"Unleash your creativity and unlock your potential with MsgBrains.Com - the innovative platform for nurturing your intellect." » » "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

Add to favorite "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

Select the language in which you want the text you are reading to be translated, then select the words you don't know with the cursor to get the translation above the selected word!




Go to page:
Text Size:

- É uma bonita ilha.

- Não duvido.

- Reuniremos uma sociedade pouco numerosa, mas bem escolhida.

- Melhor para vocês.

- No domingo, à noite, teremos um baile.

- Estimo que se divirtam.

- Minhas primas vão.

- Não as conheço.

- São bonitas.

- Que me importa?... Deixe-me. Vocês sabem o meu fraco e caem-me logo com ele: moças!...

moças!... Confesso que dou o cavaco por elas, mas as moças me têm posto velho.

- É porque ele não conhece tuas primas, disse Fabrício.

- Ora... o que poderão ser senão demoninhas, como são todas as outras moças bonitas?

- Então tuas primas são gentis?... perguntou Leopoldo a Filipe.

- A mais velha, respondeu este, tem dezessete anos, chama-se Joana, tem cabelos negros, belos olhos da mesma cor, e é pálida.

- Hein?... exclamou Augusto, pondo-se de um pulo duas braças longe do canapé onde estava deitado, então ela é pálida?...

- A mais moça tem um ano de menos: loura, de olhos azuis, faces cor-de-rosa... seio de alabastro...

dentes...

- Como se chama?

- Joaquina.

- Ai, meus pecados!... disse Augusto.

- Vejam como Augusto já está enternecido...

- Mas, Filipe, tu já me disseste que tinhas uma irmã.

- Sim, é uma moreninha de quatorze anos.

- Moreninha? diabo!... exclamou outra vez Augusto, dando novo pulo.

- Está sabido... Augusto não relaxa a patuscada.

- É que este ano já tenho pagodeado meu quantum satis, e, assim como vocês, também eu quero andar em dia com alguns senhores com quem nos é muito preciso estar de contas justas no mês de novembro.

- Mas a pálida?... a loura?... a moreninha?...

- Que interessante terceto! exclamou com tom teatral Augusto; que coleção de belos tipos!...

uma jovem de dezessete anos, pálida... romântica e, portanto, sublime; uma outra, loura... de olhos azuis... faces cor-de-rosa... e... não sei que mais: enfim, clássica e por isso bela. Por último uma terceira de quatorze anos... moreninha, que, ou seja, romântica ou clássica, prosaica ou poética, ingênua ou misteriosa, há de, por força, ser interessante, travessa e engraçada; e por conseqüência qualquer das três, ou todas ao mesmo tempo, muito capazes de fazer de minha alma peteca, de meu coração pitorra!...

Está tratado... não há remédio... Filipe, vou visitar tua avó. Sim, é melhor passar os dois dias estudando alegremente nesses três interessantes volumes da grande obra da natureza do que gastar as horas, por exemplo, sobre um célebre Velpeau, que só ele faz por sua conta e risco mais citações em cada página do que todos os meirinhos reunidos fizeram, fazem e hão de fazer pelo mundo.

- Bela conseqüência! É raciocínio o teu que faria inveja a um caloiro, disse Fabrício.

- Bem raciocinado... não tem dúvida, acudiu Filipe; então, conto contigo, Augusto?

- Dou-te palavra... e mesmo porque eu devo visitar tua avó.

- Sim... já sei... isso dirás tu a ela.

- Mas vocês não têm reparado que Fabrício tornou-se amuado e pensativo, desde que se falou nas primas de Filipe?...

- Disseram-me que ele anda enrabichado com minha prima Joaninha.

- A pálida?... pois eu já me vou dispondo a fazer meu pé-de-alferes com a loura.

- E tu, Augusto, quererás porventura reqüestar minha irmã?...

- É possível.

- E de que gostarás mais, da pálida, da loura ou da moreninha?...

- Creio que gostarei, principalmente, de todas.

- Ei-lo aí com a sua mania.

- Augusto é incorrigível.

- Não, é romântico.

- Nem uma coisa nem outra... é um grandíssimo velhaco.

- Não diz o que sente.

- Não sente o que diz.

- Faz mais do que isso, pois diz o que não sente.

- O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou, enfim, mau e perigoso e vocês inocentes e anjinhos.

Are sens