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Falou então do circo. — Uma sensaboria. O melhor era um rapaz que trabalhava no trapézio. Lindo rapaz, bem feito, uma perfeição!

E de repente:

Então o teu primo Basílio chega?

Assim li hoje no Diário de Noticias. Fiquei pasmada!

Ah! Outra coisa que te queria perguntar antes que me esqueça. Com que guarneceste tu aquele teu vestido de xadrezinho azul? Vou mandar fazer um assim.

Tinha-o guarnecido de azul também, um azul mais escuro.

Vem ver. Vem cá dentro.

Entraram no quarto. Luísa foi descerrar a janela, abrir o guarda-vestidos. Era um quarto pequeno, muito fresco, com cretones de um azul pálido. Tinha um tapete barato, de fundo branco, com desenhos azulados. O toucador, alto, estava entre as duas janelas, sob um dossel de renda grossa, muito ornado de

frascos facetados. Entre as bambinelas, em mesas redondas de pé de galo, plantas espessas, begónias, macomas, dobravam decorativamente a sua folhagem rica e forte, em vasos de barro vermelho vidrado.

Aqueles arranjos confortáveis lembraram decerto a Leopoldina felicidades tranquilas. Pôs-se a dizer devagar, olhando em roda:

E tu, sempre muito apaixonada pelo teu marido, hem? Fazes bem, filha, tu é que fazes bem!

Foi em frente do toucador aplicar pó-de-arroz no pescoço, nas faces:

Tu é que fazes bem! — repetia. — Mas vá lá uma mulher prender-se a um homem como o meu!

Sentou-se na poltrona com um ar muito abandonado; vieram as queixas habituais sobre seu marido: era tão grosseiro! Era tão egoísta!

Acreditarás que há tempos para cá, se não estou em casa às quatro horas, não espera, põe-se à mesa, janta, deixa-me os restos! E depois desleixado, enxovalhado, sempre a cuspir nas esteiras... O quarto dele — nós temos dois quartos, como tu sabes — é um chiqueiro!

Luísa disse com severidade:

Que horror! A culpa também é tua.

Minha! — e endireitou-se, luziam-lhe os olhos, mais largos, mais negros.

Não me faltava mais nada senão ocupar-me do quarto do homem!

Ah! Era muito desgraçada, era a mulher mais desgraçada que havia no mundo!

Nem ciúmes tem, o bruto!

Mas Juliana entrou, tossiu, e arranjando ainda o colar e o broche:

A senhora sempre quer que engome os coletes todos?

Todos, já lhe disse. Hão de ficar à noite na mala antes de se ir deitar.

Que mala? Quem parte? — perguntou Leopoldina.

O Jorge. Vai às minas, ao Alentejo.

Então estás só, posso vir ver-te! Ainda bem!

E sentou-se logo ao pé dela, com um olhar que se fizera doce.

É que tenho tanto que contar! Se tu soubesses, filha!

O quê? Outra paixão? — fez Luísa rindo.

A face de Leopoldina tornou-se grave.

Não era para rir. Estava de todo! Era por isso até que tinha vindo. Sentira-se tão só em casa, tão nervosa! — Vou até Luísa, vou palrar um bocado!

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