“Sim. Já dissemos que a sociedade muitas vezes é a causa primordial desses males. Além disso, ela não deve velar pela educação moral das pessoas? Quase sempre é a má-educação quem distorce seu julgamento ao invés de sufocar as tendências perniciosas das pessoas.” (Ver a questão 685.)
366 – Allan Kardec
Provas da riqueza e da miséria
814. Por que Deus deu a uns as riquezas e o poder, e a outros a miséria?
“Para experimentar cada pessoa de uma maneira diferente. Além do mais, como vocês sabem, essas provações são escolhidas pelos próprios Espíritos, e nisso muitas vezes eles fracassam.”
815. Qual das duas provas é a mais difícil para o homem: a da desgraça ou a da riqueza?
“Tanto uma quanto a outra. A miséria provoca queixas contra a Providência; a riqueza excita a todos os excessos.”
816. Se os ricos têm mais tentações, por outro lado também não dispõem de mais meios de fazer o bem?
“Mas é justamente isso o que ele nem sempre faz; então se torna egoísta, orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com sua fortuna e ele jamais acredita possuir o bastante para si mesmo.”
A elevação neste mundo e sua autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias quanto a desgraça, porque, quanto mais a pessoa é rica e poderosa, mais obrigações ela tem a cumprir e maiores são as oportunidades de fazer o bem e o mal. Deus prova o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que faz dos seus bens e do seu poder.
A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse: “Em verdade vos digo que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.” (Ver a questão 266.) Igualdade dos direitos do homem e da mulher
817. O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?
“Deus não concedeu a todos os dois a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?”
367 – O Livro dos Espíritos
818. De onde provém a inferioridade moral da mulher em certos países?
“Da dominação injusta e cruel que o homem tem exercido sobre ela. É
um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza.
Entre homens moralmente pouco avançados no ponto de vista moral, a força impõe o direito.”
819. Com que objetivo a mulher é mais fraca fisicamente do que o homem?
“Para designar a ela funções específicas. O homem destina-se para os trabalhos rudes, por ser o mais forte; a mulher destina-se para os trabalhos leves; e ambos para se ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargura.”
820. A fragilidade física da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência do homem?
“A uns, Deus deu a força para proteger o fraco, e não para escravizá-lo.”
Deus apropriou o organismo de cada ser às funções que ele deve desempenhar. Se ele deu à mulher uma menor força física, deu-lhe ao mesmo tempo uma maior sensibilidade em relação com a delicadeza das funções maternais e com a fragilidade dos seres confiados aos seus cuidados.
821. As funções para as quais a mulher está destinada pela natureza têm uma importância tão grande quanto aquelas reservadas para o homem?
“Sim, e até maior; é ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.”
822. Sendo iguais perante a lei de Deus, todos devem ser iguais também perante as leis humanas?
“Este é o primeiro princípio de justiça: Não façam aos outros aquilo que não gostariam que eles fizessem a vocês.”
822-a. — De acordo com isso, para ser perfeitamente justa, a legislação deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?
“Dos direitos, sim; das funções, não. É preciso que cada um tenha um lugar designado: que o homem se ocupe do exterior e a mulher cuide do interior; cada um conforme sua aptidão. A lei humana, para ser
368 – Allan Kardec
equânime, deve garantir a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou ao outro é contrário à justiça.
A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização, enquanto a dominação sobre ela marcha com a barbárie. Os sexos, aliás, só existem pela organização física; como os Espíritos podem tomar um e o outro, não há nenhuma diferença entre eles nesse aspecto, e, portanto, eles devem gozar dos mesmos direitos.”
Igualdade perante o túmulo
823. Donde vem o desejo de perpetuar a própria memória através dos monumentos fúnebres?
“Último ato de orgulho.”
823-a. — Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres geralmente não vem mais dos parentes que desejam honorificar a memória do defunto, mais até do que da vontade do próprio falecido?
“Orgulho dos parentes que querem glorificar a si mesmos. Ah, sim!
Nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações: é por amor-próprio e para o mundo, bem como para ostentação da sua riqueza. Porventura você acredita que a lembrança de um ente querido dure menos no coração do pobre, só porque este não pode colocar mais do que uma flor sobre o túmulo? Acredita que o mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?”
824. Então vocês reprovam de um modo absoluto a pompa dos funerais?
“Não; quando ela honra a memória de um homem de bem, então ela é justa e é um bom exemplo.”