—
Fico entendida, minha senhora! Pode estar sossegada!
Com efeito Jorge, ao outro dia, depois do café, voltou-se para Juliana, e com bondade:
—
Parece que você fez boa companhia à Sra. Luísa.
—
Fiz o meu dever — exclamou, curvando-se com a mão no peito.
—
Bem, bem — fez Jorge, remexendo no bolso. E ao sair da sala meteu na mão meia libra.
—
Palerma! — rosnou ela.
Foi nessa semana que começou a queixar-se à Luísa, que a roupa e os vestidos, na arca, se lhe amarfanhavam.. Estava-se-lhe a estragar tudo! Se ela tivesse dinheiro, não vinha com aqueles pedidos à senhora, mas... Enfim uma manhã declarou terminantemente que precisava uma cómoda.
Luísa sentiu uma raiva acender-lhe o sangue, e sem levantar os olhos do bordado
—
Uma meia cómoda?
—
Se a senhora quer fazer o favor, então uma cómoda inteira. .
—
Mas você tem pouca roupa — disse Luísa. Começava a instalar-se na humilhação e já regateava as condescendências.
—
Tenho, sim, minha senhora — replicou Juliana —, mas vou agora completar-me!
A cómoda foi comprada em segredo, e introduzida ocultamente. Que dia de felicidade para Juliana! Não se fartava de lhe saborear o cheiro da madeira nova! Passava a mão, com a tremura de uma carícia, sobre o polimento luzidio!. . Forrou-lhe as gavetas de papel de seda; e começava a completar-se!
Foram semanas de amargura para Luísa.
Juliana entrava no quarto todas as manhãs, muito cumprimenteira, começava a amimar, e de repente com uma voz lamentosa:
—
Ai! Estou tão falta de camisas! Se a senhora me pudesse ajudar..
Luísa ia às suas gavetas cheias, cheirosas, e começava melancolicamente a pôr à parte as peças mais usadas. Adorava a sua roupa branca; tinha tudo às dúzias, com lindas marcas, sachês para perfumar; e aquelas dádivas dilaceravam-se com mutilações! Juliana por fim já pedia com secura, com direito:
—
Que bonita que esta camisinha! — dizia simplesmente. — A senhora a quer, não?
—
Leve, leve! — dizia Luísa sorrindo, por orgulho, para não se mostrar violentada.
E todas as noites Juliana fechada no seu quarto, encruzada na esteira, inchada de alegria, com o candeeiro sobre uma cadeira, desmarcava roupa, desfazendo
as duas letras de Luísa, marcando regaladamente as suas, a linha vermelha, enormes — J C T — Juliana coiceiro Tavira!
Mas enfim cessou, porque, como ela dizia, de roupa branca estava como um ovo.
—
Agora, se a senhora me quiser ajudar com alguma coisa para sair. .
E Luísa começou a vesti-la.
Deu-lhe um vestido roxo de seda, um casaco de casimira preta, com bordados a sutache. E receando que Jorge estranhasse as generosidades, transformava-as para ele as não reconhecer; mandou tingir de castanho o vestido; ela mesma pela sua mão pôs uma guarnição de veludo no casaco. Trabalhava para ela, agora! Como acabaria tudo aquilo, Santo Deus?
Todavia Jorge um domingo disse ao jantar, rindo:
—