Saltou para o chão, com passadas rijas que faziam tremer o soalho, foi ao jarro, pô-lo à boca, bebeu uma tarraçada. A camisa justa, feita de pouca fazenda, mostrava as formas rijas e valentes.
—
Pois eu fui ao médico — disse Juliana. E com um grande suspiro: —
Ai! Isto só Deus, Sra. Joana! Isto só Deus!
Mas porque se não resolvia a Sra. Juliana a ir à mulher de virtude? Era a saúde certa. Morava ao Poço dos Negros; tinha orações e unguentos para tudo.
Levava meia moeda pelo "preparo".
—
Que isso são humores, Sra. Juliana. O que vossemecê tem, são humores.
Juliana tinha dado dois passos para dentro do quarto. Quando se tratava de doenças, de remédios, tornava-se mais familiar.
Eu já me tenho lembrado... eu já me tenho lembrado de ir à mulher. Mas, meia moeda!
E ficou a olhar, tristemente, refletindo.
—
É o que eu tenho junto para umas botinas de gáspea!
Eram o seu vício, as botinas! Arruinava-se com elas; tinha-as de duraque com ponteiras de verniz; de cordovão com laço; de pelica com pespontos de cor, embrulhadas em papéis de seda, na arca, fechadas — guardadas para os domingos.
Joana censurou-a.
—
Ai! Eu, em se tratando do corpo, do interior, que o diabo leve os chiques!
Queixou-se também da sua miséria. Tinha pedido à senhora um mês adiantamento! Estava sem camisas! As duas que tinha eram uns trapos! Pelo gosto da que trazia, a desfazerem-se!
—
Mas, então! — suspirou. — O meu rapaz precisou um dinheiro. .
—
Vossemecê também, Sra. Joana, deixa-se cardar pelo homem!
Joana sorriu.
—
Ainda que eu tivesse de roer ossos, Sra. Juliana, a última migalha havia de ser para ele!
Juliana teve um risinho seco, e com a voz arrastada:
—
Vale lá a pena!
Mas invejava asperamente a cozinheira pela posse daquele amor, pelas suas delícias. Repetiu, contrafeita:
—
Vale lá a pena! Perfeito rapaz — continuou — o que veio hoje ver a senhora! Melhor que o homem!
E depois de uma pausa:
—
Então esteve mais de duas horas?
—
Tinha saído quando vossemecê entrou.
Mas o candeeiro de petróleo apagava-se, com um cheiro fétido e uma fumarada negra.
—
Boa noite, Sra. Joana. Ainda vou rezar a minha coroa.
—
Ó Sra. Juliana! — disse a outra de entre os lençóis. — Se vossemecê quer ~ três salve-rainhas pela saúde do meu rapaz que tem estado adoentado, eu cá lhe rezava três pelas melhoras do peito.
—
Pois sim, Sra. Joana!
Mas refletindo:
—
Olhe. Eu do peito vou melhor; dê-mas antes para alívio das dores de cabeça. A Santa Engrácia!
—
Como vossemecê quiser, Sra. Juliana.
—
Se faz favor. Boa noite! Fica-lhe aí um cheiro! Credo!