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99. Os Espíritos da terceira classe são todos essencialmente maus?

“Não, uns não fazem nem o mal nem o bem; outros, ao contrário, se divertem com o mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião para praticá-lo. Há também os Espíritos levianos ou tolos, mais desordeiro do que malignos, que se deleitam mais com a malícia do que com a malvadez, e que encontram seu prazer em mistificar e causar pequenas contrariedades das quais eles riem.”

Escala espírita

100. Observações preliminares — A classificação dos Espíritos é baseada no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que eles ainda têm a depurar. Essa classificação, aliás, não tem nada de absoluta; nenhuma categoria apresenta um caráter particular a não ser no seu conjunto geral, mas de um grau a outro a transição é insensível e, nos seus limites, as nuances se apagam como nos reinos da natureza, como nas cores do arco-íris, ou ainda como nos diferentes períodos da vida do homem. Portanto, podemos formar maior ou menor número de classes, de acordo com o ponto de vista sob o qual se considere a questão. Acontece aqui como se dá com todos os sistemas de classificações científicas; esses sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência. Porém, sejam quais forem, em nada alteram as bases da ciência. Os Espíritos, interrogados sobre essa questão, puderam então divergir quanto ao número de categorias, sem que isso tivesse qualquer consequência. Algumas pessoas se armaram dessa aparente

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contradição, sem refletir que os Espíritos não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional; para eles, o pensamento é tudo: eles deixam por nossa conta a forma, a escolha dos termos e as classificações, em suma, as teorias.

Acrescentemos ainda essa consideração, que não se deve jamais perder de vista: é que entre os Espíritos — assim como entre os homens — há os que são bastante ignorantes, e que nunca seria demais se pôr em guarda contra a tendência a crer que todos devam saber tudo por serem Espíritos. Toda classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto.

Ora, no mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são —

como os ignorantes deste mundo — inaptos a apreender um conjunto e a formular uma teoria; eles não conhecem nem compreendem senão imperfeitamente uma classificação qualquer; para eles, todos os Espíritos que lhes são superiores são da primeira ordem, sem que possam apreciar as gradações de saber, de capacidade e de moralidade que os distinguem, como entre nós um homem rude com relação aos homens civilizados. Mesmo os que sejam capazes de tal apreciação podem divergir quanto aos detalhes, segundo seu ponto de vista, sobretudo quando uma divisão não tem nada de absoluta.

Lineu, Jussieu e Tournefort tiveram cada um o seu método, e a botânica não se modificou por causa disso, pois nenhum deles inventou nem as plantas nem suas características: eles apenas observaram as semelhanças das quais formaram os grupos ou classes. Foi assim que nós procedemos; nós não inventamos nem os Espíritos nem suas características: vimos e observamos, julgamo-los pelas suas palavras e seus atos, depois os classificamos pelas similaridades, baseando-nos em dados que eles próprios nos forneceram.

Os Espíritos admitem geralmente três categorias principais, ou três grandes divisões. Na última, a que fica na parte inferior da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão para o mal. Aqueles da segunda categoria são caracterizados pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons Espíritos. A primeira, finalmente, abrange os Espíritos puros, aqueles que atingiram o grau supremo da perfeição.

Essa divisão nos pareceu perfeitamente racional e apresenta os

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caracteres bem definidos; só nos restava destacar, por um número suficiente de subdivisões, as principais nuances do conjunto; é o que temos feito, com a colaboração dos Espíritos, cujas benévolas instruções jamais nos faltaram.

Com o auxílio desse quadro, será fácil determinar a faixa e o grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em contato e, por conseguinte, o grau de confiança e de estima que mereçam.

De certo modo, essa é a chave da ciência espírita, pois só isso pode explicar as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos acerca das desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos. Todavia, observaremos que os Espíritos não pertencem exclusivamente sempre a essa ou aquela classe; o progresso deles não se realiza senão gradualmente, e muitas vezes mais num sentido do que em outro eles podem reunir as características de várias categorias — o que é fácil de se observar pela sua linguagem e seus atos.

