A parelha estacou, resvalando à porta do hotel. O Sr. Basílio de Brito não estava, o senhor Visconde Reinaldo, sim.
—
Bem, para casa, para onde eu disse!
O cocheiro bateu. E Luísa, sacudida por uma irritabilidade febril, insultava o Conselheiro, o estafermo, o imbecil! Maldizia a vida que lhos fizera conhecer,
a ele e a todos os amigos da casa! Vinha-lhe uma vontade acre de mandar o casamento ao diabo, de fazer o que lhe viesse à cabeça!. .
À porta não tinha troco para o cocheiro. — Espere! — disse, subindo furiosa.
— Eu lhe mandarei pagar!
"Que bicha!, pensou o cocheiro.
Foi Joana que veio abrir; e quase recuou, vendo-a tão vermelha, tão excitada.
Luísa foi direita ao quarto: o cuco cantava três horas. Estava tudo desarrumado; vasos de plantas no chão, o toucador coberto com um lençol velho, roupa suja pelas cadeiras. E Juliana, com um lenço amarrado na cabeça, varria tranquilamente, cantarolando.
—
Então você ainda não arrumou o quarto! — gritou Luísa.
Juliana estremeceu àquela cólera inesperada.
—
Estava agora, minha senhora!
—
Que estava agora vejo eu! — rompeu Luísa. — São três horas da tarde e ainda o quarto neste estado!
Tinha atirado o chapéu, a sombrinha.
—
Como a senhora costuma vir sempre mais tarde.. — disse Juliana. e os seus beiços faziam-se brancos.
—
Que lhe importa a que horas eu venho? Que tem você com isso? A sua obrigação é arrumar logo que eu me levante. E não querendo, rua, fazem-selhe as contas!
Juliana fez-se escarlate e cravando em Luísa os olhos injetados:
—
Olhe, sabe que mais? Não estou para a aturar! E arremessou violentamente a vassoura.
—
Saia! — berrou Luísa. — Saia imediatamente! Nem mais um momento em casa!
Juliana pôs-se diante dela, e com palmadas convulsivas no peito a voz rouca:
—
Hei de sair se eu quiser! Se eu quiser!
—
Joana! — bradou Luísa.
Queria chamar a cozinheira, um homem, um policia, alguém! Mas Juliana descomposta, com o punho no ar, toda a tremer:
—
A senhora não me faça sair de mim! A senhora não me faça perder a cabeça! — E com a voz estrangulada através dos dentes cerrados: — Olhe que nem todos os papéis foram pra o lixo!
Luísa recuou, gritou:
—
Que diz você?
—
Que as cartas que a senhora escreve aos seus amantes, tenho-as eu aqui!