- Que blasfêmia!
- Além disso é impossível... não posso suportar o peso: escrever quatro cartas por semana... Isto só! o talento que é preciso para inventar asneiras e mentiras dezesseis vezes por mês! e depois, o Tobias...
- Puxa-lhe as orelhas.
- Como?... se ele é a cria de D. Joaninha, o alfenim da casa, o S. Benedito da família!...
- Não sei, meu amigo, arranja-te como puderes.
- Lembra-te que foste a causa principal de tudo isso.
- Quem, eu?... eu apenas te disse que não sabias o gosto que tinha o amor à moderna.
- Pois bem, saí do meu elemento, fui experimentar a paixão romântica... aí a tens!... a tal paixãozinha me esgotou já paciência, juízo e dinheiro. Não a quero mais.
- Tu sempre foste um papa-empadas.
- Sim, e há dois meses que não sei o que é o cheiro delas. Anda, meu Augustozinho, ajuda-me!
- Não posso e não devo.
- Vê lá o que dizes!
- Tenho dito.
- Augusto!
- Agora digo mais que não quero.
- Olha que te hás de arrepender!
- Esta é melhor!... pretendes meter-me medo?...
- Eu sou capaz de vingar-me.
- Desafio-te a isso.
- Desacredito-te na opinião das moças.
- É um meio de tornar-me objeto de suas atenções. Peço-te que o faças.
- Descubro e analiso o teu sistema de iludir a todas.
- Tornar-me-ás interessante a seus olhos.
- Direi que és um bandoleiro.
- Melhor, elas farão por tornar-me constante.
- Mostrarei que a tua moral a respeito de amor é a pior possível.
- Ótimo!... elas se esforçarão por fazê-la boa.
- Hei de, nestes dois dias, atrapalhar-te continuamente.
- Bravo!... não contava divertir-me tanto!
- Então tu teimas no teu propósito?...
- Pois, se é precisamente agora que estou vendo os bons resultados que ele me promete!
- Portanto, estes dois dias, guerra!
- Bravíssimo, meu Fabrício; guerra!
- Antecipo-te que meu primeiro ataque terá lugar durante o jantar.
- Oh! por milhares de razões, tomara eu que chegasse a hora dele!...
- Augusto, até o jantar!
- Fabrício, até o jantar!
Neste momento Filipe abriu a porta do gabinete e, dirigindo-se aos dois, disse:
- Vamos jantar.
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