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— quarto céu, quinto céu... — exprimem diferentes estágios de purificação, e por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se ele está no inferno: se ele estiver infeliz, dirá sim, porque para ele

inferno é sinônimo de sofrimento. Mas ele sabe muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria que ele estaria no Tártaro.”

O mesmo acontece com muitas outras expressões análogas, tais como: cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera etc., que não passam de alegorias usadas por certos Espíritos — seja como símbolos, seja 65 A ideia de alma penada ( alma em pena, ou a alma a penar) faz parte do folclore popular como sendo um tipo de fantasma que vem assombrar e atormentar as pessoas justamente porque essa mesma alma está em sofrimento, às vezes desorientada por não ter encontrado a luz da sua salvação. Por sua vez, o Espiritismo redefine a situação dessa alma errante conforme as respostas contidas nesta obra. — N. T.

66 Na mitologia grega, os Campos Elísios formam o paraíso onde, após a morte, repousam ao lado dos deuses as almas dos homens virtuosos (heróis, sacerdotes, poetas...). — N. T.

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algumas vezes por ignorância da realidade das coisas e até mesmo das mais simples noções científicas.

Segundo a ideia restrita que se fazia antigamente dos lugares de sofrimentos e de recompensas — e principalmente na opinião de que a Terra era o centro do Universo, de que o céu formava uma abóbada e que havia uma região de estrelas —

colocava-se o céu em cima e o inferno embaixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, estar precipitado nos infernos. Hoje, que a ciência demonstrou que a Terra não passa de um dos menores planetas entre milhões de outros, sem importância especial; que a ciência traçou a história da formação da terra e descreveu sua constituição e provou que o espaço é infinito, que não há nem alto nem baixo no Universo, então se faz necessário renunciar à ideia de situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares baixos. Quanto ao purgatório, nenhum lugar foi designado para ele. Sobre todas essas coisas, estava reservado ao espiritismo dar a explicação mais racional, a mais grandiosa e ao mesmo tempo a mais consoladora para a humanidade. Assim, podemos dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e nosso paraíso. Quanto ao purgatório, nós o encontramos em nossa encarnação, em nossas vidas corporais ou físicas.

1018. Em que sentido devemos entender estas palavras do Cristo: Meu reino não é deste mundo?

“Respondendo assim, o Cristo falava num sentido figurado, querendo dizer que ele não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está onde quer que o amor do bem domine. Mas os homens ávidos pelas coisas deste mundo e apegados aos bens da Terra não estão com ele.”

1019. O reinado do bem algum dia poderá ser implantado na Terra?

“O bem reinará sobre a Terra quando, entre os Espíritos que vierem habitá-la, os bons predominarem sobre os maus; então eles farão reinar aqui o amor e a justiça — que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e que dela afastará os maus; entretanto, os maus só a deixarão quando o homem tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.

“A transformação da humanidade foi predita e vocês estão alcançando esse momento que é acelerado por todos os homens que ajudam o progresso.

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Essa transformação se cumprirá pela encarnação de Espíritos melhores que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então os Espíritos dos maus, que a morte ceifa a cada dia, e todos aqueles que tentam deter a marcha das coisas serão excluídos da Terra, porque ficariam deslocados entre os homens de bem dos quais eles perturbariam a felicidade. Eles irão para mundos novos, menos avançados, desempenhar missões penosas em que poderão trabalhar para o seu próprio adiantamento, ao mesmo tempo em que trabalharão para o avanço de seus irmãos ainda mais atrasados. Nessa exclusão da Terra transformada, vocês não percebem a sublime alegoria do

Paraíso perdido? E na vinda do homem à Terra em semelhantes condições e trazendo em si mesmo a semente de suas paixões e os traços de sua inferioridade primitiva, vocês não veem a alegoria não menos sublime do

pecado original? Considerado sob esse ponto de vista, o pecado original se refere à natureza ainda imperfeita do homem, que assim é responsável por ele próprio e por suas próprias faltas, e não pelas faltas de seus pais.

