didáti-ca, abrange crônicas, poesias, ensaios, peças de teatro, contos e romances.
Como afirma Marco Lucchesi:1
Cada um de nós traz uma ideia de Machado.
Ideia vaga, talvez, difusa, mas eminentemente sua, apaixonada e intrans-ferível. Como se guardássemos um fino véu a se estender sobre a cidade do Rio de Janeiro.
Paisagem pela qual vamos fascinados e diante de cuja natureza suspiramos.
Todo um rosário de ruas e de igrejas – Mata-cavalos, Santa Luzia, Latoeiros e Candelária. Nomes e sonoridades perdidas. Morros derrubados. Praias ausentes. Tudo o que perdemos move-se ainda nas páginas de uma cidade-livro.
Cheia de árvores e de contradições, por vezes dolorosas. Chácaras e quintais 1 LUCCHESI, Marco. Ficções de um gabinete ocidental: ensaios de história e literatura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 97.
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compridos. Aqueles mesmos quintais que assistiram aos amores de Bentinho e Capitu e dentro de cuja educação sentimental nos formamos.
Se “cada um de nós traz uma ideia de Machado”, quase impossível não imaginá-lo um homem profundamente apaixonado pela vida. Apaixonado pela humanidade e comprometido com o Brasil. Haveria uma grande lacuna na memória coletiva de nosso país se o conjunto de obras de Machado não se fizesse presente. Nem por isso deixou de lado os seus amores e as suas paixões pessoais:2
2 de março de 1869
Minha querida Carolina,
Recebi ontem duas cartas tuas, depois de dois dias de espera. Calcula o prazer que tive, como as li, reli, e beijei! A minha tristeza converteu-se em súbita alegria. Eu estava tão aflito por ter notícias tuas que saí do Diário à uma hora para ir a casa e com efeito encontrei as duas cartas, uma das quais deveria ter vindo antes, mas que, sem dúvida, por causa do correio, foi demorada. [. .]
Obrigado pela flor que mandaste; dei-lhe dois beijos como se fosse a ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua alma.
O fragmento da carta em questão, de Machado de Assis para Carolina Augusta Xavier de Novais, nascida em Portugal, ilustra, em grande parte, sua paixão por aquela que ficaria ao seu lado até a morte.
No entanto, como via de regra ocorre com a maioria das biografias, há muitas inverdades a respeito da vida de Machado de Assis. Nas palavras es-clarecedoras de Marco Lucchesi: