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Add to favorite "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

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• Eu penso do mesmo modo, respondi.

E apertamos as mãos.

- Sou capaz de jurar que adivinho a razão por que o senhor olhava tanto para aquela porta, continuou ele.

- E eu também.

- Convenho: esperávamos ambos as nossas amadas e a chuva mangou conosco.

- Exatamente.

- Mas nós vamos, sem dúvida, vingar-nos, indo agora vê-las à janela.

- Eu queria propor a mesma vingança.

- Bravo!... iremos juntos... onde mora a sua?...

- Na rua de...

- Ainda melhor... a minha é na mesma rua.

Saímos da igreja, embraçamo-nos e fomos. A minha amada morava perto, eu a avistei debruçada na janela, talvez me esperando, pois olhava para o lado donde eu vinha; abri a boca para dizer ao meu novo amigo: é aquela!... quando ele me pronunciou com indizível prazer - é aquela!... Julgue, minha senhora, da minha exasperação! pela terceira vez eu era a boneca de uma menina!...

Não sei por que ainda tive ânimo de tirar o meu chapéu à tal pálida, que ao menos dessa vez se fez cor-de-rosa, talvez por ver-me de braço com o meu novo amigo.

Passando a maldita casa, Jorge, que assim se chamava o moço, disse-me com fogo:

- Aquela jovem adora-me!

- Está certo disso, meu amigo?

- Tenho provas.

- Acredita muito nelas?

- Tenho as mais fortes; por último recebi ainda e de maior confiança... eu lhe conto. Um estudante a reqüestou e escreveu-lhe; ela mandou-me a carta, e eu respondi em seu lugar. A correspondência tem continuado por minha vontade e sou eu quem sempre faço a norma das cartas que ela deve escrever; achará isto imprudência, e eu acho um belo divertimento.

- Sim... um belo divertimento.

- Mas que é isso? está tão pálido!...

- Não é coisa de cuidado... Eu... ora... o estudante...

- É por certo um famoso pateta...

- Não é bom ir tão longe...

- Não tem dúvida... é tolo rematado.

- Fale-me a verdade: eu acho aquela moça com cara de ser sua prima.

- Quem lhe disse?... é, com efeito, minha prima!

- Pois vamos à minha casa.

- E a sua amada?...

- Não me fale mais nela.

Apenas chegamos à minha casa, abri a minha gaveta, e tirando dela todas as cartas que Jorge havia escrito à sua prima, e que ela me tinha mandado, assim como as normas que eu redigira para as que deveriam ser enviadas ao meu amigo, acrescentei:

- Concordemos ambos que, se o estudante foi um famoso pateta e um tolo rematado, não o foi menos o primo daquela senhora a quem cortejamos na rua de...

Jorge devorou todas as cartas e normas que lhe dei; depois desatou a rir e, abraçando-me, exclamou:

- Concordemos também, caro estudante, que minha prima tem bastante habilidade para se corresponder com meio mundo, sem se incomodar com o trabalho da redação de suas cartas!...

O bom humor de Jorge tornou-me alegre. Jantamos juntos, rimo-nos todo o dia, e só de noite se retirou.

Tratei de dormir, mas, antes de adormecer, falei ainda comigo mesmo: - juro que não hei de amar moça nenhuma de cor pálida.

Desde então declarei guerra ao amor, minha senhora; tornei-me ao que era dantes, isto é, ocupei-me somente em me lembrar de minha mulher e em beijar o meu breve.

Mas eu andava triste e abatido e às vezes pensava assim: - ora pois, jurei não amar a moça nenhuma que fosse morena, corada ou pálida; estas são as cores; estes são os tipos da beleza... e, portanto, minha mulher terá, a pesar meu, uma das tais cores; logo não me caso com minha mulher e, em última conclusão, serei celibatário, vou ser... frade... frade!...

Minha tristeza, meu abatimento deu nos olhos da digna, jovial e espirituosa esposa de um de meus bons amigos. Ela me pediu que lhe confiasse as minhas penas e eu não pude deixar de relatar estes três fatos à consorte de um caro amigo.

A única consolação que tive foi vê-la correr para o piano, e ouvi-la cantas as seguintes e outras quadrinhas musicadas no gosto nacional:

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