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115 – O Livro dos Espíritos

compreendem entre eles. A palavra alma é tão elástica que cada um a interpreta conforme o grau de seus devaneios. Por vezes também já atribuíram uma alma à Terra; devemos entendê-la como o conjunto dos Espíritos devotados que dirigem vossas ações para o bem, quando vocês os escutam, e que de certo modo são os prepostos de Deus ao vosso planeta.”

145. Como tantos filósofos antigos e modernos têm discutido durante tão longo tempo sobre a ciência psicológica sem terem alcançado à verdade?

“Esses homens eram os precursores da eterna doutrina espírita; eles prepararam os caminhos. Eram homens, e como tais se enganaram porque tomaram suas próprias ideias pela luz; não obstante, mesmo os seus erros servem para realçar a verdade ao mostrar o pró e o contra. Aliás, entre esses erros se encontram grandes verdades que um estudo comparativo vos faz compreender.”

146. A alma tem um ponto determinado e circunscrito no corpo?

“Não, porém ela fica mais particularmente na cabeça dos grandes sábios e em todos aqueles que pensam bastante, e no coração daqueles que sentem mais e consagram todas as suas ações à humanidade.”

146-a. — Que pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital?

“Isso quer dizer que o Espírito habita mais essa parte do vosso organismo, por ser aí o ponto de encontro de todas as sensações.

Aqueles que situam a alma no que consideram como o centro da vitalidade a confundem com o fluido ou princípio vital. Podemos então dizer que a sede da alma fica mais particularmente nos órgãos que servem às manifestações intelectuais e morais.”

Materialismo

147. Por que os anatomistas, os fisiologistas e em geral aqueles que estudam profundamente as ciências da natureza frequentemente são levados ao

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materialismo?

“O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que creem saber tudo e não admitem que qualquer coisa possa transpor o seu entendimento. A própria ciência deles enche-lhes de presunção; eles pensam que a natureza não pode ter nada de oculto para eles.”

148. Não é lamentável que o materialismo seja uma consequência de estudos que, ao contrário, deveriam mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Devemos concluir que os estudos são perigosos?

“Não é verdade que o materialismo seja uma consequência desses estudos; é o homem quem tira deles uma falsa consequência, pois ele pode abusar de tudo, até mesmo das melhores coisas. Aliás, o nada os amedronta mais do que eles quereriam que parecesse, e os espíritos fortes são quase sempre mais fanfarrões do que bravos. Na sua maioria, só são materialistas porque eles não têm nada com o que preencher esse vazio frente ao abismo que se abre diante deles. Mostram-lhes uma âncora de salvação e eles a agarrarão bem depressa.”

Por uma aberração da inteligência, há pessoas que não veem nos seres orgânicos senão a ação da matéria e atribuem a esta todos os nossos atos. Eles enxergam no corpo humano apenas a máquina elétrica; não estudaram o mecanismo da vida mais do que o funcionamento dos órgãos; viram muitas vezes a vida se extinguir pela ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio; procuraram se restava qualquer coisa e como nada encontraram exceto a matéria, que se tornara inerte, e como não viram a alma sair e não a puderam apanhar, eles concluíram disso que tudo estava nas propriedades da matéria, e que assim, depois da morte, não resta nada do pensamento. Triste consequência, se fosse assim, pois então o bem e o mal ficariam sem sentido; o homem teria razão em pensar só em si e em colocar acima de tudo a satisfação de seus desejos materiais; os laços sociais ficariam rompidos e as mais santas afeições seriam aniquiladas sem volta.

Felizmente, essas ideias estão longe de serem generalizadas; podemos até dizer que elas são muito circunscritas e não são mais do que opiniões individuais, pois em parte alguma elas se tornaram uma doutrina. Uma associação fundada sobre

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essas bases traria em si a semente da sua dissolução e seus membros se entredevorariam como bestas ferozes.

O homem tem instintivamente o pensamento que nem tudo para ele acaba com a vida; ele tem horror ao nada; é em vão teimar contra a ideia do futuro e quando vem o momento supremo são poucos os que não se importam com o que vai ser deles, porque a ideia de deixar a vida sem retorno tem qualquer coisa de lastimável. Quem realmente poderia encarar com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que tem amado? Quem poderia ver sem terror abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde viessem a ser engolidas para sempre todas as nossas faculdades, todas as nossas esperanças, e dizer a si mesmo: Ora, pois! Depois de mim, nada, nada mais senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança será apagada da memória dos que viverem depois de mim; em breve, nenhum vestígio restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem beneficiei; nada para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva além daquela do meu corpo comido pelos vermes!

Este quadro não é mesmo horrível e frio? A religião nos ensina que não pode ser assim e a razão o confirma. Mas tal existência futura, vaga e indefinida, não apresenta nada que satisfaça nosso amor ao que é concreto; é isso que, para muitos, gera a dúvida. Nós temos uma alma, que seja; mas o que é a nossa alma? Ela tem forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus, outros uma centelha, outros mais dizem que é uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência; contudo, o que tudo isso nos ensina? Que nos importa ter uma alma se depois da nossa morte ela se mistura à imensidade, como as gotas d’água no Oceano? A perda da nossa individualidade não equivale ao nada? Dizem também que a alma é imaterial; ora, uma coisa imaterial não poderia ter proporções determinadas; para nós isso não é nada. A religião nos ensina ainda que seremos felizes ou desgraçados conforme o bem ou ao mal que tivermos feito; mas o que é essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outra ocupação exceto cantar louvores ao Criador? As chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última significação, mas quais são esses sofrimentos? Onde é esse lugar de suplício? Numa palavra, o que se faz, o que é que se vê nesse outro mundo que espera por todos nós? Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações. Isso é um erro, e a missão do Espiritismo é

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precisamente nos esclarecer acerca desse futuro, e até certo ponto nos fazer tocá-lo com o dedo e com a vista, não só pelo raciocínio, mas pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, isso não é mais uma simples presunção, uma possibilidade sobre a qual cada um cria conforme sua vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou enfeitem de imagens alegóricas que nos enganam: é a realidade que nos aparece, pois que são os próprios seres de além-túmulo que vêm nos descrever sua situação, relatar o que fazem, permitindo-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da sua nova vida, e nos mostrando, por esse meio, a sorte inevitável que está reservada para nós, na medida dos nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de antirreligioso? Muito ao contrário, pois os incrédulos encontram aí a fé e os mornos encontram a renovação do fervor e da confiança. Portanto, o Espiritismo é o mais potente auxiliar da religião. Se é assim, é porque Deus o permite, e o permite para reanimar nossas vacilantes esperanças, e para nos reconduzir à senda do bem pela perspectiva do futuro.

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CAPÍTULO III

RETORNO DA VIDA CORPORAL

À VIDA ESPIRITUAL

A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna

– Separação da alma e do corpo – Perturbação espiritual

A alma após a morte; sua individualidade. Vida eterna

149. O que acontece com a alma no instante da morte?

“A alma volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos que ela tinha deixado momentaneamente.”

150. Após a morte, a alma conserva sua individualidade?

“Sim, ela jamais a perde. Que seria a alma, se não conservasse sua individualidade?”

150-a. — Como a alma constata sua individualidade, já que ela não tem mais seu corpo material?

“Ela continua a ter um fluido que lhe é próprio, que ela extrai na atmosfera do seu planeta e que representa a aparência de sua encarnação anterior: seu perispírito.”

150-b. — A alma não leva nada consigo deste mundo?

“Nada, a não ser a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargor, conforme o uso que a alma fez da vida; quanto mais pura ela for, melhor a alma compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.”

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