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151. O que pensar dessa opinião que depois da morte a alma regressa ao todo universal?

“Será que o conjunto dos Espíritos não forma um todo? Não constitui um mundo completo? Quando você está numa assembleia, você é parte integrante dessa assembleia e, no entanto, sempre conserva tua individualidade.”

152. Que prova podemos ter da individualidade da alma após a morte?

“Vocês não têm essa prova nas comunicações que recebem? Se não fossem cegos, vocês veriam; se não fossem surdos, ouviriam, pois muitas vezes uma voz lhes fala e lhes revela a existência de um ser exterior a vocês.”

Aqueles que pensam que com a morte a alma reingressa no todo universal estão num erro se supõem que assim, semelhante a uma gota d’água que cai no Oceano, ela então perde a sua individualidade; estão certos se entendem o todo

universal como o conjunto dos seres incorpóreos em que cada alma ou Espírito é um elemento.

Se as almas se misturassem na massa, elas só teriam as qualidades do conjunto e nada as distinguiria umas das outras; elas não teriam nem inteligência nem qualidades pessoais; ao passo que, em todas as comunicações, elas denotam a consciência do seu eu e uma vontade particular; a diversidade infinita que elas apresentam sob todos os aspectos é a própria consequência das individualidades.

Se, após a morte, só houvesse o que se chama o grande Todo, absorvendo todas as individualidades, esse Todo seria uniforme e, desde então, todas as comunicações que recebêssemos do mundo invisível seriam idênticas. Porém, como nos deparamos com seres bons e outros maus, sábios e ignorantes, felizes e desgraçados, e que há seres lá de todas as características: alegres e tristes, levianos e compenetrados etc., é que evidentemente estes são seres distintos. A individualização se torna ainda mais patente quando esses seres provam a sua identidade por sinais incontestáveis, detalhes pessoais referentes à sua vida terrestre e que nós os podemos verificar; ela não pode ser posta em dúvida quando esses seres se manifestam de forma visível nas aparições. A individualidade da alma nos era ensinada em teoria, como um artigo de fé; o espiritismo a torna clara e, de certo modo, material.

153. Em que sentido devemos entender a vida eterna?

“É a vida do Espírito que é eterna; a do corpo é transitória e passageira.

121 – O Livro dos Espíritos

Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna.”

153-a. — Não seria mais exato chamar vida eterna a dos Espíritos puros, daqueles que, tendo alcançado o grau de perfeição, não têm mais provas a enfrentar?

“Essa é antes a felicidade eterna. Mas isso é uma questão de palavras; chamem as coisas como quiserem, contanto que se entendam.”

Separação da alma e do corpo

154. A separação da alma e do corpo é dolorosa?

“Não, o corpo muitas vezes sofre mais durante a vida do que no momento da morte: a alma não tem nada a ver com isso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimenta no instante da morte são um deleite para o

Espírito, que vê chegar o término do seu exílio.”

Na morte natural, aquela que chega pelo esgotamento dos órgãos em consequência da idade, o homem deixa a vida sem se aperceber disso: é uma lâmpada que se apaga por falta de alimentação.

155. Como se opera a separação da alma e do corpo?

“Quando os liames que prendiam a alma se rompem, ela se desprende.”

155-a. — A separação se dá instantaneamente e por uma brusca transição? Haveria alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?

“Não, a alma se desprende gradativamente e não se escapa como um pássaro cativo subitamente restituído à liberdade. Esses dois estados se tocam e se confundem; assim o Espírito se liberta pouco a pouco de suas amarras: esses laços se desatam, e não é que eles se quebram.”

Durante a vida, o Espírito fica preso ao corpo pelo seu envoltório semimaterial — o perispírito. A morte é somente a destruição do corpo, e não a desse outro invólucro, que se separa do corpo quando cessa neste a vida orgânica.

A observação prova que o desprendimento do perispírito no instante da morte não

122 – Allan Kardec

é completo subitamente; opera-se gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos; para alguns, é bastante rápido, e podemos dizer que o momento da morte é o da libertação, em poucas horas; mas para outros, principalmente naqueles cuja vida tenha sido toda material e sensual, o desprendimento é muito menos rápido e algumas vezes demora dias, semanas e até meses, o que não implica ter no corpo a menor vitalidade, nem a possibilidade de voltar à vida, mas uma simples afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que sempre está em proporção com a preponderância que o Espírito — durante a vida — tenha dado à matéria. Com efeito, é racional conceber que, quanto mais o Espírito se identificou com a matéria, tanto mais penoso lhe seja se separar dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, assim como a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, e quando chega a morte, esse desprendimento é quase instantâneo. Tal é o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações ainda provam que, em certos indivíduos, a afinidade persistente entre a alma e o corpo é frequentemente muito penosa, pois o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e típico de certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte; ele se apresenta em alguns suicidas.

156. A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da completa extinção da vida orgânica?

“Na agonia, algumas vezes a alma já terá deixado o corpo: nada mais há que a vida orgânica. O homem já não tem consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração faz mover; ele existe enquanto o coração fizer o sangue circular nas veias, para o que não necessita da alma.”

157. No momento da morte, a alma alguma vez sente uma aspiração ou êxtase que lhe faça avistar o mundo onde vai entrar de novo?

“Muitas vezes a alma sente se desfazerem os laços que a prendem ao corpo; ela então faz todos os seus esforços para rompê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e, por antecipação, goza do estado de espírito.”

123 – O Livro dos Espíritos

158. O exemplo da lagarta — que, primeiro, rasteja pela terra, depois se recolhe na sua crisálida, sob uma morte aparente, para renascer em uma existência brilhante — pode nos dar uma ideia da vida terrestre, depois o túmulo e finalmente da nossa nova existência?

“Uma ideia singela. A comparação é boa, todavia, não deve ser tomada ao pé da letra, como frequentemente vocês fazem.”

159. Que sensação a alma experimenta no momento em que reconhece estar no mundo dos Espíritos?

“Depende: se tiver feito o mal com o desejo de praticá-lo, sentirá no primeiro momento vergonha do que praticou. Com a alma do justo, é bem diferente: ela fica como que aliviada de um grande peso, pois não teme nenhum olhar perscrutador.”

160. O Espírito se encontra imediatamente com aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele?

“Sim, de acordo com a afeição mútua entre eles; com frequência eles vêm recebê-lo na entrada no mundo dos Espíritos e o ajudam a se desligar das

faixas da matéria; como também há muitos que ele redescobre e perdeu de vista durante a sua estadia na Terra. Vê os que estão na erraticidade; os que estão encarnados, ele vai visitá-los.”

161. Na morte violenta e acidental, quando os órgãos ainda não estiverem debilitados pela idade ou pelas doenças, a separação da alma e a extinção da vida ocorrem simultaneamente?

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