Redondinha? Vais-te a fazer uma bola!
E acrescentou, tristemente:
—
Também com a tua vida, um marido como o teu, regaladinha, sem filhos, sem cuidados...
—
Vamos lá, minha rica — disse Luísa —, que as tristezas não te têm feito emagrecer.
—
Pois sim, pois sim! Mas. . — e parecia desolada, como curvada sob as suas próprias ruínas — cá por dentro é uma desgraça, estômago, fígado. .
—
Se a mulher de Tui faz o milagre, põe tudo isso como novo!
Felicidade sorriu, com uma dúvida desconsolada.
—
Sabes que tenho um chapéu lindo? — exclamou de repente Luísa. —
Não viste? Lindo!
Foi logo buscá-lo ao guarda-vestidos. Era de palha fina, guarnecido de miosótis.
—
Que te parece?
—
É um primor!
Luísa mirava-o dando pancadinhas com as pontas dos dedos nas florzinhas azuis.
—
Dá frescura — fez D. Felicidade.
—
Não é verdade?
Pô-lo com muito cuidado, toda séria. Ficava-lhe bem! Basílio se a visse havia gostar, pensou. Era bem possível que o encontrassem. .
—
Veio-lhe, sem motivo, uma felicidade exuberante; achava tão delicioso viver, sair, ir à Encarnação, pensar no seu amante!. . E toda no ar, procurava pelo as chavinhas do toucador.
Onde tinha deixado as chaves? Na sala de jantar, talvez! Ia ver! Saiu correndo, tontinha, cantarolando:
—
Amici, ta notte e bella..
La ra la la. .
Quase topou com Juliana, que varria o corredor.
—
Não deixe de engomar a saia bordada para amanhã, Juliana!
—
Sim, minha senhora. Está em goma!
E seguindo-a com um olhar feroz:
—
Canta, piorrinha; canta, cabrazinha; canta, bebedazinha!..
E ela mesma, tomada subitamente de um júbilo agudo, atirou vassouradas rápidas, soltando na sua voz rachada: