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encontram na moral espírita uma censura muito severa aos seus atos e às suas tendências. O espiritismo levado a sério os incomodaria; eles nem o rejeitam nem o aprovam: preferem fechar os olhos. Os primeiros são dominados pelo orgulho e pela presunção; os da segunda ordem, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo. Concebemos que essas causas de oposição, não tendo nada de consistente, devem desaparecer com o tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a que se apoiaria sobre provas contrárias concretas, e atestando um estudo consciencioso e laborioso da questão; como todos se opõem apenas à negação, nenhum contém uma demonstração séria e irrefutável.

Seria esperar demais da natureza humana acreditar que ela pudesse se transformar subitamente através das ideias espíritas. A ação dessas ideias não é claramente nem a mesma e nem no mesmo grau em todos aqueles que as professam. Mas seja qual for o resultado, por pequeno que seja, é sempre um melhoramento, ainda que fosse para dar a prova da existência de um mundo extracorpóreo — o que implica a negação das doutrinas materialistas. Isso é a própria consequência da observação dos fatos, mas para aqueles que compreendem o espiritismo filosófico e veem nele além dos fenômenos mais ou menos curiosos, ele tem outros efeitos: o primeiro e o mais generalizado é de desenvolver o sentimento religioso até mesmo naquele que, sem ser materialista, sente apenas indiferença pelas coisas espirituais. Disso resulta para ele o desprezo da morte; não nos referimos a desejar a morte, longe disso, porque o espírita defenderá sua vida como qualquer pessoa, mas uma indiferença que faz aceitar — sem queixas e sem lamentos — uma morte inevitável, como uma coisa antes feliz do que temível, pela certeza do estágio que lhe sucede. O segundo efeito, quase tão comum quanto o primeiro, é a resignação nas dificuldades da vida. O espiritismo faz ver as coisas de tão alto que a vida terrestre perde três quartas partes da sua importância, e o homem não se aflige tanto com as tribulações que o acompanham: daí, quanto mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos; daí também o afastamento do pensamento de abreviar seus dias, porque a ciência espírita ensina que, pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro que depende de nós tornar feliz e a possibilidade de estabelecer

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relacionamentos com os seres queridos oferecem ao espírita uma consolação suprema. Seu horizonte se agiganta até o infinito pelo espetáculo incessante que ele tem da vida de além-túmulo, da qual ele pode sondar os mistérios profundos. O terceiro efeito é estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Mas é preciso dizer claramente que o princípio egoísta e tudo que dele decorre são o que existe de mais obstinado no homem e, por isso, o mais difícil de ser arrancado pela raiz. Faz-se sacrifícios voluntariamente, contanto que nada lhes custem e principalmente não os privem de nada; o dinheiro ainda é um atrativo irresistível para a maioria das pessoas, e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando se trata de sua pessoa.

Assim, a renúncia da individualidade é o sinal do mais eminente progresso.

VIII

Algumas pessoas perguntam: os Espíritos nos ensinam uma moral nova, ou seja, algo superior ao que o Cristo ensinou? Se essa moral for a mesma do Evangelho, então para que serve o espiritismo? Esse raciocínio curiosamente se assemelha ao do califa Omar referindo-se à biblioteca de Alexandria, dizendo: “Se ela não tiver nada mais do que já existe no Alcorão, então ela é inútil e, portanto, deve ser queimada; se tiver outra coisa, ela é má e, portanto, deve ser queimada do mesmo jeito.” Não, o espiritismo não contém uma moral diferente daquela de Jesus; mas, por nossa vez, perguntaremos: antes de Cristo, os homens não tinham a lei dada por Deus a Moisés? Sua doutrina não está presente no Decálogo? Por isso, irão dizer que a moral de Jesus era inútil? Perguntaremos ainda àqueles que negam a utilidade da moral espírita, por que a do Cristo é tão pouco praticada e por que aqueles mesmos que proclamam justamente sua sublimidade são os primeiros a violar a primeira de suas leis: a caridade universal. Os Espíritos vêm não apenas confirmá-la, mas mostram sua utilidade prática; eles tornam compreensíveis e patentes as verdades que tinham sido ensinadas apenas sob uma forma alegórica; e, ao lado da moral, eles vêm especificar os problemas mais abstratos da psicologia.

