—
Estava a cear no Grémio, quando trovejou.
—
Costumas cear?
Ele teve um sorriso infeliz. — Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grémio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!
E fitando-a:
—
Por tua causa, ingrata!
—
Por sua causa?
—
Por quem, então? porque vim eu a Lisboa? porque deixei Paris?
—
Por causa dos teus negócios...
Ele encarou-a severamente:
—
Obrigado — disse, curvando-se até ao chão.
E a grandes passadas pela sala soprava violentamente o fumo do seu charuto.
Veio sentar-se bruscamente ao pé dela. — Não, realmente era injusta. Se em Lisboa, era por ela. Só por ela!
Fez uma voz meiga; perguntou-lhe se lhe tinha realmente um bocadinho de amor muito pequenino, assim.. — Mostrava o comprimento da unha.
Riram.
—
Assim, talvez.
E o peito de Luísa arfava.
Ele então examinou-lhe as unhas; admirou-lhas e aconselhou-lhe o verniz que usam as cocotes, que lhes dá um lustre polido; ia-se apossando da sua mão, pôs-lhe um beijo na ponta dos dedos; chupou o dedo mínimo, jurou que era muito doce; arranjou-lhe com um contato muito tímido uns fios de cabelos que se tinham soltado — e, disse, tinha um pedido a fazer-lhe!
Olhava-a com uma suplicação.
—
Que é?
—
É que venhas comigo ao campo. Deve estar lindo no campo!
Ela não respondeu; dava pancadinhas leves nas pregas moles do roupão.
—
É muito simples — acrescentou ele. — Tu vais-me encontrar a qualquer parte, longe daqui, está claro. Eu estou à espera de ti com uma carruagem, tu saltas para dentro e fouette, cocher!
Luísa hesitava.
—
Não digas que não.
—
Mas onde?
—
Onde tu quiseres. A Paço de Arcos, a Loures, a Queluz. Diz que sim.