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Dá mais alegria à peça, Sr. Ledesma. O espectador sai mais aliviado!

Deixe sair o espectador aliviado!

Mais um bolinho, Conselheiro?

Estou repleto, minha prezada senhora.

E, então, invocou a opinião de Jorge. Não lhe parecia que o bom Ernesto devia perdoar?

Eu, Conselheiro? De modo nenhum. Sou pela morte. Sou inteiramente pela morte. E exijo que a mates, Ernestinho!

D. Felicidade acudiu, toda bondosa:

Deixe falar, Sr. Ledesma. Está a brincar. E ele então que é um coração de anjo!

Está enganada, D. Felicidade — disse Jorge, de pé diante dela. — Falo sério e sou uma fera! Se enganou o marido, sou pela morte. No abismo, na sala, na rua, mas que a mate. Posso lá consentir que, num caso desses, um

primo meu, uma pessoa da minha família, do meu sangue, se ponha a perdoar como um lamecha! Não! Mata-a! É um princípio de família. Mata-a quanto antes!

Aqui tem um lápis, Sr. Ledesma — gritou Julião, estendendo-lhe uma lapiseira.

O Conselheiro, então, interveio grave:

Não — disse —, não creio que o nosso Jorge fale sério. É muito instruído para ter ideias tão. .

Hesitou, procurou o adjetivo. Juliana pôs-se-lhe diante com uma bandeja, onde um macaco de prata se agachava comicamente sob um vasto guarda-sol eriçado de palitos. Tomou um, curvou-se, e concluiu:

. .tão anticivilizadoras.

Pois está enganado, Conselheiro, tenho-as — afirmou Jorge. — São as minhas ideias. E aqui tem, se em lugar de se tratar de um final de acto, fosse um caso da vida real, se o Ernesto viesse dizer-me: "Sabes, encontrei minha mulher. ."

Oh, Jorge! — disseram, repreensivamente.

Bem, suponhamos, se ele mo viesse dizer, eu respondia-lhe o mesmo. Dou a minha palavra de honra, que lhe respondia o mesmo: "Mata-a!"

Protestaram. Chamaram-lhe "tigre", "Otelo", "Barba-Azul". Ele ria, enchendo muito sossegadamente o seu cachimbo.

Luísa bordava, calada; a luz do candeeiro, abatida pelo abajur, dava aos seus cabelos tons de um louro quente, resvalava sobre a sua testa branca como sobre um marfim muito polido.

Que dizes tu a isto? — disse-lhe D. Felicidade.

Ela ergueu o rosto, risonha, encolheu os ombros. .

E o Conselheiro logo:

A senhora D. Luísa diz com orgulho o que dizem as verdadeiras mães de família:

Impurezas do mundo não me roçam

Nem a fímbria da túnica sequer.

Ora, muito boas noites — disse, à porta, uma voz grossa.

Voltaram-se.

Ó Sebastião! O Sr. Sebastião! Ó Sebastiarrão!

Era ele, Sebastião, o grande Sebastião, o Sebastiarrão, Sebastião tronco de árvore — o íntimo, o camarada, o inseparável de Jorge desde o Letim, na aula de Frei Libório aos paulistas.

Era um homem baixo e grosso, todo vestido de preto, com um chapéu mole desabado na mão. Começava a perder um pouco na frente os seus cabelos castanhos e finos. Tinha a pele muito branca, a barba alourada e curta. Veio sentar-se ao pé de Luísa.

Então de onde vem, de onde vem?

Vinha do Price. Rira muito com os palhaços. Houvera a brincadeira da pipa.

O seu rosto, em plena luz, tinha uma expressão honesta, simples, aberta: os olhos pequenos, azuis de um azul-claro, de uma suavidade séria, adoçavam-se muito quando sorria; e os beiços escarlates, sem películas secas, os dentes luzidios revelavam uma vida saudável e hábitos castos. Falava devagar, baixo, como se tivesse medo de se manifestar ou de fatigar. Juliana trouxera-lhe a sua e remexendo o açúcar com a colher direita, os olhos ainda a rir, um sorriso bom:

A pipa tem muita graça! Muita graça!

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