Jesus veio mostrar aos homens a rota do verdadeiro bem; por que então

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Deus — que o enviou para fazer lembrar sua lei desprezada — não enviaria hoje os Espíritos a fim de a lembrarem novamente, e com mais precisão, já que a esqueceram para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria impor limites ao poder de Deus e lhe traçar seus desígnios? Quem nos diz que

— como afirmam os Espíritos — os tempos preditos já não se cumpriram e que nós não chegamos ao tempo em que as verdades mal compreendidas ou falsamente interpretadas devam ser ostensivamente reveladas ao gênero humano para apressar seu avanço? Não há algo de providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os pontos do globo? Não é apenas um único homem ou um profeta que vem nos advertir: a luz surge de todas as partes; é um mundo totalmente novo que se desdobra aos nossos olhos. Assim como a invenção do microscópio nos revelou o mundo dos seres infinitamente pequenos que desconhecíamos, e assim como a invenção do telescópio nos revelou milhares de mundos que também não conhecíamos, as comunicações espíritas nos revelam o mundo invisível que nos cerca, nos cutuca sem cessar e ocultamente participam do que nós fazemos. Mais algum tempo e a existência desse mundo — que é aquele que nos espera — também será tão incontestável quanto o mundo microscópico e dos globos perdidos no espaço. Então, de nada valeria nos terem feito conhecer todo um mundo e de nos ter iniciado nos mistérios da vida além-túmulo? É verdade que essas descobertas — se é que podemos lhes dar esse nome — contrariam de certo modo certas ideias preconcebidas, mas não é que todas as grandes descobertas científicas também não modificaram e até desarrumaram as ideias mais consagradas? E não foi necessário que o nosso amor-próprio se curvasse diante da evidência? O mesmo acontecerá com relação ao espiritismo, e em pouco tempo ele terá direito à cidadania entre os conhecimentos humanos.

As comunicações com os seres do além-túmulo tiveram como resultado nos fazer compreender a vida futura, nos fazer vê-la, nos apresentar aos sofrimentos e aos prazeres que nos esperam conforme nossos méritos, e por isso mesmo encaminhar ao espiritualismo aqueles que não viam em nós nada mais que a matéria, que uma máquina organizada. Também tivemos razão em dizer que o espiritismo matou o materialismo pelos fatos. Se ele

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tivesse produzido apenas esse resultado, a sociedade já lhe deveria tal reconhecimento; porém ele faz mais do que isso: ele mostra os inevitáveis efeitos do mal e, consequentemente, a necessidade do bem. O número daqueles que ele conduziu a sentimentos melhores, nos quais ele neutralizou as más tendências e desviou do mal é maior do que se pode imaginar — e cresce todos os dias. É para estes que o futuro deixou de ser vago; isso não é mais uma simples esperança: é uma verdade que se compreende e que se explica quando vemos e ouvimos aqueles que nos deixaram, a se lamentar ou a se felicitar pelo que fizeram na Terra. Quem é testemunha disso se põe a refletir, e sente a necessidade de se conhecer, de se julgar e de se corrigir.

IX

Os adversários do espiritismo não deixaram de se armar contra ele com algumas divergências de opiniões sobre determinados pontos da Doutrina.

Não é de admirar que no início de uma ciência — quando as observações ainda estão incompletas e que cada um a encara sob o seu ponto de vista —

sistemas contraditórios pudessem se produzir. Mas hoje três quartas partes desses sistemas já tombaram diante de um estudo mais aprofundado, a começar pelo que atribuía todas as comunicações ao Espírito do mal, como se fosse impossível a Deus enviar bons Espíritos aos homens: um sistema absurdo, pois é desmentido pelos fatos; um sistema ímpio, porque é a negação do poder e da bondade do Criador. Os Espíritos sempre nos aconselharam a não nos inquietarmos com essas divergências, pois a unidade se faria: ora, a unidade já está feita sobre a maioria dos pontos, e as divergências tendem a desaparecer a cada dia. Fez-se uma questão: Esperando que a união se faça, sobre o que o homem imparcial e desinteressado pode se basear para formar um julgamento? — E aqui está a resposta:

