—
Veio aí o Sr. Sebastião, tinham de ser nove horas...
—
Que lhe disse?
—
Que a senhora tinha saído com a senhora D. Felicidade. Como não sabia, não disse para onde.
E acrescentou:
—
Esteve a conversar comigo, o Sr. Sebastião.. Esteve a conversar mais de meia hora!. .
Luísa recebeu, na manhã seguinte, da parte de Sebastião, um ramo de rosas, magenta-escuro, magníficas. Cultivava-as ele na quinta de Almada, e chamavam-se rosas D. Sebastião. Mandou-as pôr nos vasos da sala; e como o dia estava encoberto, de um calor baixo e sufocante:
—
Olhe — disse a Juliana — abra as janelas.
—
"Bem" — pensou Juliana — "temos cá o melro."
O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na sala, ao piano.
—
Está ali o sujeito do costume — foi dizer Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
—
Ah! Meu primo Basílio? Mande entrar.
E chamando-a:
—
Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo!
Subiu à cozinha, devagar — lograda.
—
Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
—
É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última hora! O diabo tem graça!
—
Então que havia de o homem ser senão parente? — observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trémulo.
—
"É o primo!" — refletia ela. — "E só vem então quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é roupa branca e mais roupa branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na família!"
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda. Havia ali muito "para ver e escutar". E o ferro, estava pronto?
Mas a campainha embaixo, tocou.
—
Boa! Isto agora é um fadário! Estamos na casa do despacho!
Desceu; e exclamou logo, vendo Julião com um livro debaixo do braço: