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Embaixo, na venda, uns quatro...” – quem me informou disso foi o Jiribibe, em meu ouvido carecendo de altear voz, tanto que espingardaria estrondava.

– “Pouco é, para ações. Tu vai lá, Riobaldo...” – quem me disse foi Diadorim, em tanto. Surriada zuniu. O tutuco das balas, e as que batiam no chão, as raivosas, tirando terra.

Atirei, seco. Umas três ou quatro vezes. Carreguei em novamente.

– “Aqui é que é meu dever, Diadorim. Por o mais perigoso...” – eu falei, muito alerta. Tudo que Diadorim aconselhasse, eu punha de remissa; a modo de que com pressentimentos.

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas

– “Tu vai, Riobaldo. Acolá no alto, é que o lugar de chefe.

Com teu dever, pela pontaria mestra: que lá em riba, de lá tu mais alcança... Constante que, aqui, o negócio está garantido...”

– ele disse, mansinho, de me persuadir.

Troquei o rifle-papo pelo máuser, movi mão, fogo. Nesse ato, nem sei se matei. Às artes, lá, o sobrado, que torna mirei e admirei. Meu posto? O quanto também olhei Diadorim: ele, firme se mostrando, feito veadamãe que vem aparecer e refugir, de propósito, em chamariz de finta, para a gente não dar com o veadinho filhote onde é que está amoitado... Aquele sobrado era a torre. Assumido superior nas alturas dele, é que era para um chefe comandar – reger o todo cantão de guerra!

– “Eu vou...” –; fui.

Deixado João Curiol no meu lugar, e esse tinha muita valia.

Rastejei, tomei saída, conforme tinha de ir: pelos quintais das casas. Ainda virei, relanceando. Sempre queria ver Diadorim. O

querer-bem da gente se despedindo feito um riso e soluço, nesse meio de vida.

Avancei, furando os terreiros e as hortas das casas, eu debaixo de armas, nos arreios. Toda a parte ali tinha gente

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas nossa, que com brados me saudavam: conforme vale, quando um chefe mostra mor valentia. Gente com o Jõe Bexiguento, sobrechamado o “Alpercatas”. E estava lá o João Nonato – que dava boa-sorte, com o bom ar. Avancei, rompi uma cerquinha de taquara, contornei um pano de muro, onde o Paspe tinha furado os adobes, cavando torneiras. E dei fé: que o Jiribibe vinha me acompanhando. O menino bom. Os olhinhos dele a gente só via era porque eram inventados de pretos. – “Será, da banda de lá, estão bem governando, os clavinoteiros?” – ele me disse. Aí, por que me dizia? Soubesse não que o brinquedo agora era mortal? Sobre o que, se riu, me apresentando: o que era, no fofo da terra, debaixo duma roseira, um gatinho preto-e-branco, dormindo seu completo sossego, fosse surdo, refestelado: ele estava até de mãos postas... Mas, perto de mim, veio grão d’aço – que varou cheiamente um pé de mamoeiro. –

“Vigia, te abaixa!” – eu ralhei com o Jiribibe. A gente ouvia a urração, ou cita seja, destemperada, dos inimigos, e um desentoar de cantiga, que toda pessoa era filho-da, segundo a qual. Aos canalhas! Mas mais xingava o Jiribibe, ripostando. Daí, depressa, ganhamos trincheiras, atrás dum forno de assar biscoitos: e berraram punhadão de disparos, para nosso lado, chega semelhava rajada de chuva-de-pedra. Lugar danoso!

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas Aguardamos, deitados. – “Te foge, Jiribibe, que figuro eles têm gente atirando de cima de árvores...” – eu total aconselhei.

Assim rastejávamos. E pouco faltava para o quintal do sobrado: só uma cerca miúda, com um chuchuzeiro dependurado com chuchus grandes; eram uns chuchus enormes. – “Vam’ boro, Chefe!” – que o Jiribibe gritou. E caiu morto, para pra cá –

acertado na testa. Não gritei, e rastejei. Ao quando dar o derradeiro lance, na porta da cozinha do sobrado, derrubei uma bacia grande, que lá em-pé encostada estava. Aí entrei. Aquela bacia atrás de mim levou uma carga de tirázios, com a qual retiniu toda, lata velha... No eu entrar, os que ali vi me saudaram: – “Epa, Chefe!” – Respondi: – “Eh, epa!” E, naquele instante, pensei: aquela guerra já estava ficando adoidada. E

medo não tive. Subi a escada.

