—
Não é mau bocado. . — disse. E acrescentou, com desdém: — Pra quem gosta daquilo!. .
Houve um silêncio. E o Paula rosnou:
—
Não são as saias que me levam o tempo, nem disto!... E bateu no bolso do colete, fazendo tilintar dinheiro. Tossiu, pigarreou, e ainda áspero:
—
Venha de lá um pataco de Xabregas.
Foi para a porta do estanco enrolar o cigarro, assobiar; mas os seus olhos arregalaram-se indignados; numa das janelas de cima na casa do Engenheiro, tinha avistado, por entre as vidraças abertas, a figura enfezada do Pedro, o carpinteiro.
Voltou-se para a estanqueira, e cruzando dramaticamente os braços:
—
E agora, que a patroa vai à vida, lá está o rapazola a entender-se com a criada! Soltou uma larga baforada de fumo, e com uma voz soturna:
—
Aquela casa vai-se tornando um prostíbulo!
—
Um que, Sr. Paula?
—
Um prostíbulo, Sra. Helena! E como se dissesse um alcouce!
E, com passos escandalizados, o patriota afastou-se.
Luísa ia enfim ao campo com Basílio. Consentira na véspera, declarando logo que era só um passeio de meia hora, de carruagem, sem se apearem. Basílio ainda insistiu, falando em sombras de alamedas, uma merendinha, relvas Mas ela recusou, muito teimosa, rindo, dizendo: — Nada de relvas!. .
E tinham combinado encontrar-se na Praça da Alegria. Chegou tarde, já depois das duas e meia, com o guarda-solinho muito carregado sobre o rosto, toda assustada.
Basílio esperava, fumando, num cupê, à esquina, debaixo de uma árvore.
Abriu rapidamente a portinhola, e Luísa entrou fechando atrapalhadamente a sombrinha; o vestido prendeu-se ao estribo, esgaçou-se no rufo de seda; e achou-se ao lado dele, muito nervosa, ofegante, com o rosto abrasado, murmurando:
—
Que tolice, que tolice esta!
Mal podia falar. O cupê partiu logo a trote. O cocheiro era o Pintéus, um batedor.
—
Tão cansada, coitadinha! — disse-lhe Basílio muito meigo. Levantou-lhe o véu; estava suada; os seus largos olhos brilhavam da excitação, da pressa, do medo..
—
Que calor, Basílio!
Quis descer um dos vidros do cupê.
—
Não, isso não! Podiam vê-los! Quando passassem as portas. .
—
Para onde vamos nós?
E espreitava, levantando o estore.
—
Vamos para o lado do Lumiar, é o melhor sitio. Não queres?
Encolheu os ombros. Que lhe importava? Ia sossegando; tinha tirado o véu ~
luvas; sorria, abanando-se com o lenço, de onde saia um aroma fresco.
Basílio prendeu-lhe o pulso, pôs-lhe muitos beijos longos, delicados, na pele fina, azulada de veiazinhas.