Todos vocês, homens de fé e de boa vontade, trabalhem então com zelo e coragem na grande obra da regeneração, pois vocês recolherão cem vezes mais o grão que tiverem semeado. Infelizes aqueles que fecham os olhos à luz, pois eles preparam para si longos séculos de trevas e decepções; infelizes os que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, pois eles sofrerão mais privações do que os prazeres de que já tiverem desfrutado; infelizes são principalmente os egoístas, porque não encontrarão ninguém para ajudá-los a carregar o fardo de suas misérias."

SÃO LUÍS

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CONCLUSÃO

I

Aquele que conhecesse do magnetismo terrestre somente o jogo dos patinhos imantados, que se movimentam na água de uma bacia, dificilmente poderia compreender que esse brinquedo contém o segredo do mecanismo do Universo e dos movimentos dos planetas. O mesmo acontece com quem só conhece do espiritismo o movimento das mesas; ele vê apenas um divertimento, um passatempo da sociedade, e não compreende que esse fenômeno tão simples e tão comum, conhecido da Antiguidade e até mesmo dos povos semisselvagens, possa ter alguma ligação com as questões mais sérias para a ordem social. De fato, para o observador superficial, que relação uma mesa que se move pode ter com a moral e com o futuro da humanidade?

Mas qualquer um que refletir há de se lembrar que da simples panela que ferve e cuja tampa se ergue — panela essa que ferve desde toda a Antiguidade

— saiu o possante motor com o qual o homem transpõe o espaço e supera as distâncias. Pois bem! Vocês, que não creem em nada fora do mundo material, saibam então que dessa mesa que se move e provoca vossos risos gozadores saiu toda uma ciência assim como a solução dos problemas que nenhuma outra filosofia ainda não pôde resolver. Apelo a todos os adversários de boa-fé e lhes adjuro a confessarem se vocês se deram ao trabalho de estudar o que criticam, pois em boa lógica a crítica não tem valor senão quando aquele que critica conhece aquilo de que fala. Zombar de uma coisa que não se conhece, sobre o que não se pesquisou com o critério do observador consciencioso, isso não é criticar, é dar prova de leviandade e fazer uma pobre ideia de seu próprio julgamento. Seguramente, se tivéssemos apresentado essa filosofia

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como sendo a obra de um cérebro humano, ela teria encontrado menos desprezo e receberia as honras do exame daqueles que pretendem dirigir a opinião pública; mas ela vem dos Espíritos; que absurdo! É com muito custo se lhe dispensam um de seus olhares; julgam-na apenas pelo título, como o macaco da fábula julgou a noz pela casca. Ignorem sua origem, como queiram: suponham que este livro seja obra de um homem e digam de vossa alma e consciência, após tê-la lido seriamente, se vocês encontram nele motivo para zombaria.

II

O espiritismo é o antagonista mais terrível do materialismo, então não é de se admirar que ele tenha os materialistas como adversários. Mas como o materialismo é uma doutrina que poucos se atrevem a confessar (prova de que aqueles que a professam não estão bem seguros de suas convicções e que são dominados por sua consciência) eles se cobrem com o manto da razão e da ciência, e — que coisa bizarra! — os mais céticos falam até mesmo em nome da religião, que também não conhecem e não compreendem melhor do que o espiritismo. Seu alvo de ataque se concentra principalmente no

maravilhoso e no sobrenatural, que eles não admitem: de acordo com eles, o espiritismo, sendo fundado no maravilhoso, não passa de uma suposição ridícula. Não pensam que, ao fazer o julgamento do maravilhoso e do sobrenatural sem restrições, eles também julgam a religião. De fato, a religião se fundamenta na revelação e nos milagres; ora, o que é a revelação senão comunicações extra-humanas? Desde Moisés, todos os autores sagrados têm falado nesses tipos de comunicações. O que são os milagres senão fatos maravilhosos e sobrenaturais por excelência, uma vez que, no sentido litúrgico, eles são derrogações das leis da natureza? Portanto, ao rejeitarem o maravilhoso e o sobrenatural, eles rejeitam as próprias bases de toda religião.

