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“Com efeito! Com efeito!...” – falou. Vai, vai, forteou mais a voz:

– “Só quero pergunta: se ele convérn em nós dois resolvermos isto à faca! Pergunto para briga de duelo... É o que acho! Carece mais de discussão não... Zé Bebelo e eu – nós dois, na faca!...”

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas Só Candelário mais longe não conseguia de dizer, só repetia aquilo, desafio, e no mais se mexer, feito com são-guido ou escaravelho. Sem raiva quase nenhuma – notei; mas também sem nenhuma paciência. Só Candelário sendo assim. Mas aí Joca Ramiro remediou, dizendo, resistencioso, e escondeu o de que ria:

– “Resultado e condena, a gente deixa para o fim, compadre. Demore, que logo vai ver. Agora é a acusação das culpas. Que crimes o compadre indica neste homem?”

– “Crime?... Crime não vejo. É o que acho, por mim é o que declaró com a opinião dos outros não me assopro. Que crime? Veio guerrear, como nós também. Perdeu, pronto! A gente não é jagunços? A pois: jagunço com jagunço – aos peitos, papos. Isso é crime? Perdeu, rachou feito umbuzeiro que boi comeu por metade... Mas brigou valente, mereceu... Crime, que sei, é fazer traição, ser ladrão de cavalos ou de gado... não cumprir a palavra...”

– “Sempre eu cumpro a palavra dada!” – gritou de lá Zé Bebelo... Só Candelário olhou encarado para ele, rente repente, como se nos instantes antes não soubesse que ele estava ali a três passos. Só assim mesmo prosseguiu:

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas

– “... Pois, sendo assim, o que acho é que se deve de tornar a soltar este homem, com o compromisso de ir ajuntar outra vez seu pessoal dele e voltar aqui no Norte, para a guerra poder continuar mais, perfeita, diversificada...”

Ressaltados, os homens, ouvindo isso, rosnaram de bem, cá e lá: coragem sempre agradava. Diadorim apertou meu braço, como sussurrou: – “Doideira, dele. Riobaldo, Só Candelário está doido varrido...” Aí podia ser. Mas eu tinha relanceado um afio de onde ódio que ele mirou no Her-, mógenes, enquanto falando; e entendi: Só Candelário não gostava do Hermógenes! Sendo que ele podia até nem saber disso, não ter noção firme de que não gostava; mas era a maior verdade. Sucinto, só por conta disso, eu apreciei demais aquele rompante.

Só Candelário esbarrou de falar, secado. Só aos bufos, surdo de se ver que ele tinha feito o grande esforço todo, sopitante. Se afundava para os altos.

– “Apraz ao senhor, compadre Ricardão?” – Joca Ramiro solicitou, passando a vez.

Aquele retardou tanto para começar a dizer, que pensei fosse ficar para sempre calado. Ele era o famoso Ricardão, o

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas homem das beiras do Verde Pequeno. Amigo acorçoado de importantes políticos, e dono de muitas posses. Composto homem volumoso, de meças. Se gordo próprio não era, isso só por no sertão não se ver nenhum homem gordo. Mas um não podia deixar de se admirar do peso de tanta corpulência, a coisa de zebu guzerate. As carnes socadas em si – parecia que ele comesse muito mais do que todo o mundo – mais feijão, fubá de milho, mais arroz e farofa –, tudo imprensado, calcado, sacas e sacas. Afinal, ele falou: fosse o Almirante Balão:

– “Compadre Joca Ramiro, o senhor é o chefe. O que a gente viu, o senhor vê, o que a gente sabe o senhor sabe. Nem carecia que cada um desse opinião, mas o senhor quer ceder alar de prezar a palavra de todos, e a gente recebe essa boa prova...

Ao que agradecemos, como devido. Agora, eu sirvo a razão de meu compadre Hermógenes: que este homem Zé Bebelo veio caçar a gente, no Norte sertão, como mandadeiro de políticos e do Governo, se diz até que a soldo... A que perdeu, perdeu, mas deu muita lida, prejuízos. Sérios perigos, em que estivemos; o senhor sabe bem, compadre Chefe. Dou a conta dos companheiros nossos que ele matou, que eles mataram. Isso se pode repor? E os que ficaram inutilizados feridos, tantos e tantos... Sangue e os sofrimentos desses clamam. Agora, que

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas vencemos, chegou a hora dessa vingança de desforra. A ver, fosse ele que vencesse, e nós não, onde era que uma hora destas a gente estava? Tristes mortos, todos, ou presos, mandados em ferros para o quartel da Diamantina, para muitas cadeias, para a capital do Estado. Nós todos, até o senhor mesmo, sei lá.

