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Oxalá!.. E se fosse só o novo rei que me inspirasse receios por ti! E o teu general?!... Ninguem como elle tem hoje um nome mais brilhante na Hespanha; mas ninguem como elle tem mais irreconciliaveis inimigos entre o povo hespanhol! Prim poz a corôa de Izabel na cabeça de Amadeu, e nem mesmo os mais encarniçados inimigos da rainha lhe perdoam que elle lhe derrocasse o throno, para edificar sobre as suas ruinas o throno de um estrangeiro!

MARTINEZ

( Sorrindo ) Vejo-me obrigado a fechar a sessão! Se te embrenhas tão cegamente no labyrintho da politica, pouco tempo te restará para cuidares dos preparativos da nossa festa nupcial! Pença em mim, Izabel; ante-gosa a nossa proxima felicidade, e deixa a teu pae e a teu irmão o cuidado de vellarem pela patria que elles lealmente amam; e de prestarem cultos á religião politica, que tão nobremente professam. ( Vae a sair. ) IZABEL

( Detendo-o ) Então sempre vaes?

MARTINEZ

Que fazer? ( Consultando o relogio ) São seis horas e meia... Deve estar a findar a sessão do Congresso, e tenho de acompanhar o general, que parte hoje em minha companhia, e na de Nandin e Moya, para Cartagena, a fim de esperarmos e acompanharmos a Madrid sua magestade Amadeu 1.º

IZABEL

Vae, vae, meu querido; e oxalá que essa viajem do rei novo me não fira de morte o coração, onde se abriga um tão grande amor por ti! Escreve-me, Martinez; escreve-me de todos os pontos onde descançares! Olha que se me parte o coração n'esta despedida!

MARTINEZ

Socega e espera! Se Deus quiz que nos amassemos tanto, não foi de certo para nos fazer infelizes! ( Abraçam-se.--Martinez sae pelo fundo. )

SCENA II

Izabel ( )

( Triste e encostada á janella ) Socega e espera!... Que tranquilidade ha de existir no peito de uma pobre mulher, que vê quasi a despenhar-se no abysmo metade da sua alma! Que esperança pode abrigar-se-me no coração, se eu vejo Martinez, o meu noivo, o homem que eu amo mais que a minha vida, affrontar indifferente a morte, ao lado d'aquelle pelo qual metade da Hespanha se julga illudida, fazendo parte do sequito do rei que transformou por um--sim--imprudente as esperanças da patria em illusões e sonhos, que podem amanhã produzir a guerra civil! ( Caindo anniquillada n'uma cadeira ) Oh! que infeliz eu sou! Oh! quão desgraçada serei! Condemnada a viver perpetuamente entre os odios mortaes dos correligionarios d'aquelles que mais queridos me são no mundo! De um lado o receio da perseguição dos monarchicos ao pae e ao irmão que estremeço! Do outro, o temor da represalia dos republicanos, contra o homem com quem em pouco vou partilhar a sorte, e ao qual de ha muito dei inteiro o coração! Oh fatalidade!

SCENA III

Izabel e D. Carlos

D. CARLOS

( Do fundo ) Estás aqui, minha irmã? Não te aborrece esta salla? Não te soffoca a atemosphera que aqui se respira?

IZABEL

Não!

D. CARLOS

Tu, tão nova e tão linda, aspirando o ar tão pesado d'este recinto de conspirações?

IZABEL

Sim!

D. CARLOS

Porque não vaes antes para os teus quartos? Não te é mais agradavel a vista risonha do jardim, que tu tratas tão cuidadosamente, do que o aspecto d'esta salla, onde hoje reside o desespero, onde paira a indignação, onde bate por ventura as azas o demonio da vingança?

IZABEL

Não.

D. CARLOS

( Preoccupado ) Não... sim... não outra vez!... Que tens tu, Izabel?... Respondes apenas por monosyllabos ás minhas carinhosas interrogações?... Que tens tu, minha irmã?

IZABEL

Nada!

D. CARLOS

Nada, e eu vejo-te os olhos pisados!... Nada, e tu choras!... Desafoga commigo, Izabel!... Teu irmão ainda tem coração para recolher os teus pesares, e amor bastante para te prodigalisar consolações!

IZABEL

( Com desalento ) Martinez... o meu querido Martinez, parte esta noute para Cartagena, em companhia de Prim, que vae ali esperar o novo rei!

Comprehendes agora a rasão dos meus monosyllabos, a causa das minhas lagrimas, origem dos meus pesares?

D. CARLOS

( Tranquilisando-a ) E que tem isso? O rei vem; mas isso não quer dizer que conseguirá firmar solidamente uma dymnastia! Epoca virá, e talvez pouco distante, em que a nação lhe indique solemnemente o caminho da sua patria! Se Martinez vae hoje, como ajudante do general, que se disse democrata no exilio, e que tão mal comprehendeu no poder a sua brilhante posição, esperar o rei que é

imposto á nação hespanhola; talvez que em breve, convertido á crença democratica, elle vá, general da republica, fazer embarcar no mesmo porto o desvairado mancebo, que tão facilmente se deixou fascinar peio brilhantismo de uma corôa, que não é sua, e que de certo é pesada de mais para cabeça tão jovenil!

IZABEL

( Com receio ) E se um tiro traiçoeiro, cortando o ar n'um ermo, vier feril-o, em vez de ferir Amadeu ou Prim?

D. CARLOS

( Sorrindo ) Que lembrança! Em Hespanha o partido mais forte é o republicano, por que é aquelle que tem mais crentes retemperados na fé do martyrio; e por isso o rei e o general, e todo o sequito de Amadeu, e toda a comitiva de Prim, passarão illesos por entre a indifferença publica! O assassinato é um crime, e os republicanos não ferem o adversario senão no campo convencional da honra, ou no campo franco e aberto da batalha leal!

IZABEL

Sinto que tens rasão; mas sinto tambem que se me comprime a coração nos horrores da duvida; apavoram-me os terriveis presentimentos que me assaltam o espirito!

D. CARLOS

( Offerecendo-lhe o braço ) Vem commigo destrair-te. É o amor que te faz delirar assim! Vem commigo! ( Izabel dá-lhe o braço, e saem ambos pela porta leteral ).

SCENA IV

D. Emilio e D. Ramon

D. RAMON.

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