O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O

senhor avista meus cabelos brancos... Viver – não é? – é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. O sertão me produz, depois me engoliu, depois me cuspiu do quente da boca... O senhor crê minha narração?

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas Subi aquela escada-de-redor, escutando a madeira nos meus passos, e avisando: – “Quem evém sou eu, minha gente!”

– repetido. Aquilo meio sombrio, o ar que dava era como de ser antigo dia-de-domingo. Aí, notei que eu mesmo arfava um pouco, e estava com uma sede. Por lá devia de ter algum pote fresco – imaginei. – “É eu! minha gente...” – eu disse; mesmo assim eles se assustaram primeiro, depois tomaram satisfação por me ver. Os que na sala que dava para a frente da rua estavam, os quais eram: que o Araruta e o José Gervásio, nas armas; e o menino Guirigó e o cego Borromeu, assentados no banco, encostado na parede para o interno. Esses dois, muito juntos, como que tremiam um tanto; deviam de estar rezando. –

“Que e a mulher?” – eu indaguei.

O menino Guirigó queria mostrar: ela estava presa num quarto. Ela também estivesse rezando? Corredor velho, para ele davam tantas portas, por detrás duma delas tinham fechado a mulher, num cômodo. A chave estava na mão do cego Borromeu. Era uma chave de todo-tamanho, ele fez menção de me entregar; rejeitei. – “Tem talha d’água, por aqui?” – eu disse, eu tinha uma pressa desordenada, de certo. – “Diz que lá embaixo tem...” – foi o que o menino Guirigó me deu resposta.

Entendi que ele curtia sede, igualmente, e querendo comigo ir –

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas por seguro temia descer sozinho a escada. E o cego Borromeu, também, que não respondeu, mas que mexeu a boca, mole, mole, fazendo desse rumor de quem termina de mastigar rapadura. Me enjoou. Mas ele não tinha comido alguma coisa.

Não tive comigo: – “Tu me ouve, xixilado, tu me ouve? Assim tu me dá respeito e agradece interesses de ter tomado conta de você, e trazido em companhia minha, por todas as partes?!” Eu disse. Ele disse: – “Deus vos proteja, Chefe, dê ademão por nós todos... E de tudo peço perdão...” Ele se ajoelhou. Ouvir e ver isso me embaraçasse, eu já pegava ponto de remorso.

Porque esse homem, sem visão carnal, de valia nenhuma, maldade minha era que tinha sido a trazida dele, de em desde o começo de lugar onde ele cumpria sua vida. E agora ele devia de padecer o redobrado medo, concebendo que vai ou vai a gente fugisse dali, e ele para trás parasse, para as unhas dos outros.

Mas a cena desses todos pensamentos em mim foi ligeira demais, conforme não tinham geração. A meio me lembro, e conto, é só para firmar minha capacidade. Como o reslumbre, que, no tento da hora, eu prezei em Otacília, juízo vago. Como para a janela eu fui, quase que na imaginação de botar meu olhar e haver de ver, no longe tal, o lugar aonde ela andava. Conto, para o senhor conhecer quanta espécie de causa, no mover da

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas mente, no mero da tragagem de guerra. E o José Gervásio e o Araruta, cada um em beira duma janela, agachados, carabinas em mão, as cheias cartucheiras. Para mim era que olhavam, estudados, querendo algum qualquer sinal. E aí uma bala alta abelhou, se seguindo sozinha, muito rente, com cujo barulho de música que fez eu conheci que era de comblém. Eu tinha de dar mais espertação ainda àqueles dois. Tenência. Para uma janela me cheguei. E endureci no rifle. Em volta relanceei. Eu – o bedegas!

Saiba o senhor: eu estava ali, assim em padastro de todos, de do ar, de rechego, feito que em jirau-de-espera, para castigar onça assassinã. Vi ou não vi? Só espreitei. Dono do que lucrei, de espreitar. Uns deles, num terreiro acolá, manobravam a gosto, nas más armas. Assestei. Um era um sujeitão, muito baiano nos trajes. Do gatilho do rifle, no triz, me mandei nele.

Aquele caiu torto; o outro completou. Assim eram três: o derradeiro percebeu que tinha céu, e correu, dando gambetas.

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