Viajantes instruídos têm-me afiançado que as inglesas são notáveis mães de família. .
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Mas frias como esta madeira — disse o Saavedra batendo na mesa. —
Mulheres de gelo! — E reclamava espanholas! Queria fogo! Queria salero!
Tinha o olhar brilhante do vinho; a comida acendia-lhe o sentimento.
—
Uma bela gaditana, hem, amigo Alves?
Mas em presença dos doces que a Sra. Filomena dispôs sobre a mesa, o Alves Coutinho esquecera as mulheres, e, voltado para Sebastião, discutia gulodices.
Indicava as especialidades: para os folhados, o Cocó! Para as natas, o Baltresqui! Para as gelatinas, o Largo de São Domingos! Dava receitas; contava proezas de lambarice, revirando os olhos:
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Porque — dizia — o docinho e a mulherzinha é o que me toca cá por dentro a alma!
Era todo o tempo que não dedicava ao serviço do Estado, dividia-o, com solicitude, entre as confeitarias e os lupanares.
Saavedra e Julião discutiam a imprensa. O redator do Século gabava a profissão de jornalista — quando a gente, já se sabe, tem alguma coisa do seu; mais tarde ou mais cedo apanhava-se um nicho, não é verdade? Depois as entradas nos teatros, a influência nas cantoras. Sempre se é um bocado
temido... E o Conselheiro, cortando os ovos queimados, saboreando as alegrias da convivência, dizia a Jorge:
—
Que maior prazer, meu Jorge, que passar assim as horas entre amigos, de reconhecida ilustração, discutir as questões mais importantes, e ver travada uma conversa erudita?. . Parecem excelentes os ovos.
A Sra. Filomena, então, com solenidade, veio colocar-lhe ao pé uma garrafa de champanhe
O Saavedra pediu logo para abrir, porque o fazia com muito chique. E nas a rolha saltou, e, no silêncio que criou a cerimónia, se encheram os copos, O Saavedra, que ficara de pé, disse:
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Conselheiro!
Acácio curvou-se, pálido.
—
Conselheiro, é com o maior prazer que bebo, que todos bebemos, à saúde de um homem, que — e arremessando o braço, deu um puxão ao punho da camisa com eloquência —, pela sua respeitabilidade, a sua posição, os seus vastos conhecimentos, é um dos vultos deste país. À sua saúde, Conselheiro!
—
Conselheiro! Conselheiro! Amigo Conselheiro!
Beberam com ruído. Acácio depois de limpar os beiços, passou a mão trémula pela calva, levantou-se comovido, e começou:
—
Meus bons amigos! Eu não me preparei para esta circunstância. Se a soubesse de antemão, teria tomado algumas notas. Não tenho a verbosidade dos Rodrigos ou dos Garretts. E sinto que as lágrimas me vão embargar a voz..
Falou então de si, com modéstia: reconhecia, quando via na capital tão ilustres parlamentares, oradores tão sublimes, tão consumados estilistas; reconhecia que era um zero!
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E com a mão erguida formava no ar, pela junção do polegar e do indicador, um 0: um zero! Proclamou o seu amor à pátria: que amanhã as instituições ou a família real precisassem dele — e o seu corpo, a sua pena, o seu modesto pecúlio, tudo oferecia de bom grado! Queria derramar todo o seu sangue pelo trono! — E, prolixo, citou o Euriko, as instituições da Bélgica, Bocage e passagens dos seus prólogos. Honrou-se de pertencer à Sociedade Primeiro de Dezembro...
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Nesse dia memorável — exclamou —, eu mesmo as minhas janelas, sem o luxo dos grandes estabelecimentos do Chiado, mas com uma alma sincera!
E terminou dizendo: — Não esqueçamos, meus amigos, como portugueses, de fazer votos pelo ilustrado monarca, que deu às neves da minha cara, antes de descerem ao túmulo, a consolação de se poderem revestir com o honroso hábito de São Tiago! Meus amigos, à família real! — e ergueu o copo — à família modelo, que sentada ao leme do Estado, dirige, cercada dos grandes vultos da nossa política, dirige. . — Procurou o fecho; havia um silêncio ansioso — dirige.. — Através das lunetas negras, os seus olhos cravavam-se, à busca da inspiração, na travessa da aletria — dirige. . — Coçou a calva, aflito; mas um sorriso clareou-lhe o aspeto, encontrara a frase; e estendendo o braço — . . dirige a barca da governação pública com inveja das nações vizinhas! A família real!
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À família real! — disseram com respeito.
O café foi servido na sala. As velas de estearina punham uma luz triste naquela habitação fria; o Conselheiro foi dar corda à caixa de música; e, ao som do coro nupcial da Lucia, ofereceu em redor charutos.
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E a Sra. Adelaide pode trazer os licores — disse à Filomena.
Viram então aparecer uma bela mulher de trinta anos, muito branca, de olhos negros e formas ricas, com um vestido de merino azul, trazendo numa bandeja de prata, onde tremelicavam copinhos, a garrafa de conhaque e o frasco de curaçau.