O túmulo é o ponto de encontro de todos os homens; nele terminam impiedosamente todas as distinções humanas. É em vão que os ricos tentam perpetuar a própria memória através de faustosos monumentos: o tempo os destruirá, como o corpo; assim o quer a natureza. A lembrança das suas boas e suas
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más ações será menos perecível do que o seu túmulo; a pompa dos funerais não o limpará das suas torpezas e nem o fará subir sequer um degrau na hierarquia espiritual. (Ver a questão 320 e as seguintes.)
370 – Allan Kardec
CAPÍTULO X
LEI DE LIBERDADE
Liberdade natural – Escravidão – Liberdade de pensamento
– Liberdade de consciência – Livre-arbítrio – Fatalidade –
Conhecimento do futuro –
Resumo teórico da motivação das ações humanas
Liberdade natural
825. Haverá posições no mundo em que o homem possa se orgulhar de desfrutar de uma absoluta liberdade?
“Não, porque todos vocês precisam uns dos outros — desde os pequenos até os grandes.”
826. Qual seria a condição para o homem gozar de uma liberdade absoluta?
“A do eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, eles têm
direitos a respeitar e por isso não têm mais liberdade absoluta.”
827. A obrigação de respeitar os direitos alheios tira do homem o direito de pertencer a si mesmo?
“De modo algum, pois este é um direito que ele tem por natureza.”
828. Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com o despotismo que eles mesmos costumam exercer no seu lar e sobre os seus subordinados?
“Eles têm o conhecimento da lei natural, mas é contrabalançado pelo orgulho e pelo egoísmo. Quando seus princípios não são uma comédia bem encenada por interesses, eles compreendem aquilo que se deve fazer, mas eles não o fazem.”
371 – O Livro dos Espíritos
828-a. — Os princípios que eles professaram neste mundo lhes serão levados em conta na outra vida?
“Quanto mais inteligência a pessoa tem para compreender um princípio, tanto menos desculpável ela é por não o aplicar a si mesma. Eu vos digo, na verdade, que a pessoa simples, porém sincera, está mais avançada no caminho de Deus do que aquela que pretenda parecer o que não é.”
Escravidão
829. Há homens que estejam naturalmente destinados a serem uma propriedade de outros homens?
“Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força; ela desaparece com o progresso como gradativamente desaparecerão todos os abusos.”
A lei humana que consagra a escravidão é uma lei contra a natureza, pois ela assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente.
830. Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, os que se aproveitam dela são condenáveis, já que eles não fazem mais do que seguir uma prática que lhes pareça natural?
“O mal é sempre o mal, e todos os vossos sofismas não farão com que uma má ação se torne boa. Contudo, a responsabilidade do mal é relativa aos meios que se tenha para compreendê-lo. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado de uma violação da lei da natureza, mas nisso —
como em todas as coisas — a culpabilidade é relativa. Sendo a escravidão introduzida nos costumes de determinados povos, o homem pôde se aproveitar dela de boa-fé e como de uma coisa que lhe parecia natural.
Entretanto, desde que a sua razão — mais desenvolvida e sobretudo esclarecida pelas luzes do cristianismo — lhe mostrou no escravo seu semelhante perante Deus, ele não tem mais nenhuma desculpa.”
831. A desigualdade natural das aptidões não coloca determinadas raças
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humanas sob a dependência das raças mais inteligentes?
“Sim, mas para elevar essas raças, e não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante um longo tempo, os homens consideram algumas raças humanas como animais de trabalho munidos de braços e mãos que eles se julgaram no direito de vender como bestas de carga. Consideram-se de um sangue mais puro. Insensatos, que só veem a matéria! Não é o sangue que seja mais ou menos puro, e sim o Espírito.” (Ver as questões 361 a 803.) 832. Há homens que tratam seus escravos com bondade; que não lhes deixam faltar nada e pensam que a liberdade os exporia a maiores privações. O que os Espíritos dizem disso?
“Eu digo que estes cuidam melhor dos próprios interesses; eles também têm um grande cuidado com seus bois e seus cavalos, a fim de tirar mais proveito deles no mercado. Não são tão culpados assim quanto aqueles que maltratam seus escravos, mas nem por isso deixam de usá-los como uma mercadoria, ao lhes privar do direito de se pertencerem.”
Liberdade de pensamento
833. Há no homem alguma coisa que escape a todo constrangimento e pela qual ele goze de absoluta liberdade?
“É pelo pensamento que o homem goza de uma liberdade ilimitada, pois o pensamento não conhece entraves. Podemos deter a sua expansão, porém não o aniquilar.”
834. O homem é responsável pelo seu pensamento?