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“Da mesma forma caberia perguntar por que Deus não criou o homem perfeito e acabado (Ver a questão 119); por que o homem tem que passar pela infância antes de chegar à condição de adulto. (Questão 379.) A prova não tem por finalidade esclarecer Deus sobre o mérito do homem, pois Deus sabe perfeitamente o que ele vale; a finalidade é dar ao homem toda a responsabilidade da sua ação, uma vez que ele está livre para realizá-la ou não. Como o homem tem a escolha do bem e do mal, a provação tem por efeito colocá-lo em luta contra as tentações do mal e lhe conferir todo o mérito da resistência. Ora, embora Deus saiba muito bem de antemão se o homem triunfará ou não, ele não pode, em sua justiça, nem o punir e o nem recompensar por um ato que ainda não tenha se concretizado.” (Questão 258.) Assim acontece entre os homens. Por mais capaz que seja um estudante, qualquer certeza que se tenha de vê-lo triunfar não confere a ele nenhuma

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graduação sem exame, ou seja, sem prova; do mesmo modo, o juiz não condena um acusado senão por um ato consumado, e não pela previsão que ele possa ou deva consumar esse ato.

Quanto mais refletimos sobre as consequências que resultariam para a pessoa o conhecimento do futuro, mais nós vemos o quanto a Providência foi sábia em escondê-la do homem. A certeza de um acontecimento feliz o mergulharia na inércia e a certeza de um acontecimento infeliz, no desencorajamento; nos dois casos, suas forças seriam paralisadas. Por isso o futuro é apenas revelado ao homem como um objetivo que ele deve atingir por esforços próprios, mas sem conhecer o processo pelo qual deva passar para atingi-lo. O conhecimento de todos os incidentes do trajeto diminuiria sua iniciativa e o uso de seu livre-arbítrio; ele se deixaria levar pela ladeira fatal dos eventos sem exercer suas capacidades. Quando o sucesso de uma coisa é garantido, ninguém se preocupa mais com ela.

Resumo teórico da motivação das ações humanas

872. A questão do livre-arbítrio pode ser resumida assim: o homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que ele pratica não estavam escritos antecipadamente; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Como prova e expiação, ele pode escolher uma existência em que terá arrastamentos para o crime — seja pelo meio onde ele se encontre, seja pelas circunstâncias que surjam —, mas ele sempre está livre para agir ou não.

Logo, o livre-arbítrio existe no estado de Espírito — na escolha da existência e das provas — e no estado corporal — na capacidade de ceder ou de resistir aos arrastamentos aos quais estamos voluntariamente submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências; ela o fará utilmente quando estiver baseada no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem essa natureza moral poderemos modificá-la, como modificamos a inteligência através da instrução, e a saúde através da higiene.

O Espírito, desagarrado da matéria e no estado errante, faz a escolha de suas existências corporais futuras de acordo com o grau de perfeição a que tenha chegado, e, como dissemos, é nisso que consiste principalmente o seu

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livre-arbítrio. Essa liberdade não é anulada pela encarnação; se ele cede à influência da matéria, é porque fracassa nas próprias provas que ele escolheu, e para ajudá-lo a superá-las é que ele pode evocar a assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Veja a questão 337.)

Sem o livre-arbítrio, o homem não teria culpa no mal nem mérito no bem, e isso é tão conhecido que, no mundo, sempre proporcionamos a censura ou elogio à intenção, quer dizer, à vontade; portanto, quem diz vontade diz liberdade. Então o homem não pode procurar uma desculpa para seus erros em seu organismo, sem abdicar da sua razão e da sua condição de ser humano, para se igualar ao ser bruto. Se seu organismo fosse responsável pelo mal, assim também seria pelo bem. Mas quando o homem faz o bem ele tem muito cuidado para fazer disso um mérito, e não cuida para gratificar seus órgãos — o que atesta que, apesar da opinião de alguns sistemáticos, ele não renuncia instintivamente ao mais belo dos privilégios de sua espécie: a liberdade de pensar.

A fatalidade, tal como se entende vulgarmente, supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os acontecimentos da vida, qualquer que seja a sua importância. Se assim fosse a ordem das coisas, o homem seria uma máquina sem vontade. Para que lhe serviria sua inteligência, uma vez que em todos os atos ele seria invariavelmente dominado pelo poder do destino? Uma doutrina assim, se fosse verdadeira, seria a destruição de toda a liberdade moral; não haveria mais responsabilidade para o homem e, por consequência, nem o bem, nem o mal, nem os crimes, nem as virtudes. Deus, soberanamente justo, não poderia castigar sua criatura por faltas que não dependeram dela e nem a recompensar pelas virtudes das quais ela não teria o mérito. Uma lei assim, por outro lado, seria a negação da lei do progresso, pois o homem que esperasse tudo do destino não tentaria nada para melhorar sua posição, já que não conseguiria mudá-la nem para melhor nem para pior.

