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A faculdade da enxergar, entre os Espíritos, é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso; é uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, e para a qual não há nem trevas nem obstáculos materiais. Compreendemos que isso deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão impressionado pela luz, sem a qual o homem fica na escuridão. No Espírito, como a visão constitui um atributo de si mesmo, exceção feita de qualquer agente exterior, a visão é independente da luz (Ver Ubiquidade, questão 92).

248. O Espírito vê as coisas tão distintamente como nós?

“Mais distintamente, pois sua visão penetra o que vocês não podem penetrar. Nada a encobre.”

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249. O Espírito percebe os sons?

“Sim, e percebe aqueles que os vossos sentidos obtusos não conseguem.”

249-a. — A capacidade de ouvir está em todo o seu ser, como a de ver?

“Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu próprio ser; quando ele é revestido de um corpo material, essas percepções só chegam a ele pelo canal dos órgãos. Porém, na condição de liberdade elas não ficam mais localizadas.”

250. Como as percepções são atributos do próprio Espírito, seria possível ele se subtrair delas?

“O Espírito só vê e ouve o que ele queira. Isso dito de um modo em geral e sobretudo quanto aos Espíritos elevados, pois para aqueles que são imperfeitos, estes ouvem e veem, às vezes a contragosto, o que lhes possa ser útil ao seu aperfeiçoamento.”

251. Os Espíritos são sensíveis à música?

“Refere-se à vossa música? Que é ela comparada à música celeste? A essa harmonia de que nada na Terra pode lhes dar ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem para uma suave melodia. Todavia, Espíritos vulgares podem experimentar certo prazer em ouvir a música de vocês, porque ainda não lhes é concedido compreender uma música mais sublime.

Para os Espíritos, a música possui encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas; refiro-me à música celeste, que é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.”

252. Os Espíritos são sensíveis às belezas da natureza?

“As belezas da natureza dos globos são tão diferentes que nós estamos longe de conhecê-las. Sim, os Espíritos são sensíveis a essas belezas, segundo suas aptidões para apreciar e compreendê-las. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto diante das quais, por assim dizer, apagam-se as belezas dos detalhes.”

253. Os Espíritos experimentam nossas necessidades e sofrimentos físicos?

“Eles as conhecem, porque sofreram delas, porém eles não

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experimentam materialmente, como vocês, pois eles são Espíritos.”

254. Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de repouso?

“Eles não podem sentir a fadiga tal como vocês a entendem, e por consequência disso, não precisam de vosso repouso corporal, já que eles não possuem órgãos dos quais as forças devam ser reparadas. No entanto, o Espírito repousa no sentido de não permanecer numa atividade constante; ele não age de maneira material; sua ação é toda intelectual e seu repouso é totalmente moral. Isto quer dizer que há momentos em que o seu pensamento deixa de estar tão ativo e não se entrega a um objeto determinado; é um verdadeiro descanso, mas que não é comparável ao do corpo. O tipo de fadiga que os Espíritos podem sentir está na proporção da inferioridade deles, quanto mais eles sejam elevados, tanto menos repouso é necessário.”

255. Quando um Espírito diz que sofre, que natureza de sofrimento ele sente?

“Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos.”

256. De onde surgiu então que alguns Espíritos se queixam de sentir frio ou calor?

“Reminiscência do que tenham padecido durante a vida, às vezes tão penosa quanto a realidade; muitas vezes é uma comparação mediante a qual, na falta de coisa melhor, eles exprimem a sua própria situação. Quando se recordam do seu corpo, eles experimentam uma espécie de impressão como quando se tira um casaco e que ainda se crê vesti-lo por mais algum tempo.”

Ensaio teórico sobre a sensação nos Espíritos

257. O corpo é o instrumento da dor; se não é a causa primeira, pelo menos é a causa imediata. A alma tem a percepção dessa dor: essa percepção é o efeito.

A lembrança que a alma conserva da dor pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. Na realidade, nem o frio nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma; a alma não pode congelar nem se queimar.

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Não vemos diariamente a lembrança ou a apreensão de um mal físico produzir o efeito da realidade? Até mesmo causar a morte? Todo mundo sabe que as pessoas amputadas sentem a dor no membro que não existe mais.

Seguramente que não é aquele membro nem a sede nem o ponto de partida da dor; o cérebro conserva a sua impressão, e isso é tudo. Portanto, podemos crer que ocorra nisso algo de semelhante nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito — que desempenha um papel tão importante em todos os fenômenos espíritas, nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado do Espírito no momento da morte, na ideia tão frequente naquele que ainda está vivo, no quadro tão impactante dos suicidas, dos supliciados, das pessoas que foram absorvidas pelos prazeres materiais, e tantos outros fatos — veio lançar luz sobre essa questão, dando lugar a explicações das quais aqui nós oferecemos o resumo.

O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; ele é tirado do meio ambiente, do fluido universal; contém ao mesmo tempo eletricidade, fluido magnético e, até certo ponto, matéria inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência28 da matéria; é o princípio da vida orgânica, porém não o princípio da vida intelectual: a vida intelectual está no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações se localizam nos órgãos que lhes servem como canais. Com o corpo destruído, as sensações são generalizadas. Daí porque o Espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés. Aliás, é preciso cuidar para não confundir as sensações do perispírito

— que se tornou independente — com as do corpo: só podemos pegar estas últimas como termo de comparação e não como exatidão. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é aquele do corpo: mas também não é um sofrimento exclusivamente moral, como o remorso — pois ele se queixa do frio e do calor; ele não sofre mais no inverno do que no verão: temos visto Espíritos atravessarem chamas sem experimentarem qualquer dor; conseguintemente a temperatura não lhes causa nenhuma impressão.

Então a dor que eles sentem não é uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo de que o próprio Espírito nem sempre tem perfeita 28 Ver nota relacionada com a questão 82. — N. T.

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noção, precisamente porque a dor não está localizada e porque ela não é produzida por agentes exteriores: é mais uma reminiscência do que uma realidade, mas uma reminiscência igualmente penosa. Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver.

A experiência nos ensina que no momento da morte o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; durante os primeiros instantes o Espírito não entende a sua situação: ele não acredita estar morto e se sente vivo; vê seu corpo ao lado, sabe que este lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja uma ligação entre o corpo e o perispírito. Um suicida nos disse: “Não, não estou morto.” E acrescentou: “no entanto, sinto os vermes a me roerem”. Ora, certamente os vermes não roíam o perispírito e menos ainda o Espírito; roíam apenas o corpo. Porém, como a separação do corpo e do perispírito não estava completa, disso se produzia uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que estava acontecendo com o corpo. Repercussão talvez não seja bem a palavra, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material; era antes a visão do que se passava com o corpo ao qual ainda se ligava o seu perispírito, que lhe causava uma ilusão que ele tomava como uma realidade. Assim, não era uma reminiscência, porque, durante sua vida, ele não havia sido roído pelos vermes: era o sentimento da atualidade. Vemos por aí as deduções que podemos tirar dos fatos, quando eles são observados atentamente. Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que é provavelmente o que chamamos fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo não sente mais nada, por já não haver nele nem Espírito nem perispírito. O perispírito, desprendido do corpo, experimenta a sensação, mas, como ela já não lhe chega por um canal limitado, é uma sensação geral. Ora, como o perispírito não é realmente mais do que um simples agente de transmissão — porque é o Espírito que tem consciência —, daí resulta que se pudesse existir um perispírito sem Espírito, este não sentiria mais do que o corpo que está morto. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, ele seria inacessível a qualquer sensação dolorosa. É o que ocorre com os Espíritos completamente depurados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, mais a essência do

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perispírito se torna etérea, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos denso.

Mas, dirão: as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, bem como as sensações desagradáveis; ora, se o Espírito puro é inacessível a algumas delas, deve ser igualmente inacessível às outras sensações. Sim, sem dúvida, com relação às que vêm unicamente da influência da matéria que nós conhecemos. O som dos nossos instrumentos e o perfume das nossas flores não lhe causam nenhuma impressão, e, entretanto, há nele sensações íntimas, de um charme indefinível, de que não podemos formar nenhuma ideia, porque a esse respeito nós somos iguais a cegos de nascença diante da luz. Sabemos que isso existe; mas de que modo? Aí a nossa ciência se detém. Sabemos que há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos de todo o ser, e não como no homem, de uma parte do ser; mas, novamente, de que modo? É o que não sabemos. Os próprios Espíritos nada podem nos informar sobre isso, porque a nossa linguagem não é capaz de exprimir ideias que não possuímos, como na língua dos selvagens não há palavras para exprimir as nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.

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