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que na Medicina, aliás uma grande ciência!, havia coisas bastante asquerosas. Assim, ouvira dizer que nos teatros anatómicos, os estudantes de ideias mais avançadas levavam o seu desprezo pela moral até atirarem uns aos outros, brincando, pedaços de membros humanos, pés, coxas, narizes. .
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Mas é como quem mexe em terra, Conselheiro! — disse Julião, enchendo o copo. — É matéria inerte!
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E a alma, Sr. Zuzarte? — exclamou o Conselheiro. Fez um gesto de vaga reticência; e julgando tê-lo aniquilado com aquela palavra suprema, abriu
para Sebastião um sorriso cortês e protetor: — E que diz o nosso bondoso Sebastião?
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Estou a ouvir, Sr. Conselheiro.
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Não dê ouvidos a estas doutrinas! — Com o garfo mostrava a figura biliosa de Julião.
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Mantenha a sua alma pura. São perniciosas. Que o nosso Jorge (o que é de lamentar num homem estabelecido e empregado do Estado) também vai um pouco para estas exagerações materialistas!
Jorge riu; afirmou que sim, que tinha essa honra. .
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Então o Conselheiro quer que eu, um engenheiro, um estudante de Matemática, acredite que há almas que vivem no céu, com asinhas brancas, túnicas azuis, e tocando instrumentos?
O Conselheiro acudiu:
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Não, instrumentos não! — E como apelando para todos: — Não creio que tivesse falado em instrumentos. Os instrumentos são uma exageração.
São, podemos dizê-lo, táticas do partido reacionário. .
Ia fulminar a doutrina ultramontana — mas a Sra. Filomena colocou-lhe diante a travessa com a perna de vitela assada. Compenetrou-se logo do seu dever, afiou o trinchador com solenidade, foi cortando fatias finas, com a testa muito franzida como na aplicação de uma função grave. Então Julião,
pousando os cotovelos sobre a mesa e escabichando os dentes com a unha, perguntou:
—
E o ministério, cai ou não cai?
Sebastião ouvira dizer no vapor de Almada, de tarde, que a situação estava firme.
Mas o Saavedra esvaziou o copo, limpou os beiços e declarou que em duas semanas estavam em terra. Nem aquele escândalo podia continuar! Não tinham a mais pequena ideia de governo. Nem a mais leve! Assim, por exemplo, ele. . — E meteu as mãos nos bolsos, firmando-se nas costas da cadeira. — Ele tinha-os apoiado, não é verdade? E com lealdade. Porque era leal! Sempre o fora em política! Pois bem, não lhe tinham despachado o primo recebedor de Aljustrel, tendo-lho prometido! E nem lhe tinham dado uma satisfação. Assim não era possível fazer política! Era uma coleção de idiotas!
Jorge alegrava-se que viessem outros; talvez lhe dessem de novo a sua comissão no ministério; e ele o que queria era estar quieto ao seu cantinho..
O Alves Coutinho calava-se, com prudência, engolindo buchas de pão.
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Ou que caiam ou que fiquem — disse Julião —, que venham estes ou que venham aqueles. . Obrigado, Conselheiro — e recebeu o seu prato de vitela — . . é-me inteiramente indiferente. É tudo a mesma podridão! — O
país inspirava-lhe nojo; de cima a baixo era uma choldra; e esperava breve que, pela lógica das coisas, uma revolução varresse a porcaria...
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Uma revolução! — fez o Alves Coutinho assustado, com olhares inquietos para os lados, coçando nervosamente o queixo.
O Conselheiro sentara-se e disse, então:
—
Eu não quero entrar em discussões políticas, só servem para dividir as famílias mais unidas, mas só lhe lembrarei, Sr. Zuzarte, uma coisa, os excessos da Comuna...
Julião recostou-se, e com uma voz muito tranquila:
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Mas onde está o mal, Sr. Conselheiro, se fuzilarmos alguns banqueiros, alguns padres, alguns proprietários obesos e alguns marqueses caquéticos! Era uma limpezazinha!. . — E fazia o gesto de afiar a faca.
O Conselheiro sorriu, cortesmente; tomava como um gracejo aquela saída sanguinária.