As janelas estão trancadas, meu amo — disse o Pintéus.
Basílio recuou ao meio da rua: as portadas verdes estavam fechadas, a casa tinha um aspeto mudo.
Basílio dirigiu-se ao Paula:
—
Os senhores que ali moram, estão para fora?
—
Já não moram — disse o Paula soturnamente, passando a mão sobre o bigode. Basílio fixou-o, surpreendido daquela entonação fúnebre.
—
Onde vivem agora então?
O Paula escarrou, e cravou em Basílio um olhar desolado:
—
Vossa Senhoria é o parente? Basílio disse sorrindo.
—
Sou o parente, sou.
—
Então não sabe?
—
O quê, homem de Deus?
O Paula esfregou o queixo, e bamboleando a cabeça:
—
Pois sinto dizer-lho. A senhora morreu.
—
Que senhora? — perguntou Basílio. E fez-se muito branco.
—
A senhora! A senhora D. Luísa, a mulher do Sr. Carvalho, o Engenheiro. . E o Sr. Jorge está em casa do Sr. Sebastião. Ali ao fim da rua. se a vossa Senhoria lá quer ir..
—
Não! — fez Basílio com um gesto rápido da mão. Os beiços tremiam-lhe um pouco. — Mas que foi?
—
Uma febre! Rapou-a em dois dias!
Basílio dirigiu-se ao cupê devagar, com a cabeça baixa. Olhou mais uma vez para a casa; fechou com força a portinhola. O Pintéus bateu para a Baixa.
O Paula então aproximou-se do estanque:
—
Não lhe fez muita mossa! Fidalgos! Canalha! — murmurou. A estanqueira disse lamentosamente:
—
Pois eu não sou parenta, e todas as noites lhe rezo dois Padre-Nossos por alma. .
—
E eu! — suspirou a carvoeira.
—
Há de lhe isso servir de muito! — rosnou o Paula, afastando-se.
Estava ultimamente mais amargo. Vendia pouco. Aquelas mortes na rua traziam-no desconfiado da vida. Cada dia detestava mais os padres! E todas as noites lia a Nação que lhe emprestava o Azevedo, repastando-se com rancor de artigos devotos que o exasperavam, o impeliam para o ateísmo; e o descontentamento das coisas públicas inclinava-o para a comuna. Como ele dizia, achava tudo uma porcaria.