“A luz mais pura não é obscurecida por nenhuma nuvem; o diamante sem mancha é aquele que tem mais valor. Portanto, julguem os Espíritos pela pureza dos seus ensinamentos. Não esqueçam que entre os Espíritos existem aqueles que ainda não se livraram das ideias da vida terrestre; saibam

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distingui-los por sua linguagem; julguem pelo conjunto do que eles dizem;

vejam se existe um encadeamento lógico em suas ideias; se nada nelas detecta ignorância, orgulho ou malevolência; resumindo, se suas palavras trazem sempre a marca da sabedoria que detecta a verdadeira superioridade. Se o vosso mundo fosse inacessível ao erro, ele seria perfeito — e ele está longe disso. Vocês ainda estão nele para aprender a distinguir o erro da verdade;

faltam-lhes as lições da experiência para exercerem o vosso julgamento e vos fazer avançar. A unidade se fará do lado em que o bem nunca for misturado com o mal; é desse lado que os homens se reunirão pela força das coisas, porque eles reconhecerão que deste lado está a verdade.

“Aliás, que importam algumas dissidências, que estão mais na forma do que na essência?! Notem que os princípios fundamentais por toda parte são os mesmos e devem vos unir por um pensamento comum: o amor a Deus e à prática do bem. Então, seja qual for o modo de progresso que se supõe, ou as condições normais de existência futura, o objetivo final é o mesmo: fazer o bem. Ora, não há duas maneiras de fazer isso.”

Se entre os adeptos do espiritismo existem aqueles que diferem de opinião sobre alguns pontos da teoria, todos concordam sobre os pontos fundamentais. Portanto, há uma unidade, exceto da parte dos que, em número muito pequeno, não admitem ainda a intervenção dos Espíritos nas manifestações, e que as atribuem ou a causas puramente físicas — o que é contrário a este axioma: Todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente — ou as atribuem a um reflexo do nosso próprio pensamento — o que é desmentido pelos fatos. Os outros pontos são apenas secundários e não comprometem em nada as bases fundamentais. Com isso, pode haver escolas que procurem se esclarecer sobre as partes ainda controvertidas da ciência, mas não deve haver seitas rivais umas das outras. Não haveria antagonismo a não ser entre aqueles que queiram o bem e aqueles que fariam ou desejariam o mal: ora, não existe um espírita sincero e compenetrado dos grandes ensinamentos morais ensinados pelos Espíritos que possa querer o mal nem desejar o mal ao seu próximo, sem distinção de opinião. Se uma dessas escolas estiver no erro, cedo ou tarde a luz se fará para ela, desde que ela busque essa luz de boa-fé e sem preconceito. Enquanto isso, todas têm um

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laço comum que deve uni-las em um mesmo pensamento: todas elas têm um mesmo objetivo. Então, pouco importa o trajeto, uma vez que esse trajeto conduz a esse objetivo. Nenhuma dessas escolas espíritas deve se impor pelo constrangimento material ou moral, e estaria no caminho falso apenas aquela que lançasse anátema à outra, porque ela agiria evidentemente sob a influência de maus Espíritos. A razão deve ser o supremo argumento, e a moderação assegurará o triunfo da verdade melhor do que as críticas envenenadas pela inveja e pelo ciúme. Os bons Espíritos ensinam apenas a união e o amor ao próximo, pois um pensamento maldoso ou contrário à caridade nunca poderia vir de uma fonte pura. E para concluirmos, ouçamos sobre este assunto os conselhos do Espírito de santo Agostinho:

“Por muito tempo os homens lutaram entre si e remeteram anátema uns contra os outros em nome de um Deus de paz e de misericórdia — e Deus se ofende com tal sacrilégio. O espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade e onde está o erro. Mas por muito tempo ainda haverá escribas e fariseus que o negarão — como negaram o Cristo.

Querem saber então sob a influência de quais Espíritos estão as diversas seitas que dividiram entre si o mundo? Julguem-nas por suas obras e por seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais eles aconselharam nem legitimaram o assassinato e a violência; jamais incitaram os ódios das partes, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Somente aqueles que são bons, humanos e benevolentes para com todos são seus preferidos, e estes são também os preferidos de Jesus, porque eles seguem o caminho que ele lhes indicou para chegar até ele.”

SANTO AGOSTINHO


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