É algum romance? — perguntou-lhe Luísa.
—
Não. É o tratado do Dr. Lee sobre doenças do útero.
Luísa fez-se escarlate; Julião também, furioso da palavra que lhe escapara. E
Basílio, depois de sorrir, perguntou por uma certa D. Rafaela Grijó, que costumava ir à Rua da Madalena, que usava luneta, e tinha um cunhado gago...
—
Morreu-lhe o marido. Casou com o cunhado.
—
Com o gago?
—
Sim. Tem um filhito dele, gago também.
—
Que conversa, em família! E a D. Eugénia, a de Braga?
Juilão, exasperado, ergueu-se; e com uma voz de garganta seca:
—
Estou com pressa, não me posso demorar. Quando escrever a Jorge, os meus recados, hem?
Abaixou bruscamente a cabeça a Basílio. Mas não achava o chapéu; tinha rolado para debaixo de uma cadeira. Embrulhou-se no reposteiro, topou violentamente contra a porta fechada, e saiu enfim desesperado, desejando vingar-se, odiando Luísa, Jorge, o luxo, a vida — trasbordando agora de ironias, de ditos, de réplicas. Devia-os ter achatado, o asno e a tola... E não lhe acudira nada!
Mas apenas ele tinha fechado a cancela, Basílio pôs-se de pé, e cruzando os braços:
—
Quem é esse pulha?
Luísa corou muito; balbuciou:
—
É um rapaz médico. .
—
É uma criatura impossível, é uma espécie de estudante.
—
Coitado, não tem muitos meios. .
Mas não era necessário ter meios para escovar o casaco e limpar a caspa! Não devia receber semelhante homem! Envergonha uma casa. se o seu marido gostava dele, que o recebesse no escritório!. .
Passeava pela sala, excitado, com as mãos nos bolsos, fazendo tilintar o dinheiro e as chaves.
—
São frescos os amigos da casa!. . — continuou. — Que diabo! Tu não foste educada assim. Nunca tiveste gente deste género na Rua da Madalena.
Não tivera; e pareceu-lhe que as ligações do casamento lhe tinham trazido um pouco o plebeísmo das convivências. Mas um respeito pelas opiniões, pelas de Jorge fez-lhe dizer:
—
Diz que tem muito talento. .
—
Era melhor que tivesse botas.
Luísa, por cobardia, concordou.
—
Também o acho esquisito! — disse.
—