Portanto, a fatalidade não é uma palavra vã; ela existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí cumpre, por consequência do gênero de existência que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou

missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as

tendências boas ou más que lhe são próprias; porém, aí termina a fatalidade,

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porque depende da sua vontade ceder ou não a essas tendências. O detalhe

dos acontecimentos depende das circunstâncias que ele mesmo provoca

por seus atos e sobre as quais os Espíritos podem influenciar pelos pensamentos que eles sugerem. (Veja a questão 459.)

A fatalidade está então nos eventos que se apresentam, posto que eles são a sequência da escolha da existência feita pelo Espírito. Ela pode deixar de ser o resultado desses eventos, pois pode depender do homem modificar sua direção através da sua prudência; ela nunca está nos atos da vida moral.

É na morte que o homem fica — de uma maneira absoluta — submetido à inexorável lei da fatalidade, pois ele não pode escapar nem da sentença que fixa o término de sua existência nem do gênero de morte que deve interromper o seu curso.

Segundo a doutrina comum, o homem possuiria todos os seus instintos em si mesmo; eles procederiam seja do seu próprio organismo físico — pelo qual ele não seria ser responsável — seja da sua própria natureza — na qual ele pode procurar uma desculpa, aos seus próprios olhos, dizendo que não é sua culpa já que foi criado assim. A doutrina espírita é evidentemente mais moral: ela admite no homem o livre-arbítrio em toda sua plenitude e, ao lhe dizer que se ele faz o mal, ele cede a uma má sugestão exterior, deixa-lhe toda a responsabilidade, uma vez que ela reconhece nele o poder de resistir — o que evidentemente é mais fácil do que se ele tivesse que lutar contra a sua própria natureza. Desse modo, segundo a doutrina espírita, não há sedução irresistível: o homem sempre pode fechar os ouvidos à voz oculta que o convida ao mal em seu foro íntimo, assim como pode fechá-los à voz material de alguém que lhe fala; ele pode fazer isso por sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e rogando nesse sentido a assistência dos bons Espíritos. É o que Jesus nos ensina na sublime prece da Oração dominical, quando ele nos faz dizer: “Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal.”

Essa teoria da causa excitante dos nossos atos ressalta evidentemente de todo o ensinamento dado pelos Espíritos. Não somente ela é sublime em moralidade como acrescentaremos que ela eleva o homem a seus próprios olhos; ela mostra-o livre para repelir um domínio obsessor, assim como para fechar sua casa aos importunos. Não é mais uma máquina agindo por um

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impulso independente de sua vontade, mas é um ser racional, que escuta, que julga e que decide livremente um entre dois conselhos. Malgrado isso, acrescentamos que o homem não está privado de sua iniciativa; ele não age menos pelo seu próprio impulso, já que definitivamente ele é apenas um Espírito encarnado que conserva sob a sua vestimenta corporal as qualidades e os defeitos que ele tinha como Espírito. As faltas que cometemos têm então a sua origem primordial na imperfeição de nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral que terá um dia, mas que nem por isso tem menos livre-arbítrio. A vida corporal lhe é dada para se purgar de suas imperfeições através das provas que ele experimenta, e são precisamente essas imperfeições que o tornam mais frágil e mais acessível às sugestões dos outros Espíritos imperfeitos, que se aproveitam delas para tentar fazê-lo fracassar na luta que empreendeu. Se sair vencedor dessa luta, então se eleva;

se tombar, permanece o que era — nem pior, nem melhor: é uma prova que terá de recomeçar, e isso pode durar um longo tempo assim. Quanto mais ele se depura, mais seus pontos fracos diminuem e menos dá lugar àqueles que procuram incitá-lo ao mal; sua força moral cresce na proporção de sua elevação, e os maus Espíritos se afastam dele.

Todos os Espíritos, mais ou menos bons, enquanto estão encarnados, constituem a espécie humana, e como a Terra é um dos mundos menos avançados, nela se encontram mais Espíritos maus do que bons. Eis por que encontramos aqui tanta perversidade. Portanto, façamos todos os esforços para não voltarmos aqui após essa instância, e para merecermos ir repousar num mundo melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e onde nos lembraremos de nossa passagem por aqui apenas como um exílio temporário.

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CAPÍTULO XI

LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR

E DE CARIDADE

Justiça e direitos naturais – Direito de propriedade. Roubo

– Caridade e amor ao próximo – Amor materno e filial

Justiça e direitos naturais

873. O sentimento de justiça faz parte da natureza ou é o resultado de ideias adquiridas?

“Tanto faz parte da natureza que vocês se revoltam só de pensar em uma injustiça. O progresso moral sem dúvidas desenvolve esse sentimento, mas não o dá: foi Deus quem o colocou no coração do homem. É por isso que vocês geralmente encontram mais nos homens simples e primitivos as noções mais exatas de justiça, e não naqueles que têm muito conhecimento.”

874. Se a justiça é uma lei da natureza, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, e que um ache justo aquilo que parece injusto a outro?

“É que muitas vezes se mistura esse sentimento de justiça com paixões que o alteram — como na maior parte dos outros sentimentos naturais — e então fazem ver as coisas sob um falso ponto de vista.”

875. Como podemos definir a justiça?

“Justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.”

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