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Add to favorite "A Moreninha" - Joaquim Manuel de Macedo

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- Mas... minha senhora... eu ainda não sou médico e só no caso de urgente necessidade me atreveria...

- Eu tenho inteira confiança no senhor; me parece que é o único capaz de acertar com a minha enfermidade.

- Mas ali está um estudante do sexto ano...

- Eu quero o senhor mesmo.

- Pois, minha senhora, eu estou pronto para ouvi-la: porém julgo que o tempo e o lugar são poucos oportunos.

- Nada... há de ser agora mesmo.

Ah!... A boa da velha falou e tornou a falar. Eram duas horas da tarde e ela ainda dava conta de todos os seus costumes, de sua vida inteira; enfim, foi uma relação de comemorativos como nunca mais ouvirá o nosso estudante. Às vezes Augusto olhava para seus companheiros e os via alegremente praticando com as belas senhoras que abrilhantavam a sala, enquanto ele se via obrigado a ouvir a mais insuportável de todas as histórias. Daqui e de certos fenômenos que acusava a macista, nasceu-lhe o desejo de tomar uma vingançazinha. Firme neste propósito, esperou com paciência que D. Violante fizesse ponto final bem determinado a esmagá-la com o peso do seu diagnóstico e ainda mais com o tratamento que tencionava prescrever-lhe.

Às duas horas e meia a oradora terminou o seu discurso, dizendo:

- Agora quero que, com toda a sinceridade, me diga se conhece a minha enfermidade e o que devo fazer.

- Então V. S. dá-me licença para falar com toda a sinceridade?

- Eu o exijo.

- Pois, minha senhora, atendendo tudo quanto ouvi e principalmente a estes últimos incômodos, que tão a miúdo sofre, e de que mais se queixa, como tonteiras, dores no ventre, calafrios, certas dificuldades, esse peso dos lombos, etc., concluo e todo o mundo médico concluirá comigo, que V. S.

padece de...

- Diga... não tenha medo.

- Hemorróidas

D. Violante fez-se vermelha como um pimentão, horrível como a mais horrível das fúrias, encarou o estudante com despeito, e, fixando nele seus tristíssimos olhos furta-cores, perguntou:

- O que foi que disse, senhor?...

- Hemorróidas, minha senhora.

Ela soltou uma risada sarcástica.

- V. S. quer que lhe prescreva o tratamento conveniente?

- Menino, respondeu com mau humor, tome o meu conselho: outro ofício; o senhor não nasceu para médico.

- Sinto ter desmerecido o agrado de V. S. por tão insignificante motivo. Rogo-lhe que me desculpe, mas eu julguei dever dizer o que entendia.

Isto dizendo, o estudante ergueu-se; a velha já não fez o menor movimento para o demorar, e vendo-o deixá-la, disse em tom profético:

- Este não nasceu para Medicina!

Mas Augusto, afastando-se de D. Violante, dava graças ao poder do seu diagnóstico e augurava muito bem de seu futuro médico, pela grande vitória que acabava de alcançar.

- Agora, sim, disse ele com os seus botões, vou recuperar o tempo perdido. E procurava uma cadeira, cuja vizinhança lhe conviesse.

A digna hóspede compreendeu perfeitamente os desejos do estudante, pois, mostrando-lhe um

lugar junto de sua neta, disse:

- Aquela menina lhe poderá divertir alguns instantes.

- Mas, minha avó, exclamou a menina com prontidão, até o dia de hoje ainda não me supus boneca.

- Menina!...

- Contudo, eu serei bem feliz se puder fazer com que o senhor... senhor...

- Augusto, minha senhora.

- ... o Sr. Augusto passe junto a mim momentos tão agradáveis, como lhe foram as horas que gozou ao pé da Sra. D. Violante.

Augusto gostou da ironia, e já se dispunha a travar conversação com a menina travessa, quando Fabrício se chegou a eles e disse a Augusto:

- Tu me deves dar uma palavra.

- Creio que não é preciso que seja imediatamente.

- Se a Sra. D. Carolina o permitisse, eu estimaria falar-te já. Por mim não seja... disse a menina erguendo-se.

- Não, minha senhora, eu o ouvirei mais tarde, acudiu Augusto, querendo retê-la.

- Nada... não quero que o Sr. Fabrício me olhe com maus olhos... Além de que, eu devo ir apressar o jantar, pois leu no seu rosto que a conversação que teve com a Sra. D. Violante, quando mais não desse, ao menos produziu-lhe muito apetite... mesmo um apetite de... de...

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