Conhecimento de si mesmo
LIVRO QUARTO
ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES
I - SOFRIMENTOS E PRAZERES TERRENOS – pág. 411
Felicidade e infelicidade relativas
Perda de pessoas amadas
14 – Allan Kardec
Decepções – Ingratidão – Afeições rompidas
Uniões antipáticas
Temor da morte
Desgosto da vida – Suicídio
II - SOFRIMENTOS E PRAZERES FUTUROS – pág. 428
O Nada – A vida futura
Intuição das penas e recompensas futuras
Intervenção de Deus nas penas e recompensas
Natureza dos sofrimentos e prazeres futuros
Sofrimentos temporários
Expiação e arrependimento
Duração das penas futuras
Ressurreição da carne
Paraíso, inferno e purgatório
CONCLUSÃO – pág. 458
15 – O Livro dos Espíritos
INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DA DOUTRINA ESPÍRITA
I
Para coisas novas é preciso palavras novas, como a clareza da linguagem assim o exige, para evitar a confusão inseparável dos múltiplos significados dos mesmos termos. As palavras: espiritual, espiritualista e espiritualismo
têm uma acepção bem definida; dar a eles uma nova significação para aplicá-los à doutrina dos Espíritos seria multiplicar os casos já tão numerosos de anfibologia1. De fato, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem acredita haver em si alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas isso não quer dizer que ele creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras ESPIRITUAL e ESPIRITUALISMO, nós usamos, para designar esta crença, os termos espírita e
espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido da raiz da palavra, e que por isso mesmo tem a vantagem de serem perfeitamente compreensíveis, reservando ao vocábulo espiritualismo a significação que lhe é própria.
Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos, ou seres do mundo invisível. Os adeptos do espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.
Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita;
como generalidade, ele se liga à doutrina espiritualista da qual ele representa uma das fases. Tal é a razão pela qual traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista.
1 Anfibologia: ambiguidade, duplo sentido das palavras. — Nota do Tradutor (N. T.).
16 – Allan Kardec
II
Há outra palavra que é igualmente importante entendermos, porque é uma das chaves fundamentais de toda doutrina moral e que é objeto de numerosas controvérsias, por falta de uma acepção bem determinada: é a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da alma vem da aplicação particular que cada um faz dessa palavra. Uma língua perfeita, em que cada ideia tivesse sua representação por um termo próprio, bem evitaria discussões; com um vocábulo para cada coisa, todo o mundo se entenderia.
Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica; ela não tem existência própria e cessa com a vida: é o materialismo puro. Neste sentido, e por comparação, eles dizem de um instrumento rachado que não emite mais nenhum som: que não tem alma. De acordo com essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.
Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma porção. Segundo estes, haveria para todo o Universo apenas uma única alma que distribui centelhas entre os diversos seres inteligentes durante sua vida; após a morte, cada centelha retorna à fonte comum, onde ela se mistura com o todo, como os riachos e os rios retornam para o mar de onde saíram. Esta opinião difere da anterior em que, nesta hipótese, há algo em nós além da matéria, e que alguma coisa sobrevive após a morte; contudo, é quase como se não restasse nada, pois, não havendo mais individualidade, não teríamos mais consciência de nós mesmos. Dentro desta opinião a alma universal seria Deus e cada ser uma porção da Divindade; esta é uma variedade do panteísmo.
De acordo com outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte.
Sem dúvidas, esta definição é a mais comum, porque, sob um nome ou outro, a ideia de esse ser que sobrevive ao corpo se encontra no estado de crença instintiva, e independe de qualquer ensinamento, entre todos os povos, qualquer que seja o grau de sua civilização. Esta doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, é a dos espiritualistas.