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SCENA II

Izabel ( )

( Triste e encostada á janella ) Socega e espera!... Que tranquilidade ha de existir no peito de uma pobre mulher, que vê quasi a despenhar-se no abysmo metade da sua alma! Que esperança pode abrigar-se-me no coração, se eu vejo Martinez, o meu noivo, o homem que eu amo mais que a minha vida, affrontar indifferente a morte, ao lado d'aquelle pelo qual metade da Hespanha se julga illudida, fazendo parte do sequito do rei que transformou por um--sim--imprudente as esperanças da patria em illusões e sonhos, que podem amanhã produzir a guerra civil! ( Caindo anniquillada n'uma cadeira ) Oh! que infeliz eu sou! Oh! quão desgraçada serei! Condemnada a viver perpetuamente entre os odios mortaes dos correligionarios d'aquelles que mais queridos me são no mundo! De um lado o receio da perseguição dos monarchicos ao pae e ao irmão que estremeço! Do outro, o temor da represalia dos republicanos, contra o homem com quem em pouco vou partilhar a sorte, e ao qual de ha muito dei inteiro o coração! Oh fatalidade!

SCENA III

Izabel e D. Carlos

D. CARLOS

( Do fundo ) Estás aqui, minha irmã? Não te aborrece esta salla? Não te soffoca a atemosphera que aqui se respira?

IZABEL

Não!

D. CARLOS

Tu, tão nova e tão linda, aspirando o ar tão pesado d'este recinto de conspirações?

IZABEL

Sim!

D. CARLOS

Porque não vaes antes para os teus quartos? Não te é mais agradavel a vista risonha do jardim, que tu tratas tão cuidadosamente, do que o aspecto d'esta salla, onde hoje reside o desespero, onde paira a indignação, onde bate por ventura as azas o demonio da vingança?

IZABEL

Não.

D. CARLOS

( Preoccupado ) Não... sim... não outra vez!... Que tens tu, Izabel?... Respondes apenas por monosyllabos ás minhas carinhosas interrogações?... Que tens tu, minha irmã?

IZABEL

Nada!

D. CARLOS

Nada, e eu vejo-te os olhos pisados!... Nada, e tu choras!... Desafoga commigo, Izabel!... Teu irmão ainda tem coração para recolher os teus pesares, e amor bastante para te prodigalisar consolações!

IZABEL

( Com desalento ) Martinez... o meu querido Martinez, parte esta noute para Cartagena, em companhia de Prim, que vae ali esperar o novo rei!

Comprehendes agora a rasão dos meus monosyllabos, a causa das minhas lagrimas, origem dos meus pesares?

D. CARLOS

( Tranquilisando-a ) E que tem isso? O rei vem; mas isso não quer dizer que conseguirá firmar solidamente uma dymnastia! Epoca virá, e talvez pouco distante, em que a nação lhe indique solemnemente o caminho da sua patria! Se Martinez vae hoje, como ajudante do general, que se disse democrata no exilio, e que tão mal comprehendeu no poder a sua brilhante posição, esperar o rei que é

imposto á nação hespanhola; talvez que em breve, convertido á crença democratica, elle vá, general da republica, fazer embarcar no mesmo porto o desvairado mancebo, que tão facilmente se deixou fascinar peio brilhantismo de uma corôa, que não é sua, e que de certo é pesada de mais para cabeça tão jovenil!

IZABEL

( Com receio ) E se um tiro traiçoeiro, cortando o ar n'um ermo, vier feril-o, em vez de ferir Amadeu ou Prim?

D. CARLOS

( Sorrindo ) Que lembrança! Em Hespanha o partido mais forte é o republicano, por que é aquelle que tem mais crentes retemperados na fé do martyrio; e por isso o rei e o general, e todo o sequito de Amadeu, e toda a comitiva de Prim, passarão illesos por entre a indifferença publica! O assassinato é um crime, e os republicanos não ferem o adversario senão no campo convencional da honra, ou no campo franco e aberto da batalha leal!

IZABEL

Sinto que tens rasão; mas sinto tambem que se me comprime a coração nos horrores da duvida; apavoram-me os terriveis presentimentos que me assaltam o espirito!

D. CARLOS

( Offerecendo-lhe o braço ) Vem commigo destrair-te. É o amor que te faz delirar assim! Vem commigo! ( Izabel dá-lhe o braço, e saem ambos pela porta leteral ).

SCENA IV

D. Emilio e D. Ramon

D. RAMON.

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