—
Sim. Rua do Ouro. Adeus. — E com um gritinho: — Porta à direita.
M.me François.
Jorge voltou às cinco horas, e logo da porta do quarto, pondo a bengala a um canto:
—
Já sei que tiveste cá uma visita.
Luísa voltou-se, um pouco corada. Estava diante do toucador já penteada, com um vestido de linho branco, guarnecido de rendas Era verdade, tinha vindo a Leopoldina. Juliana mandara-a entrar... Ficara mais contrariada! Era por causa da adresse da francesa dos chapéus. Tinha-se demorado dez minutos. — Quem te disse?
—
Foi a Juliana; que a senhora D. Leopoldina tinha estado toda a tarde.
—
Toda a tarde! Que tolice! Esteve dez minutos, se tanto!
Jorge tirava as luvas, calado. Chegou-se à janela, pôs-se a sacudir as duras folhas de uma begónia malhada de um vermelho doente, com uma baba prateada. Assobiava baixo; e parecia todo ocupado em conchegar um botão de amarilis aninhado entre a sua folhagem luzidia, como um pequenino coração assustado.
Luísa ia passando o seu medalhão de ouro numa longa fita de veludo preto, tinha uma tremura nas mãos, estava vermelha.
—
O calor tem-lhes feito mal. . — disse.
Jorge não respondeu. Assobiou mais alto, foi à outra janela, bateu com os dedos nas folhas elásticas de uma macoma de tons verdes e sanguíneos, e, alargando impacientemente o colarinho como um homem sufocado:
—
Ouve lá, é necessário que deixes por uma vez de receber essa criatura.
É necessário acabar por uma vez!
Luísa fez-se escarlate.
—
É por causa de ti! É por causa dos vizinhos! É por causa da decência!
—
Mas foi a Juliana... — balbuciou Luísa.
—
Mandasse-a sair outra vez. Que estavas fora! Que estavas na China!
Que estavas doente!
Parou, com um tom desconsolado, abrindo os braços:
—
Minha rica filha, é que todo o mundo a conhece. É a Quebrais! É a Pão e Queijo! É uma vergonha!
Citava-lhe os seus amantes, exasperado: o Carlos Viegas, o magro, de bigode caído, que escrevia comédias para o Ginásio! O Santos Madeira, o picado das bexigas, com uma gaforinha! O Melchior Vadio, um gingão desossado, com
um olhar de carneiro morto, sempre a fumar numa enorme boquilha! O Pedro Câmara, o bonito! O Mendonça dos calos! Tutti quanti!
E encolhendo os ombros, exasperado:
—
Como se eu não percebesse que ela esteve aqui! Só pelo cheiro! Este horrível cheiro de feno! Vocês foram criadas juntas, etc.; tudo isso é muito bom. Hás de desculpar, mas se a encontro na escada, corro-a! Corro-a!
Parou um momento, e comovido:
—
Ora, vamos, Luísa, confessa. Tenho ou não razão?
Luísa punha os brincos, ao espelho, atarantada:
—