A criada de Leopoldina, a Justina, uma magrita muito trigueira, de buço e esperava na sala de jantar. Era amiga de Juliana; beijocavam-se muito, diziam-se sempre finezas. E depois de ter guardado a resposta de Luísa num cabazinho que trazia no braço, traçou o xale e muito risonha:
—
Então que há por cá de novo, Sra. Juliana?
—
Tudo velho, Sra. Justina. E mais baixo:
—
O primo da senhora, agora, vem todos os dias. Perfeito rapaz! Tossiram ambas, baixinho, com malícia.
—
E por lá, Sra. Justina, quem vai por lá?
Justina fez um aceno de desprezo.
—
Um rapazola, um estudante. Fraca coisa!. .
—
Sempre pinga — disse Juliana com um risinho.
A outra exclamou:
—
Olha quem! O pelintra! Nem cheta!
E erguendo o olhar com saudade:
—
Ai, como o Gama não há! Quando era do tempo do Gama, isso sim!
Nunca ia que me não desse os seus dez tostões, às vezes meia libra. Ai, devo dize-lo, foi ele que me ajudou para o meu vestido de seda! Este agora!. . E um fedelho. Eu nem sei como a senhora suporta aquilo! E amarelado, enfezado!
Aquilo pode prestar para nada!
Juliana disse então:
—
Pois olhe, Sra. Justina, eu agora é que começo a considerar: é onde se está bem, é em casas em que há podres! Encontrei ontem a Agostinha, a que está em casa do comendador, ao Rato. . Pois senhor, não se imagina. É tudo o que se pode! Tudo! Anel, vestido de seda, sombrinha, chapéu! E de roupa
branca diz que é um enxoval. E tudo o coiceiro, o que está com a ama. E
pelas festas sua moeda. Diz que é um homem rasgado. Ela também, verdade seja, tem um trabalhão: fá-lo entrar pelo jardim, e para o fazer sair tem de esperar. .
—
Ah, lá não! — acudiu a Justina. — Lá é pela escada.
Riram baixinho, saboreando o escândalo.
—
Génios. . — disse Juliana.
—
Ai, lá isso, o nosso tem estômago — afirmou Justina. — Encontram na escada, e tanto se lhe dá. .
E muito afetuosamente, arranjando o xale:
—
E adeusinho, que se faz tarde, Sra. Juliana. Ela vem hoje cá jantar, a senhora. Estive toda a manhã a engomar uma saia; desde às sete!
—
Também eu por cá — disse Juliana. — Elas é o que tem; quando há amante sempre há mais que engomar.
—
Deitam mais roupa branca, deitam — observou a Justina.
—
As que deitam! — exclamou Juliana, com desprezo.
Mas Luísa tocou a campainha dentro.
—
Adeus, Sra. Juliana — disse logo a outra, ajeitando o chapéu.
—
Adeus, Sra. Justina.
Foi acompanhá-la ao patamar. Beijocaram-se. Juliana voltou muito apressada ao quarto de Luísa; estava já a pé, vestindo-se, muito alegre, cantarolando.
O bilhete de Leopoldina dizia na sua letra torta: O meu marido vai hoje para o campo. Eu vou-te pedir de jantar, mas não posso ir antes das seis. Convém-te?