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— O que ides fazer? perguntou imperativamente aos seus companheiros. Os aventureiros ficaram pasmados com semelhante pergunta.

— Ides matá-lo?...

— Mas decerto!

— E não sabeis que não podereis fazê-lo? Que ele é protegido, amado, estimado por aqueles que pouco se importam se morremos ou vivemos?

— Seja embora protegido, quando é criminoso...

— Como vos iludis! Quem o julgará criminoso? Vós? Pois bem; outros julgarão inocente e o defenderão; e não tereis remédio senão curvar a cabeça e calar-vos.

— Oh! isso é demais!

— Julgais que somos alimárias que se podem matar impunemente? retrucou Martim Vaz.

— Sois piores que alimárias; sois escravos!

— Por São Brás, tendes razão, Loredano.

— Vereis morrer vossos companheiros assassinados infamemente, e não podereis vingá-los; e sereis obrigado a tragar até as vossas queixas, porque o assassino é sagrado! Sim, não o podereis tocar, repito.

— Pois bem; eu vo-lo mostrarei!

— E eu! gritou toda a banda.

— Qual é vossa tenção? perguntou o italiano.

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— A nossa tenção é pedirmos a D. Antônio de Mariz que nos entregue o assassino de Bento.

— Justo! E se ele recusar, estamos desligados do nosso juramento e faremos justiça pelas nossas mãos.

— Procedeis como homens de brio e pundonor; liguemo-nos todos e vereis que obteremos reparação; mas para isto é preciso firmeza e vontade. Não percamos tempo. Quem de vós se incumbe de ir como parlamentário a D. Antônio?

Um aventureiro dos mais audazes e turbulentos da banda ofereceu-se; chamava-se João Feio.

— Serei eu!

— Sabeis o que lhe deveis dizer?

— Oh! ficai descansado. Ouvirá boas.

— Ides já?

— Neste instante.

Uma voz calma, sonora e de grave entonação, uma voz que fez estremecer todos os aventureiros, soou na entrada do alpendre:

— Não é preciso irdes, pois que vim Aqui me tendes.

D. Antônio de Mariz, calmo e impassível, adiantou-se até o meio do grupo, e cruzando os braços sobre o peito, volveu lentamente pelos aventureiros o seu olhar severo.

O fidalgo não tinha uma só arma; e entretanto o aspecto de sua fisionomia venerável, a firmeza de sua voz e altivez de seu gesto nobre bastaram para fazer curvar a cabeça de todos esses homens que ameaçavam.

Advertido por Peri dos acontecimentos que tinham tido lagar naquela noite, D.

Antônio de Mariz ia sair, quando apareceram Álvaro e Aires Gomes.

O escudeiro, que depois de sua conversa com mestre Nunes tinha adormecido, fora despertado de repente pelas imprecações e gritos que soltavam os aventureiros quando a água começou a invadir as esteiras em que estavam deitados.

Admirado desse rumor extraordinário, Aires bateu o fuzil, acendeu a vela, e dirigiu-se para a porta para conhecer o que perturbava o seu sono: a porta, como sabemos, estava fechada e sem chave.

O escudeiro esfregou os olhos para certificar-se do que via, e acordando Nunes, perguntou-lhe quem tomara aquela medida de precaução; seu amigo ignorava como ele.

Nesse momento ouvia-se a voz do italiano que excitava os aventureiros à revolta; Aires Gomes percebeu então do que se tratava.

Agarrou mestre Nunes, encostou-o à parede como se fosse uma escada, e sem dizer palavra trepou do catre sobre seus ombros, e levantando as telhas com a cabeça enfiou por entre as ripas dos caibros.

Apenas ganhou o telhado, o escudeiro pensou no que devia fazer; e assentou que o verdadeiro era dar parte a Álvaro e ao fidalgo, a quem cabia tomar as providências que o acaso pedia.

D. Antônio de Mariz sem se perturbar ouviu a narração do escudeiro, como tinha ouvido a do índio.

— Bem, meus amigos! sei o que me cumpre fazer. Nada de rumor; não perturbemos o sossego da casa; estou certo que isto passará. Esperai-me aqui.

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— Não posso deixar que vos arrisqueis só, disse Álvaro dando um passo para segui-lo.

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