—
Boa moça! — rosnou com o rosto aceso o Alves Coutinho.
Julião quase lhe tapou a boca com a mão. E falando-lhe ao ouvido, olhando o Conselheiro, recitou:
— Não ouses, temerário, erguer teus olhos Para a mulher de César!
E enquanto se bebia o curaçau, Julião pé ante pé dirigiu-se ao escritório, e foi erguer a ponta do xaile-manta pardo que tanto o preocupava; eram rumas de livros brochados, atadas com guitas — as obras do Conselheiro intactas!
Quando Jorge entrou, às onze horas, Luísa já deitada lia, esperando-o.
Quis saber do jantar do Conselheiro.
Excelente, contou Jorge, começando a despir-se. Gabou muito os vinhos.
Tinha havido speechs... E de repente:
—
É verdade, onde ias tu a Arroios?
Luísa passou devagar as mãos sobre o rosto para lhe cobrir a alteração. Disse, bocejando ligeiramente:
—
A Arroios?
—
Sim. O Saavedra, um sujeito que estava em casa do Conselheiro, diz que te via passar todos os dias para lá, de trem e a pé.
—
Ah! — fez Luísa depois de tossir — ia ver a Guedes, uma rapariga que andou comigo no colégio, que tinha chegado do Porto. A Silva Guedes!
—
Silva Guedes!. . — disse Jorge refletindo. — Imaginei que estava secretário-geral em Cabo Verde!
—
Não sei. Estiveram aí um mês no verão. Moravam a Arroios. Ela estava doente coitada: eu ia lá às vezes. Mandava-me pedir para ir lá. Põe essa luz fora, está-me a fazer impressão.
Queixou-se então que toda a tarde estivera esquisita. Sentia-se fraca, e com uma pontinha de febre..
E nos dias seguintes não se achou melhor. Queixava-se ainda vagamente de peso na cabeça, mal-estar. . Uma manhã mesmo ficou de cama. Jorge não saiu, inquieto, querendo já mandar chamar Julião. Mas Luísa insistiu que não era nada, um bocadito de fraqueza talvez. . Foi também a opinião de Juliana, em cima na cozinha.
—
Que aquela senhora é fraca; ali há coisa do peito — disse com importância.
Joana que estava debruçada sobre o fogão, acudiu logo:
—
O que ela é, é uma santa!...
Juliana cravou-lhe nas costas um olhar rancoroso. E com um risinho:
—
A Sra. Joana diz isso como se as outras fossem uma peste.
—
Que outras?
—
Eu, vossemecê, a mais gente..
Joana sempre remexendo nas panelas sem se voltar:
—
Olhe, outra não encontra vossemecê, Sra. Juliana! Uma senhora que lhe fazer tudo o que quer, e faz ela mesma o serviço! Noutro dia andava a despejar as águas. E uma santa!
Aquele tom hostil de Joana exasperou-a; mas conteve-se; apesar da sua posição na casa, dependia dela para os caldinhos, os bifes, os petiscos; tinha diante dela a vaga timidez respeitosa das constituições franzinas pelos corpos possantes; pôs-se a dizer com uma voz tortuosa, ambígua: