346. O que acontece com o Espírito se o corpo que ele escolheu vier a morrer antes de nascer?
“Ele escolhe outro corpo.”
346-a. — Qual pode ser a utilidade dessas mortes prematuras?
“São as imperfeições da matéria que na maioria das vezes causa essas mortes.”
347. Que utilidade pode haver para o Espírito uma encarnação num corpo que morre poucos dias depois do nascimento?
“O ser não tem consciência bastante desenvolvida da sua existência, então a importância da morte é quase nenhuma; conforme já dissemos, o que ocorre muitas vezes é uma prova para os pais.”
348. O Espírito sabe previamente que o corpo que ele escolheu não tem chance de viver?
“Sabe algumas vezes, mas se ele o escolheu por esse motivo, significa que está recuando diante da prova.”
349. Quando uma encarnação é perdida para o Espírito, por uma causa qualquer, ela lhe é suprida imediatamente por outra existência?
“Nem sempre imediatamente. O Espírito precisa de tempo para escolher de novo, a menos que a reencarnação instantânea decorra de uma determinação anterior.”
199 – O Livro dos Espíritos
350. Uma vez unido ao corpo da criança, quando então já não há como o Espírito voltar atrás, ele alguma vez lamenta a escolha que fez?
“Quer saber se, como homem, o Espírito se queixa da vida que tem? Se ele desejaria que fosse outra? Sim; se lamenta a escolha que fez? Não, pois ele desconhece que ele fez a escolha. Uma vez encarnado, o Espírito não pode lastimar uma escolha de que não tem consciência, mas ele pode achar a carga pesada demais e considerá-la superior às suas forças — é então que ele recorre ao suicídio.”
351. No intervalo entre a concepção e o nascimento, o Espírito goza de todas as suas capacidades?
“Mais ou menos, conforme a época, pois ele ainda não está encarnado, mas apenas vinculado. A partir do instante da concepção, a perturbação começa a envolver o Espírito e adverte que chegou o momento de tomar uma nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase como o de um Espírito encarnado durante o sono do corpo; à medida que a hora do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado, do qual ele não tem mais consciência, como homem, logo que entra na vida. Contudo, essa lembrança volta pouco a pouco à sua memória no seu estado de Espírito.”
352. No momento do nascimento, O Espírito recobra imediatamente a plenitude das suas faculdades?
“Não, elas se desenvolvem gradualmente com os órgãos. Para o Espírito, é uma existência nova; é preciso que ele aprenda a se servir dos seus instrumentos; as ideias lhe vêm pouco a pouco como a um indivíduo que desperta do sono e que se encontra em uma situação diferente daquela que ocupava na véspera.”
353. A união do Espírito e do corpo não estando completa e definitivamente consumada senão depois do nascimento, poderíamos considerar o feto como dotado de uma alma?
“O Espírito que deve animar tal corpo de alguma forma existe fora deste.
Então o feto não tem uma alma, propriamente falando, visto que a encarnação
200 – Allan Kardec
está apenas em via de se realizar. Entretanto, o feto está ligado à alma que deve possuir.”
354. Como explicar a vida intrauterina?
“É a da planta que vegeta. A criança vive da vida animal. O homem tem em si mesmo a vida animal e vegetal, que, no nascimento, se completa pela vida espiritual.”
355. Existem, como o indica a ciência, crianças que desde o seio materno não nasceram viáveis; e com que objetivo ocorre isso?
“Isso acontece frequentemente e Deus o permite como prova, tanto para os pais quanto para o Espírito designado a ocupar esse lugar.”
356. Entre as crianças natimortas haveria algumas que não tenham sido destinadas à encarnação de nenhum Espírito?
“Sim, há algumas que jamais tiveram um Espírito destinado para seu corpo: nada devia se efetuar para eles. É somente então pelos pais que essa criança veio.”
356-a. — Um ser dessa natureza pode chegar a nascer?
“Sim, às vezes, mas de fato ele não vive.”
356-b. — Toda criança que sobrevive ao seu nascimento obrigatoriamente tem um Espírito encarnado nela?
“O que ela seria se não fosse assim? Não seria um ser humano.”
357. Quais são, para o Espírito, as consequências do aborto?
“É uma existência nula a ser recomeçada.”
358. O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?
“Há crime sempre desde o momento em que vocês transgridem a lei de Deus. A mãe, ou qualquer pessoa, sempre cometerá um crime ao tirar a vida
201 – O Livro dos Espíritos
da criança antes do seu nascimento, pois isso é impedir a alma de passar pelas provas das quais o corpo deveria ser o instrumento.”
359. No caso em que a vida da mãe ficaria em perigo com o nascimento da criança, haveria crime em sacrificar a criança para salvar a mãe?
“É preferível sacrificar o ser que ainda não existe ao ser que já existe.”