Eu tinha vinte e sete anos — observou ele, curvando-se.
Ficaram calados, um pouco embaraçados. Basílio cofiava o bigode, olhando vagamente em redor.
—
Estás muito bem instalada aqui — disse.
Não estava mal. . A casa era pequena, mas muito cómoda. Pertencia-lhes.
—
Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro? E indicava o retrato por cima do sofá.
—
A mãe do meu marido.
—
Ah! Vive ainda?
—
Morreu.
—
É o que uma sogra pode fazer de mais amável. .
Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados, e com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu.
—
Já? Onde estás?
—
No Hotel Central. E até quando?
—
Até quando quiseres. Não disseste que vinhas amanhã com o rosário?
Ele tomou-lhe a mão, curvou-se:
—
Já se não pode dar um beijo na mão de uma velha prima?
—
Por que não?
Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce.
—
Adeus! — disse.
E à porta com o reposteiro meio erguido, voltando-se:
—
Sabes, que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo, como se vai isto passar?
—
Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu?
Ele hesitou, sorriu:
—
Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hem?
No fundo da escada acendeu o charuto, devagar.
—
"Que bonita que ela está!" — pensou.
E arremessando o fósforo, com força:
—
"E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!. ."
Ao pé da Patriarcal fez parar um cupé vazio; e estendido, com o chapéu nos joelhos, enquanto a parelha esfalfada trotava:
—
"E tem-me o ar de ser muito asseada, coisa rara na terra! As mãos muito bem tratadas! O pé muito bonito!"
Revia a pequenez do pé, pôs-se a fazer por ele o desenho mental de outras belezas, despindo-a, querendo adivinhá-la... A amante que deixara em Paris era alta e magra, de uma elegância de tísica; quando se decotava viam-se as saliências das suas primeiras costelas. E as formas redondinhas de Luísa decidiram-no:
—
A ela! — exclamou com apetite. — A ela, como São Tiago, aos mouros!