Mas não é sob esse ponto de vista que devemos encarar a questão: o espiritismo não tem que examinar se existem ou não milagres, isto é, se em certos casos Deus pôde derrogar as leis eternas que regem o Universo; o

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espiritismo dá toda a liberdade de crença em relação a isso; ele diz e prova que os fenômenos sobre os quais ele se apoia nada têm de sobrenatural, a não ser a aparência. Esses fenômenos não parecem naturais aos olhos de certas pessoas porque são incomuns e estão fora dos fatos conhecidos; mas não são mais sobrenaturais do que todos os fenômenos dos quais a ciência atualmente nos dá a solução e que pareciam maravilhosos numa outra época. Todos os fenômenos espíritas — sem exceção — são a consequência das leis gerais: esses fenômenos nos revelam uma das potências da natureza — potência desconhecida, ou melhor, incompreendida até os nossos dias, mas que a observação demonstra estarem na ordem das coisas. Logo, o espiritismo se fundamenta menos no maravilhoso e no sobrenatural do que a própria religião; aqueles que o atacam nesse quesito é porque então não o conhecem, e ainda que fossem os homens mais sábios, nós lhes diríamos: se a vossa ciência, que vos ensinou tanta coisa, não ensinou que o domínio da natureza é infinito, então vós não sois mais do que meio sábios.

III

Conforme dizem, vocês desejam curar o vosso século de uma mania que ameaça invadir o mundo. Então gostariam mais que o mundo fosse invadido pela incredulidade que vocês procuram propagar? Não é por causa da ausência de toda crença que se deve atribuir o relaxamento dos laços de família e a maior parte das desordens que minam a sociedade? Ao demonstrar a existência e a imortalidade da alma, o espiritismo reanima a fé no futuro, reergue as coragens abatidas, faz suportar com resignação as dificuldades da vida. Vocês ousariam chamar isso um mal? Duas doutrinas se apresentam: uma que nega o futuro e a outra que proclama e prova o futuro; uma que nada explica e a outra que explica tudo e por isso mesmo se dirige à razão; uma é a sanção do egoísmo e a outra dá uma base à justiça, à caridade e ao amor de seus semelhantes; a primeira mostra apenas o presente e aniquila toda a esperança, enquanto a segunda consola e mostra o vasto campo do futuro.

Qual delas é a mais perniciosa?

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Certas pessoas — e dentre as mais descrentes — proclama-se apóstolos da fraternidade e do progresso; mas a fraternidade pressupõe o desinteresse e a renúncia da personalidade. Com a verdadeira fraternidade, o orgulho é uma anomalia. Com que direito vocês impõe um sacrifício àquele a quem vocês falam que quando ele estiver morto tudo estará acabado para ele, e que amanhã talvez ele não seja nada mais do que uma velha máquina desmantelada e jogada fora? Que razão ele teria para impor a si mesmo uma privação qualquer? Não é mais natural que, durante os breves instantes que vocês lhe concedem, ele procure viver o melhor possível? Daí vem o desejo de possuir bastante para melhor desfrutar; desse desejo nasce a inveja contra os que possuem mais que ele, e dessa inveja até a vontade de tomar o que eles têm, não falta mais do que um passo. O que pode detê-lo? A lei? Mas a lei não abrange todos os casos. Dirão que é a consciência e o sentimento do dever?

Mas no que vocês baseiam o sentimento do dever? Esse sentimento teria uma razão de ser com a crença de que tudo termina com a vida? Com essa crença, apenas uma máxima é racional: cada um por si; as ideias de fraternidade, de consciência, de dever, de humanidade e até mesmo de progresso não passam de palavras vãs. Ah, vocês que proclamam tais doutrinas, vocês não sabem todo o mal que fazem à sociedade, nem por quantos crimes vocês assumem a responsabilidade! Mas o que falo sobre responsabilidade? Para o cético, isso não existe, ele não presta homenagem a não ser à matéria.

IV

Are sens

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