—
Castro inclinou-se. O seu olhar não deixava Luísa, percorria-a com atrevimento, palpava-a.
—
Aqui está o que é. Eu vou direita às coisas, sem preâmbulos. — E teve outro risinho. — Aqui a minha amiga está num grande apuro, e precisa um conto de réis.
Luísa acudiu, com a voz quase sumida:
—
Seiscentos mil réis...
—
Isso não importa — disse Leopoldina com uma indiferença opulenta estamos a falar com um milionário! A questão é esta: quer o meu amigo fazer o favor?
O Castro endireitou-se na cadeira, devagar, e com uma voz arrastada, ambígua:
—
Certamente, certamente..
Leopoldina ergueu-se logo:
—
Bem. Eu tenho ali no quarto a costureira à espera. Deixo-os falar do negócio.
E à porta do quarto, voltando-se para o Castro, ameaçando-o com o dedo, a voz muito alegre:
—
Que o juro seja pequeno, hem?
E saiu, rindo.
O Castro disse logo a Luísa, curvando-se:
—
Pois minha senhora, eu...
—
A Leopoldina contou-lhe a verdade, estou numa grande aflição de dinheiro. E dirijo-me a si. . São seiscentos mil réis... Procurarei pagar, o mais depressa. .
—
Oh, minha senhora! — fez o Castro com um gesto generoso. Começou então a dizer que compreendia perfeitamente, todo o mundo tinha os seus embaraços.. Lamentava que a não tivesse conhecido há mais tempo. . Sempre tivera uma grande simpatia por ela. . Uma grande simpatia!. .
Luísa calava-se, com os olhos baixos. Ele foi pousar o chicote na jardineira, veio sentar-se no sofá junto dela. Vendo o seu ar embaraçado, pediu-lhe que não se afligisse. Valia lá a pena por questões de dinheiro! Tinha o maior prazer em servir uma senhora nova, tão interessante.. Fizera perfeitamente em se dirigir a ele. Conhecia casos em que senhoras se dirigiam a agiotas que as exploravam, eram indiscretos. . — E falando tinha-lhe tomado a mão; o contato daquela pele apetecida, exaltando-lhe o desejo brutalmente, fazia-o respirar alto. Luísa, toda constrangida, nem retirara a mão; e Castro abrasado
— como uma verbosidade um pouco rouca prometia tudo, tudo o que ela quisesse!. . Os seus olhinhos arregalados devoravam-lhe o pescoço muito branco.
—
Seiscentos mil réis..., o que quiser!. .
—
E quando? — disse Luísa muito perturbada.
Ele via-lhe o seio arfar — e sob a irrupção de um desejo brutal:
—
Já!
Agarrou-a pela cinta, atirou-lhe um beijo voraz, quase lhe mordeu a face.
Luísa ergueu-se com o salto de uma mola de aço.
Mas o Castro escorregara sobre o tapete, de joelhos; e, prendendo-lhe sofregamente os vestidos:
—
Dou-lhe o que quiser, mas sente-se! Há anos que tenho uma paixão por si. Escute! — Os seus braços trémulos subiam; envolviam-na, e o que sentia das formas inflamava-o.