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— Esqueci-me o restituir-vos ontem o que não me pertence.

— E ainda esse malfadado bracelete?

— Sim, respondeu a moça docemente, é este malfadado bracelete: Cecília teima que é ele vosso.

— Se meu é, vos peço que o aceiteis.

— Não, Sr. Álvaro, não tenho direito.

— Uma irmã não tem direito de aceitar a prenda que lhe oferece seu irmão?

— Tendes razão, respondeu a moça suspirando, eu o guardarei como lembrança vossa; não será adorno para mim, senão relíquia.

Página 145

O moço não respondeu; retirou-se para cortar a conversa.

Desde a véspera Álvaro não podia eximir-se à impressão poderosa que causara nele a paixão de Isabel; era preciso que não fosse homem para não se sentir profundamente comovido pelo amor ardente de uma mulher bela, e pelas palavras de fogo que corriam dos lábios de Isabel impregnadas de perfume e sentimento.

Mas a razão direita do cavalheiro recalcava essa impressão no fundo do coração; ele não se pertencia; tinha aceitado o legado de D. Antônio de Mariz e jurado dar a sua mão a Cecília.

Embora não esperasse mais realizar o seu sonho dourado, entendia que estava vigorosamente obrigado a sujeitar-se a vontade do fidalgo, a proteger sua filha, a dedicar-lhe sua existência. Quando Cecília o repelisse abertamente, e D. Antônio o desobrigasse de sua promessa, então seu coração seria livre, se não estivesse morto pelo desengano.

O único fato notável que se deu nesse dia foi a chegada de seis aventureiros das vizinhanças, que prevenidos por D. Diogo vinham oferecer seus serviços a D.

Antônio.

Chegaram ao lusco-fusco; à frente deles vinha o nosso conhecido mestre Nunes, que um ano antes dera hospitalidade no seu pouso a Frei Ângelo di Luca.

Página 146

III VERME E FLOR

Eram onze horas da noite.

O silêncio reinava na habitação e seus arredores; tudo estava tranqüilo e sereno.

Algumas estrelas brilhavam no céu; os sopros escassos da viração sussurravam na folhagem.

Os dois homens de vigia, apoiados ao arcabuz e reclinados sobre o alcantil, sondavam a sombra espessa que se estendia pela aba do rochedo.

O vulto majestoso de D. Antônio de Mariz passou lentamente pela esplanada, e desapareceu no canto da casa. O fidalgo fazia sua ronda noturna, como um general na véspera de uma batalha.

Passados alguns momentos ouviu-se cantar uma coruja no vale, junto da escada de pedra; um dos vigias abaixou-se, e tomando dois pequenos seixos deixou-os cair um depois do outro.

O som fraco que produziu a queda das pedras sobre o arvoredo da várzea foi quase imperceptível; seria difícil distingui-lo do rumor do vento nas folhas.

Um instante depois um vulto subiu ligeiramente a escada, e reuniu-se aos dois homens que faziam a guarda noturna::

— Tudo está pronto?

— Só esperamos por vós.

— Vamos! Não há tempo a perder.

Trocadas estas palavras rapidamente entre o que chegava e um dos vigias, os três encaminharam-se com todas as precauções para a alpendrada em que habitava a banda dos aventureiros.

Aí, como no resto da casa, tudo estava calmo e tranqüilo; apenas via-se luzir na soleira da porta do aposento de Aires Gomes a claridade de uma luz.

Um dos três chegou-se à entrada do alpendre, e esgueirando-se pela parede perdeu-se na escuridão que havia no interior.

Os outros dois se dirigiam ao fim da casa, e ai ocultos pela sombra e pelo ângulo que formava um largo pilar do edifício, começaram um diálogo breve e rápido.

— Quantos são? perguntou o homem que chegara.

— Vinte ao todo.

— Restam-nos?

— Dezenove.

— Bem. A senha?.

— Prata.

— E o fogo?

— Pronto.

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