Encareço, chefe. A gente não tem cadeia, tem outro despacho não, que dar a este; só um: é a misericórdia duma boa bala, de mete-bucha, e a arte está acabada e acertada. Assim que veio, não sabia que o fim mais fácil é esse? Com os outros, não se fez? Lei de jagunço é o momento, o menos luxos. Relembro também que a responsabilidade nossa está valendo: respeitante ao seo Sul de Oliveira, doutor Mirabô de Melo, o velho Nico Estácio, compadre Nhô Lajes e coronel Caetano Cordeiro... Esses estão agüentando acossamento do Governo, tiveram de sair de suas terras e fazendas, no que produziram uma grande quebra, vai tudo na mesma desordem... A pois, em nome deles, mesmo, eu sou deste parecer. A condena seja: sem tardança! Zé Bebelo, mesmo zureta, sem responsabilidade nenhuma, verte pemba, perigoso. A condena que vale, legal, é um tiro de arma. Aqui, chefe – eu voto!...”

A babas do que ele vinha falando, o povaréu jagunço movia que louvava, confirmava. Aí, nhães, pelos que davam mais

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas demonstração, medi quantidade dos que eram do Ricardão próprio. Zé Bebelo estava definito – eu pensei – qualquer rumorzinho de salvação para ele se mermando, se no mel, no p’ra passar. Mire e veja o senhor: e o pior de tudo era que eu mesmo tinha de achar correto o razoado do Ricardão, reconhecer a verdade daquelas palavras relatadas. Isso achei, meio me entristeci. Por quê? O justo que era, aquilo estava certo.

Mas, de outros modos – que bem não sei – não estava. Assim, por curta idéia que eu queira dividir: certo, no que Zé Bebelo tinha feito; mas errado no que Zé Bebelo era e não era. Quem sabe direito o que uma pessoa é? Antes sendo: julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado. Eh, bê. Mas, para o escriturado da vida, o julgar não se dispensa; carece? Só que uns peixes tem, que nadam rio-arriba, da barra às cabeceiras. Lei é lei? Loas! Quem julga, já morreu. Viver é muito perigoso, mesmo.

Nisso, Joca Ramiro já tinha transferido a mão de fala a Titão Passos – esse era como um filho de Joca Ramiro, estava com ele nos segredos simples da amizade. Abri ouvidos. Idéia me veio que ia valer vivo o que ele falasse. Aí foi:

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas

– “Ao que aprecio também, Chefe, a distinção minha desta ocasião, de dar meu voto. Não estou contra a razão de companheiro nenhum, nem por contestar. Mas eu cá sei de toda consciência que tenho, a responsabilidade. Sei que estou como debaixo de juramento: sei porque de jurado já servi; uma vez, no júri da Januária... Sem querer ofender ninguém – vou afiançando.

O que eu acho é que é o seguinte: que este homem não tem crime constável. Pode ter crime para o Governo, para delegado e juiz-de-direito, para tenente de soldados. Mas a gente é sertanejos, ou não é sertanejos? Ele quis vir guerrear, veio –

achou guerreiros! Nós não somos gente de guerra? Agora, ele escopou e perdeu, está aqui, debaixo de julgamento. A bem, se, na hora, a quente a gente tivesse falado fogo nele, e matado, aí estava certo, estava feito. Mas o refrego de tudo já se passou.

Então, isto aqui é matadouro ou talho?... Ah, eu, não. Matar, não.

Suas licenças...”

Coração meu recomprei, com as palavras de Titão Passos.

Homem em regra, capaz de mim. Cacei jeito de sorrir para ele, aprovei com a cabeça; não sei se ele me viu. E mais não houve rebuliço. Só que notei estopim os homens ficando diferentes.

Agora tomavam mais ânsia de saber o que era que iam decidir os manantas. O pessoal próprio de Titão Passos era que formavam

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João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas o bando menor de todos. Mas gente muito valente. Valentes como aquele bom chefe. “De que bando eu sou?” – comigo pensei. Vi que de nenhum. Mas, dali por diante, eu queria encostar direto com as ordens de Titão Passos. – “Ele é meu amigo...” – Diadorim no meu ouvido falou – “... Ele é bisneto de Pedro Cardoso, trasneto de Maria da Cruz!” Mas eu nem tive surto de perguntar a Diadorim o resumo do que ele pensasse.

loca Ramiro agora queria o voto de João Goanhá – o derradeiro falante, que rente dificultava.

João Goanhá fez que ia levantar, mas permaneceu agachado mesmo. Resto que retardou um pouco no dizer, e o que disse, que digo:

Are sens

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