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Álvaro admirou-se do tom com que Isabel proferiu aquela palavra; parecia dar um juramento.

— Qual o motivo? perguntou depois de um momento.

A moça fitou nele os seus grandes olhos negros; havia tanto amor e tanto sentimento nesse olhar profundo, que se Álvaro o compreendesse, teria a resposta à sua pergunta. Mas o cavalheiro não compreendeu nem o olhar nem o silêncio de Isabel: adivinhava que havia nisto um mistério, e desejava esclarecê-lo.

Aproximou-se da moça e disse-lhe com a vez doce e triste:

— Perdoai -me. D. Isabel; sei que vou cometer uma indiscrição; mas o que se passa exige uma explicação entre nós. Dizeis que fostes escarnecida; também eu o fui. Não achais que o melhor meio de acabar com isso, seja o falarmos francamente um ao outro?

Isabel estremeceu.

— Falai: eu vos escuto, Sr. Álvaro.

— Escuso confessar-vos o que já adivinhastes; sabeis a historia deste bracelete, não é verdade?

— Sim! balbuciou a moça.

— Dizei-me pois como ele passou do lugar onde estava, ao vosso braço. Não penseis que vos censuro por isso, não; desejo apenas conhecer até que ponto zombam de mim.

— Já vos confessei o que sabia. Cecília enganou-me.

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— E a razão que teve ela para enganar-vos não atinais?

— Oh! se atino... exclamou Isabel reprimindo as palpitações do coração.

— Dizei-ma então. Eu vo-lo peço e suplico!

Álvaro tinha deitado um joelho em terra, e tomando a mão da moça implorava dela a palavra que devia explicar-lhe o ato de Cecília, e revelar-lhe a razão que tivera a menina para rejeitar a prenda que ele havia dado.

Conhecendo esta razão talvez pudesse desculpar-se, talvez pudesse merecer o perdão da menina; e por isso pedia com instância a Isabel que lhe declarasse o motivo por que Cecília a havia enganado.

A moça vendo Álvaro a seus pés, suplicante, tinha-se tornado lívida; seu coração batia com tanta violência que via-se o peito de seu vestido elevar-se com as palpitações fortes e apressadas: o seu olhar ardente caia sobre o moço e o fascinava.

— Falai! dizia Álvaro; falai! Sois boa; e não me deixeis sofrer assim, quando uma palavra vossa pode dar-me a calma e o sossego.

— E se essa palavra vos fizesse odiar-me? balbuciou a moça.

— Não tenhais esse receio; qualquer que seja a desgraça que me anunciardes, será bem-vinda pelos vossos lábios; é sempre um consolo receber-se a má nova da voz amiga!

Isabel ia falar, mas parou estremecendo:

— Ah! não posso! seria preciso confessar-vos tudo!

— E por que não confessais? Não vos mereço confiança? Tendes em mim um amigo.

— Se fôsseis!...

E os olhos de Isabel cintilaram.

— Acabai!

— Se me fôsseis amigo, me havíeis de perdoar.

— Perdoar-vos, D. Isabel! Que me fizeste vós para que vos eu perdoe? disse Álvaro admirado.

A moca teve medo do que havia dito; cobriu o rosto com as mãos.

Todo este diálogo, vivo, animado, cheio de reticências e hesitações da parte de Isabel, tinha excitado a curiosidade do cavalheiro; seu espírito perdia-se num dédalo de dúvidas e incertezas.

Cada vez o mistério se obscurecia mais; a princípio Isabel dizia que tinham escarnecido dela; agora dava a entender que era culpada: o cavalheiro resolveu a todo transe penetrar o que para ele era um enigma.

— D. Isabel!

A moça tirou as mãos do rosto; tinha as faces inundadas de lágrimas.

— Por que chorais? perguntou Álvaro surpreso.

— Não mo pergunteis!...

— Escondeis-me tudo! Deixais-me na mesma dúvida! O que me fizestes vós?

Dizei!

— Quereis saber? perguntou a moça com exaltação.

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