Jorge disse, rindo, estendendo os braços:
—
Uma valsa, D. Felicidade?
Ela voltou-se, com um sorriso. E porque não? Em nova era falada! Citou logo a valsa que dançara com o senhor D. Fernando, no tempo da Regência, nas Necessidades. Era uma valsa linda, dessa época: A pérola de Ofir.
Estava sentada ao pé do Conselheiro, no sofá. E como retomando um diálogo mais querido — continuou, baixo para ele, com uma voz meiga:
—
Pois creia, acho-o com ótimas cores.
O Conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.
—
Na estação calmosa passo sempre melhor. E D. Felicidade?
—
Ai! Estou outra, Conselheiro! Muito boas digestões, muito livre de gases... Estou outra!
—
Deus o queira, minha senhora, Deus o queira — disse o Conselheiro esfregando lentamente as mãos.
Tossiu, ia levantar-se, mas D. Felicidade pôs-se a dizer:
—
Espero que esse interesse seja verdadeiro...
Corou. O corpete flácido do vestido de seda preta enchia-se-lhe com o arfar do peito.
O Conselheiro recaiu lentamente no sofá — e com as mãos nos joelhos:
—
D. Felicidade sabe que tem em mim um amigo sincero...
Ela levantou para ele os seus olhos pisados, de onde saíam revelações de paixão e súplicas de felicidade:
—
E eu, Conselheiro!. .
Deu um grande suspiro, pôs o leque sobre o rosto.
O Conselheiro ergueu-se secamente. E com a cabeça alta, as mãos atrás das costas; foi ao piano, perguntou a Luísa curvando-se:
—
É alguma canção do Tirol, D. Luísa?
—
Uma valsa de Strauss — murmurou-lhe Ernestinho, em bicos de pés, ao ouvido.
—
Ah! Muita fama! Grande autor!
Tirou então o relógio. Eram horas, disse, de ir coordenar alguns apontamentos. Aproximou-se de Jorge, com solenidade:
—
Jorge, meu bom Jorge, adeus! Cautela com esse Alentejo! O clima é nocivo, a estação traiçoeira!
E apertou-o nos braços com uma pressão comovida.
D. Felicidade punha a sua manta de renda negra.
—
Já, D. Felicidade? — disse Luísa.
Ela explicou-lhe, ao ouvido: