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N'esta tribuna não temo as responsabilidades, por que respondo eu pelo que escrevi.

No theatro pode o genio da oppressão embargar-me a voz; mas na imprensa e no comicio ha de ella soltar-se sempre livre e desembaraçada, em quanto m'a não

asphyxiarem os algozes da liberdade!

Á HORA DO CRIME

PHANTASIA DRAMATICA

PERSONAGENS

D. Emilio Castellar--chefe do partido republicano hespanhol.

D. Ramon Viegas--correligionario de D. Emilio.

D. Carlos Viegas--correligionario de D. Emilio.

Martinez--ajudante do general Prim.

Izabel--filha de D. Ramon e noiva de Martinez.

Pablo--criado de D. Ramon.

Correligionarios de D. Emilio

A acção passa-se em casa de D. Ramon, rua de Alcalá, em Madrid, na noute do assassinato de Prim.

Salla espaçosa, guarnecida com modesta elegancia. Porta ao fundo e lateraes.

Janella. Ao meio da scena uma mesa e uma cadeira, e aos lados duas ordens de cadeiras.

SCENA I

Izabel e Martinez

IZABEL

( A Martinez, que se dispõe a sahir ) Que precipitação é essa, meu querido?! Não sei o que me vaticina o coração! Desejava que não sahisses hoje d'aqui!

MARTINEZ

Louca! Poucos dias faltam para a realisação da tua e da minha ventura!

Terminadas as festas da coroação serás minha esposa á face de Deus.

IZABEL

E se tu não voltares, Martinez? Se os inimigos do novo rei, e elles são tantos!

empregarem um recurso extremo para impedir que elle cinja a corôa e empunhe o sceptro de S. Fernando?

MARTINEZ

Que vãos terrores te obsecam o espirito! Ignoras acaso que o general cobre Amadeu, e que entrando em Hespanha o novo rei sob a egide de Prim, ha de chegar inculume, por entre o respeito e o enthusiasmo das multidões, até aos degraus do throno que lhe conquistámos em Alcolêa?

IZABEL

Eu não duvido do prostigio do teu general, nem do valor dos seus briosos

companheiros de Cadix, que ainda hoje o seguem; mas não creio na boa estrella que os monarchicos devisam onde eu só vejo negrura e trevas!

MARTINEZ

( Ancioso ) Explica-te!

IZABEL

Ouço o que dizem meu pae e meu irmão; escuto as palavras dos seus correligionarios politicos que aqui se reunem; conheço as valiosas relações que elles manteem entre as classes populares; sei que é grande a sua dedicação pela republica, que é immenso o seu enthusiasmo por ella, que é sublime a sua abnegação, e que todos elles estão dispostos a implantar no solo da patria a arvore frondosa e santa da republica, ainda mesmo a troco dos maiores sacrificios!

MARTINEZ

( Inquieto ) Queres tu dizer, Izabel, que os correligionarios de teu pae e de teu irmão estão dispostos... O que ouviste, Izabel?

IZABEL

( Com dignidade ) O que eu ouço nas reuniões que se realisam n'esta casa, não t'o digo eu agora, nem t'o direi jámais! Se o amor me prendeu o coração a um monarchico, não me obsecou o espirito a ponto de me fazer trahir a causa que a minha familia defende, e que eu reputo santa.

MARTINEZ

( Hesitando ) Elles pensam em assassinar o rei?

IZABEL

( Com indignação ) Não! Os republicanos não defendem a inviolabilidade da vida humana para arrancarem covardemente a vida a um homem! Na religião democratica respeita-se a virtude, e condemna-se o crime! Os republicanos não pensam em assassinar ninguem, porque o assassinato é um crime!

MARTINEZ

Confesso, porém, que as tuas palavras chegaram a inspirar-me um profundo terror! Tinhas dito ha pouco...

IZABEL

É que os republicanos não são os unicos inimigos do rei! Amadeu tem contra si a má vontade de todos os partidos d'Hespanha; e dos que o repellem, dos que o guerreiam, dos que jámais lhe darão tregoas, só os republicanos teem por devisa o horror ao crime, só elles respeitam com dogma o principio da inviolabilidade da vida do homem!

MARTINEZ

Verás que te illudes!

IZABEL

Are sens