A Juliana apanhou-me umas cartas! — disse enfim por entre soluços.
— Quer seiscentos mil réis! Estou perdida. . Tem-me martirizado... Quero que me digas, vê se te lembras.. Estou como doida. Sou eu que faço tudo em casa. . Morro, não posso! — E as lágrimas redobravam.
—
E as tuas joias?
—
Valem duzentos mil réis. E Jorge, que lhe havia eu de dizer?
Leopoldina ficou um momento calada, e olhando em roda de si, abrindo os braços:
—
Tudo o que eu tenho, no prego, minha filha, dá vinte libras!. .
Luísa murmurava, limpando os olhos:
—
Que expiação esta, Santo Deus, que expiação!
—
Que diz a carta?
—
Horrores! Estava doida. . É uma minha, duas dele.
—
De teu primo?
Luísa disse "sim", com a cabeça, lentamente.— E ele?
—
Não sei! Está em França, nunca me respondeu.
—
Pulha! Como tas apanhou, a mulher?
Luísa contou rapidamente a história do sarcófago, e do cofre.
—
Mas tu também, Luísa, atirar uma carta dessas! Oh, mulher, isso é medonho!
E Leopoldina pôs-se a passear pelo quarto, arrastando a longa cauda do roupão escarlate; os seus grandes olhos negros, excitados, pareciam procurar um meio, um expediente. . Murmurava:
—
A questão é de dinheiro..
Luísa, prostrada no sofá, repetia:
—
A questão é de dinheiro!
Então Leopoldina, parando bruscamente diante dela:
—
Eu sei quem te dava o dinheiro!...
—
Quem?
—
Um homem.
Luísa ergueu-se, espantada:
—
Quem?
—
O Castro.
—
O de óculos?
—
O de óculos.
Luísa fez-se muito corada:
—