TERCEIRA ORDEM – ESPÍRITOS IMPERFEITOS

101. Características gerais — Predominância da matéria sobre o espírito.

Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que delas são consequentes.

Eles têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Nem todos são essencialmente maus; em alguns há mais leviandade, inconsequência e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal, mas pelo simples fato de não fazerem o bem, já mostram a sua inferioridade. Outros, ao contrário, se deleitam com o mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião para praticar o mal.

Eles podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia, porém, seja qual for o seu grau de desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos ignóbeis.

Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados e o pouco que eles sabem se confunde com as ideias e os preconceitos da vida corporal. Não nos podem dar mais do que noções falsas e incompletas, mas o observador atento frequentemente encontra nas suas comunicações — ainda

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que imperfeitas — a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.

Seu caráter se revela pela sua linguagem. Todo Espírito que em suas comunicações denota um pensamento mau pode ser colocado na terceira ordem; consequentemente, todo pensamento mau que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem.

Eles observam a felicidade dos bons, e esse espetáculo para eles é um tormento incessante, porque eles experimentam todas as angústias que a inveja e o ciúme podem causar.

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes mais penosa do que a realidade. Então eles sofrem verdadeiramente, dos males de que padeceram e daqueles que acarretaram aos outros. E como sofrem por longo tempo, acreditam que sofrerão para sempre; Deus, para puni-los, quer que assim acreditem.

Podemos dividi-los em cinco classes principais:

102. Décima classe. ESPÍRITOS IMPUROS — São inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações. Como Espíritos, eles dão conselhos traiçoeiros, sopram a discórdia e a desconfiança, e se mascaram de todas as maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões a fim de levá-los à perdição, satisfeitos de poderem retardar o seu adiantamento, fazendo-os cair nas provas a que se submetem.

Nas manifestações, nós os reconhecemos pela sua linguagem; a banalidade e a grosseria das expressões — tanto nos Espíritos quanto nos homens — é sempre um indício de inferioridade moral, quando não intelectual. Suas comunicações denotam a baixeza de suas inclinações e, se tentam iludir, falando de uma maneira sensata, não conseguem sustentar por muito tempo o seu papel e acabam sempre traindo sua origem.

Alguns povos fizeram deles divindades maléficas, outros os designam pelos nomes de demônios, maus gênios e Espíritos do mal.

Quando estão encarnados, os seres viventes que eles animam são propensos a todos os vícios que geram as paixões vis e degradantes:

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sensualidade, crueldade, falsidade, hipocrisia, ganância, avareza desprezível.

Eles fazem o mal por prazer, muitas das vezes sem motivo, e por ódio ao bem quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a humanidade, qualquer que seja a faixa social a que pertençam, e o verniz da civilização não os livra da vergonha e da desonra.

103. Nona classe. ESPÍRITOS LEVIANOS — São ignorantes, maliciosos, inconsequentes e zombeteiros; se metem em tudo e respondem a tudo sem se importarem com a verdade. Deleitam-se em causar pequenos males e pequenos gozos, em causar aborrecimentos, em induzir maliciosamente ao erro por meio de mistificações e de travessuras. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes de duendes, trasgos, gnomos, diabretes. Eles estão sob a dependência de Espíritos superiores, que muitas vezes se servem deles, como fazemos com os nossos empregados.

Em suas comunicações com os homens, a linguagem deles é muitas vezes espirituosa e jocosa, mas quase sempre sem profundidade; aproveitam-se das esquisitices e das tolices que eles expressam em traços mordazes e satíricos.

Quando usam supostos nomes, é mais por malícia do que por maldade.

104. Oitava classe. ESPÍRITOS PSEUDOSSÁBIOS — Seus conhecimentos são bastante amplos, porém creem saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos sob diversos pontos de vista, a linguagem deles aparenta um caráter sério que pode iludir quanto às suas capacidades e luzes; mas na maioria das vezes isso não passa de um reflexo dos preconceitos e ideias sistemáticas da vida terrestre; é uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, no meio dos quais penetram a presunção, o orgulho, o ciúme e a obstinação de que ainda não puderam se livrar.

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