Sempre é verdade? Deixa-nos?
O Castro curvou-se:
—
Além de amanhã. No Orenoque.
—
Então desta vez os jornais não mentiram. E com demora?
—
Per omnia saecula saeculorum.
Leopoldina pasmava. Deixar Lisboa! Um homem tão estimado, que se podia divertir tanto! — Pois não é verdade? — disse voltando-se para Luísa, para a tirar do seu silêncio embaraçado.
—
Com certeza — murmurou ela.
Estava sentada à beira da cadeira, como assustada, pronta a fugir. E os olhares do Castro, insistentes por trás do reflexo dos óculos, incomodavam-na.
Leopoldina reclinara-se no sofá, e ameaçando-o com o dedo erguido:
—
Ah! Aí nessa ida para França anda história de saias!
Ele negou frouxamente, com um sorriso fátuo.
Mas Leopoldina não achava as francesas bonitas — o que era é que tinham muito chique, muita animação..
O Castro declarou-as adoráveis. Sobretudo para a estroinice! Ah! Conhecia-as bem! Enfim, lá como mães de família não dizia. Mas para uma ceia, para um bocado de cancã não havia outras. . — Afirmava-o com convicção, pois, como os burgueses "da sua roda", avaliava doze milhões de francesas por seis prostitutas do café-concerto — que tinha pago caro e enfastiado imenso!
Leopoldina, para o lisonjear, chamou-lhe estroina!
Ele sorria, deliciando-se, afiando as pontas do bigode:
—
Calúnias, calúnias.. — murmurava.
E Leopoldina voltando-se para Luísa:
—
Comprou uma quinta magnífica em Bordéus, um palácio!. .
—
Uma choupana, uma choupana. .
—
E naturalmente vai dar festas magníficas!. .
—
Modestos chás, modestos chás.. — dizia, repoltreando-se.
E riam ambos de um modo muito afetado.
O Castro curvou-se então para Luísa:
—
Tive o gosto de ver Vossa Excelência há tempos, na Rua do Ouro..
—
Creio que também me lembro... — respondeu ela.
E ficaram calados. Leopoldina tossiu, sentou-se mais à beira do sofá e depois de sorrir:
—
Pois eu mandei-o chamar porque temos uma coisa a dizer-lhe.