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Sete!

Ai, Santo Deus!

Punha o chapéu, o véu, atrapalhadamente:

Que tarde! Jesus! Que tarde!

E amanhã, quando?

À uma.

Com certeza?

Com certeza.

Ao outro dia foi muito pontual. Basílio veio esperá-la ao fundo da escada; e apenas entraram no quarto, devorando-a de beijos:

Que me fizeste tu? Desde ontem que estou doido!

Mas Luísa estava muito intrigada com um cesto que via em cima da cama.

Que é aquilo?

Ele sorriu, levou-a pela mão junto da barra de ferro, e destapando o cesto, com uma cortesia grave:

Provisões, festins, bacanais! Não dirás depois que tens fome!

Era um lanche. Havia sanduíches, um pâté de foie gras, fruta, uma garrafa de champanhe, e, envolto em flanela, gelo.

É brilhante! — disse ela, com um sorriso quente, rubra de prazer.

Foi o que se pode arranjar, minha querida prima! Já vê que pensei em si!

Pôs o cesto no chão, e vindo para ela com os braços abertos:

E tu pensaste em mim, meu amor? Os olhos dela responderam — e a pressão apaixonada dos seus braços. As três horas lancharam. Foi delicioso; tinham estendido um guardanapo sobre a cama; a louça tinha a marca do Hotel Central; aquilo parecia a Luísa muito estroina, adorável — e ria de sensualidade, fazendo tilintar os pedacinhos de gelo contra o vidro do copo, cheio de champanhe. Sentia uma felicidade que transbordava em gritinhos, em beijos, em toda a sorte de gestos buliçosos. Comia com gula; e eram adoráveis os seus braços nus movendo-se por cima dos pratos.

Nunca achara Basílio tão bonito; o quarto mesmo parecia-lhe muito conchegado para aquelas intimidades da paixão; quase julgava possível viver ali, naquele cacifo, anos, feliz com ele, num amor permanente, e lanches às três horas. . Tinham as pieguices clássicas; metiam-se bocadinhos na boca; ela ria com os seus dentinhos brancos; bebiam pelo mesmo copo, devoravam-se de beijos — e ele quis-lhe ensinar então a verdadeira maneira de beber champanhe. Talvez ela não soubesse!

Como é? — perguntou Luísa erguendo o copo.

Não é com o copo! Horror! Ninguém que se preza bebe champanhe por um copo. O copo é bom para o Colares. .

Tomou um gole de champanhe e num beijo passou-o para a boca dela. Luísa riu muito, achou "divino"; quis beber mais assim. Ia-se fazendo vermelha, o olhar luzia-lhe.

Tinham tirado os pratos da cama; e sentada à beira do leito, os seus pezinhos calçados numa meia cor-de-rosa pendiam, agitavam-se, enquanto um pouco dobrada sobre si, os cotovelos sobre o regaço, a cabecinha de lado, tinha em toda a sua pessoa a graça lânguida de uma pomba fatigada.

Basílio achava-a irresistível; quem diria que uma burguesinha podia ter tanto chique, tanta queda? Ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas "tão feias, com fechos de metal", beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia: "não! não!" E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate; murmurou repreensivamente:

Oh, Basílio!

Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova; tinha-a na mão!

Só às seis horas se desprendeu dos seus braços. Luísa fez-lhe jurar que havia de pensar nela toda a noite: — Não queria que ele saísse; tinha ciúme do Grémio, do ar, de tudo! E já no patamar voltava, beijava-o, louca, repetia:

E amanhã mais cedo, sim? Para estarmos todo o dia.

Não vais ver a D. Felicidade?

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