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129. Os anjos percorreram todos os graus?

“Percorreram todos os graus, mas como já dissemos: uns aceitaram sua missão sem murmúrio e chegaram mais rapidamente; outros levaram um tempo mais ou menos longo para chegar à perfeição.”

130. Se está errada a opinião dos que admitem a existência de seres criados perfeitos e superiores a todas as outras criaturas, como se explica que essa crença esteja na tradição de quase todos os povos?

“Saiba bem que o teu mundo não existe desde toda a eternidade e que, muito tempo antes que ele existisse, alguns Espíritos já tinham atingido o grau supremo; os homens então puderam crer que eles eram sempre assim.”

131. Há demônios, no sentido atribuído a esta palavra?

“Se houvesse demônios eles seriam obra de Deus. E Deus seria justo e bom se tivesse criado seres eternamente devotados ao mal e desgraçados? Se há demônios, é no teu mundo inferior e em outros semelhantes que eles residem; são esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo, e que se julgam lhe ser agradáveis por meio das abominações que cometem no nome dele.”

A palavra demônio só implica a ideia de Espíritos maus na sua acepção moderna, pois o termo grego daimôn, donde ela nasceu, significa gênio,

inteligência, e se diziam dos seres incorpóreos — bons ou maus — sem distinção.

Os demônios, segundo a acepção vulgar da palavra, supõem seres essencialmente malignos; eles, como todas as coisas, seriam criação de Deus; ora, Deus, que é soberanamente justo e bom, não pode ter criado seres prepostos ao mal por sua natureza e condenados para a eternidade. Se eles não fossem obra de Deus, existiriam, como ele, desde toda a eternidade, ou então haveria várias potências soberanas.

A primeira condição de toda doutrina é ser lógica. Ora, essa dos demônios, no sentido absoluto, peca por aquela base essencial. Compreendemos que na crença

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dos povos atrasados, não conhecendo os atributos de Deus e admitindo divindades malfazejas, admita-se também os demônios; mas, para qualquer um que faça da bondade de Deus um atributo por excelência, é ilógico e contraditório supor que ele poderia ter criado seres devotados ao mal e destinados a praticar esse mal pela eternidade, porque isso é negar a bondade de Deus. Os partidários dos demônios se apoiam nas palavras do Cristo; não seremos nós a contestar a autoridade do seu ensinamento, que desejamos ver mais no coração do que na boca dos homens;

porém, estamos bem certos do sentido que ele dava à palavra demônio? Não sabemos que a forma simbólica é uma das características distintivas da sua linguagem? Tudo o que o Evangelho contém deve ser tomado ao pé da letra? Não queremos outra prova disso além desta passagem:

“Logo após esses dias de aflição, o Sol escurecerá e a Lua não mais dará sua luz, as estrelas cairão do céu e as potências do céu serão abaladas. Eu vos digo em verdade que esta raça não passará sem que todas estas coisas tenham se cumprido.” Não temos visto a forma do texto bíblico ser contradita pela ciência no que toca à criação e ao movimento da Terra? Não se dará o mesmo com algumas figuras empregadas pelo Cristo, que devia falar de acordo com os tempos e os lugares? O Cristo não poderia dizer conscientemente uma coisa falsa; assim, pois, se nessas suas palavras há coisas que parecem chocar a razão, é que não as compreendemos bem ou que as interpretamos mal.

Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos; já que acreditaram em seres perfeitos desde toda a eternidade, eles tomaram os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. A palavra demônio deve então ser aplicada aos Espíritos impuros, que muitas vezes não valem mais do que aquelas entidades designadas por esse nome, mas com a diferença de seu estado ser transitório. São Espíritos imperfeitos que se murmuram contra as provas que sofrem e que, por isso, sofrem mais longamente, porém que, por sua vez, chegarão a sair daquele estado, quando o quiserem. Portanto, poderíamos aceitar o termo

demônio com esta restrição; mas como o entendem atualmente, dando-lhe um sentido exclusivo, ele poderia induzir ao erro, fazendo crer na existência de seres especiais criados para o mal.

Com relação a Satanás, é evidentemente a personificação do mal sob uma forma alegórica, visto não ser admissível um ser mau lutando de igual para igual contra a Divindade, e cuja única preocupação seria contrariar seus desígnios. Como falta ao homem figuras e imagens que impressionem sua imaginação, ele pintou os

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seres incorpóreos sob uma forma material com atributos que lembram suas qualidades ou seus defeitos. É assim que os antigos, querendo personificar o tempo, pintaram-no sob a figura de um velho munido com uma foice e uma ampulheta; uma figura de um rapaz teria sido um contrassenso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna, da verdade etc. Os modernos representaram os anjos, os puros Espíritos, sob uma figura radiosa, com asas brancas, emblema da pureza; Satanás com chifres, garras e os atributos da bestialidade, emblema das paixões baixas. O homem vulgar, que toma as coisas literalmente, viu nesses emblemas um indivíduo real, como outrora viram Saturno na alegoria do tempo.

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CAPÍTULO II

ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS

Objetivo da encarnação – Da alma – Materialismo

Objetivo da encarnação

132. Qual é o objetivo da encarnação dos Espíritos?

“Deus lhes impõe a encarnação com o propósito de fazê-los chegar à perfeição: para uns, ela é uma expiação; para outros, é uma missão. Contudo, para alcançar essa perfeição, os Espíritos devem passar por todas as

vicissitudes da existência corporal: é nisso que consiste a expiação. A encarnação tem ainda outro objetivo, que é o de pôr o Espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação; é para executá-la que, em cada mundo, ele toma um instrumento compatível com a matéria essencial desse mundo para nele cumprir, desse ponto de vista, as ordens de Deus; de tal modo que, contribuindo para a obra geral, ele desenvolve a si mesmo.”

A ação dos seres corpóreos é necessária para a marcha do Universo; Deus, porém, na sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. É assim que, por uma admirável lei da sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na natureza.

133. Os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem têm necessidade de encarnação?

“Todos são criados simples e ignorantes; os Espíritos se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não poderia fazer uns felizes, sem cansaços e trabalhos e, por conseguinte, sem mérito.”

111 – O Livro dos Espíritos

133-a. — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os livra dos sofrimentos da vida corporal?

“Eles chegam mais depressa ao objetivo; além do mais, as aflições da vida são muitas vezes por consequência da imperfeição do Espírito; quanto menos imperfeições, menos tormentos; aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avarento e nem ambicioso não sofrerá os tormentos que nascem desses defeitos.”

Da alma

134. O que é a alma?

“Um Espírito encarnado.”

134-a. — O que era a alma antes de se unir ao corpo?

“Espírito.”

134-b. — Então as almas e os Espíritos são exatamente a mesma coisa?

“Sim, as almas não são mais do que Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que revestem temporariamente uma envoltura carnal para se purificarem e se esclarecerem.”

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